Ananindeua completa 78 anos de história com raízes rurais e urbanas

A cidade faz aniversário de emancipação no dia 3 de janeiro, mas sua ocupação é bem mais antiga

Luiz Cláudio Fernandes

O município de Ananindeua teve dois tipos de colonização: a rural e a urbana. Ou seja, a cidade dos ananins não surgiu a partir da estrada de ferro, como muita gente pensa. Antes disso já existiam muitas coisas por aqui, que marcam o período de colonização rural do município, explica a historiadora Lúcia Araújo.

O que se tem de registro mais antigo da colonização rural de Ananindeua data do ano de 1710. A colonização urbana ocorreu apenas na primeira metade do século XIX. “Em 1710 já habitavam por aqui os quilombolas da Colônia do Abacatal, situada a sete quilômetros do centro de Ananindeua. Hoje, eles são os representantes da colonização rural do município, é a comunidade mais antiga de Ananindeua, ainda no século 18”, explica a historiadora.

Lúcia realizou uma pesquisa com os descendentes dos primeiros habitantes dessas terras. Por meio da narrativa oral, ela verificou que as terras foram herdadas de um senhor do engenho do Uriboca, Antonio Conde Coma Melo. Com essa propriedade começou, então, a história da comunidade. “Dizem que aquelas terras foram deixadas como herança pelo conde. Ele deixou para as ditas três Marias, filhas dele com uma escrava. O lugar é paradisíaco e até hoje os moradores mantêm o Caminho das Pedras do Abacatal, que levava o conde até a beira do rio. “A colonização rural de Ananindeua começou ali, nesse engenho. Tudo começou ali”, explica Lúcia.

Colonização urbana de Ananindeua 

Apenas na primeira metade do século XIX se deu o início do processo da colonização urbana de Ananindeua a partir do atual bairro do Maguary. “Esse bairro é o núcleo urbano mais antigo do município, é onde estão segmentadas as raízes históricas de Ananindeua”, explica Lúcia. 

Segundo ela, esse processo está estreitamente ligado à Cabanagem, pois esse movimento promoveu a migração das pessoas que fugiram dos conflitos e saíram navegando pelos igarapés seguindo o fluxo do rio Maguary. “Essas pessoas seguiram o curso do rio e se instalaram no local que hoje conhecemos como bairro Maguary. Depois vieram outros proprietários da terra e eles foram para o Distrito Industrial e outros pontos de Ananindeua”, informa. 

O título de terra mais antigo data de 1856, e marca a época da colonização urbana, na segunda metade do século XIX.

Primeira escola da cidade

Nesses tempos morou por essas bandas o afortunado Francisco Gregório de Oliveira. Suas terras correspondem à atual área do São Sebastião do Maguari. Segundo a historiadora Lúcia, ele doou as terras ao filho, José Marcelino de Oliveira, cujo nome foi dado a uma escola e a uma rua em Ananindeua. Ele foi casado com Tereza Coutinho de Oliveira, com quem teve 11 filhos e foi morar na propriedade. A sétima filha do casal, Maria do Carmo, carinhosamente conhecida como Carmita, nasceu nesse lugar.

Anos depois, a casa se transformou na Escola Quinta Carmita, a primeira escola de Ananindeua. Em 1921 o colégio foi desativado e deu lugar a uma granja, onde os proprietários passaram a comercializar leite de vaca e água mineral, de uma uma fonte do terreno. Dessa fonte foi envasada a primeira água mineral do Pará, a Água Mineral Maguari. Em 1940 cessaram as atividades produtivas da granja, que passou a servir apenas para o lazer da família Coutinho de Oliveira.

Hoje, nesse terreno há um condomínio de luxo com marina, às margens do rio Maguary. A construtora ia destruir a fonte para fazer moradias, entretanto a historiadora Lúcia conseguiu impedir, por meio judicial. “Graças à ação, a construtora foi obrigada a preservar a fonte. Infelizmente Ananindeua não conhece e não valoriza a sua história, por isso se comete esse tipo de injustiça com o patrimônio histórico do município”, diz.

Já na última década do século XIX começou a ocupação das ilhas de Ananindeua.

Berço do primeiro Círio da cidade

O primeiro núcleo religioso urbano de Ananindeua foi a capela Nossa Senhora das Graças, no bairro do Maguari, que se tornou a matriz. Era de lá que saía o Círio de Ananindeua. Em 1970, foi criada a BR-316, e foi construída a igreja de São Raimundo. Anos depois foi transferida para ela o título de Nossa Senhora das Graças. “Como o centro de Ananindeua passou a ser no entorno da BR-316, a matriz foi transferida para onde é hoje a igreja Nossa Senhora das Graças, e o Círio passou a sair de lá”, explica Lúcia. 

À paróquia do Maguari foi dado o nome de Santa Maria Mãe de Deus, haja vista que, segundo as regras da Igreja Católica, não pode haver em uma mesma Região Episcopal duas paróquias dedicadas ao mesmo santo ou santa.

 

Explosão urbana nos anos 80

O ano de 1916 foi um momento importante da colonização urbana do município. Também no bairro Maguary foi instalada a primeira indústria de curtimento de couro do Pará, o Curtume Maguary. Um dos sócios era o inglês Cloud Sound, que teve papel relevante na colonização urbana de Ananindeua, por isso uma das ruas do bairro do Maguary até hoje leva o nome dele. 

Já na década de 70 Ananindeua tinha 22 mil habitantes, segundo o censo do IBGE. Nesse período, 13% da população morava em áreas urbanas. Na década de 80, 90% passou a morar em áreas urbanas. “Essa explosão demográfica foi resultado do processo de metropolização de Belém. Hoje, quase ninguém vive na zona rural”, explica Lúcia. 

O município cresceu absurdamente e hoje tem cerca de 535 mil habitantes. Conurbado com a capital, não se sabe ao certo onde termina nem onde começa o território de Ananindeua. “A administração pública não dá conta desse boom populacional. Se torna muito difícil administrar uma cidade tão populosa. O número de habitantes de Ananindeua é maior do que de alguns países”, compara Lúcia.

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