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Abrigos inadequados em pontos de ônibus fazem população suportar calor e chuva, em Ananindeua

No município, a população espera o transporte público até em pontos improvisados

Maiza Santos e Jamille Marques

Diariamente, usuários do transporte público de Ananindeua precisam enfrentar sol e chuva nas paradas de ônibus da cidade - não raras vezes, mesmo naquelas onde existe algum tipo de cobertura. São abrigos irregulares, mal aplicados que não protegem devidamente quando chove e, quando faz sol, o calor chega a ser insuportável - é o que relatam usuários como a aposentada Lucilene Maia, de 61 anos, que estava em uma parada na avenida Arterial 18.

A aposentada comenta que o material usado para construir as estruturas nos pontos de ônibus faz com que o calor aumente. "É muito quente. Isso não era para ser assim. Eles deviam fazer uma telha para ficar mais friozinho aqui. Ainda mais que eu tenho problemas de saúde, passo pela menopausa e suo muito. Isso aumenta ainda mais. Elas não são adaptadas para esse clima", relata a moradora.

image Aposentada Lucilene Maia, de 61 anos (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

Segundo Lucilene Maia, que sempre procura os abrigos ao esperar os ônibus, a situação piora quando está chovendo. Ela diz que as estruturas não têm proteção e quem está na parada acaba se molhando de qualquer jeito. “Não tem como se proteger. A gente acaba tomando banho na chuva, essa é a verdade. Tem gente que chega com sombrinha para tentar evitar a chuva aqui debaixo da parada, mas nem assim dá jeito. No dia a dia, para quem depende do transporte público, é difícil. Além disso, geralmente a gente costuma demorar esperando o ônibus nessa parada. Então, essa falta de estrutura deixa tudo ainda mais difícil. Estamos sujeitos a roubos e assaltantes, que esperam só uma oportunidade para furtar algo. A situação é complicada nessas paradas expostas aqui”, diz Lucilene Maia.

A moradora aponta que, em outras cidades, as paradas de ônibus oferecem o devido conforto aos usuários dos ônibus. “Uma parada boa é a que a gente consegue ficar protegida do sol e da chuva. Uma parada adequada é que nem a do Rio de Janeiro ou a de São Paulo, que eu vi quando fui lá. Tudo de bom, tem ar-condicionado. Ela é fechada com vidros que ainda protegem as pessoas. Aqui em Ananindeua essas paradas são pequenas e, como são muitas pessoas, ficam apertadas”, conta.

image No município, a população espera o transporte público até em pontos improvisados (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

A aposentada enfatiza, ainda, que a situação fica pior para quem tem mais idade. “Em outros lugares, o idoso tem preferência. A gente que tem deficiência consegue sentar. Aqui a gente passa mal. Não deveria ser essa situação. Aqui é barata, centopeia, é rato passando pelo nosso pé. A parada é deteriorada. Quando chove, tem até que tirar o tênis que enche tudo. Eu, quando está chovendo, eu saio de casa já com uma sandália dentro da minha bolsa. Brevemente, vou ter que comprar uma bota”, denuncia a aposentada.

Outra moradora que descreveu os problemas nas paradas de ônibus em Ananindeua é a secretária Stephany Braga, de 24 anos. Ela relata que inúmeras vezes as pessoas precisam ir para a frente de estabelecimentos comerciais procurar abrigo, devido às paradas de ônibus não serem adequadas. “Atualmente, eu costumo pegar ônibus duas vezes na semana, mas eu já peguei ônibus aqui todos os dias. A gente não tem paradas adequadas. Essa parada aqui praticamente ninguém fica, as pessoas preferem ficar na frente do conjunto ou ali perto do lanche, que tem uma cobertura. Nessa parada aqui fica desprotegido do sol e da chuva”, afirma a secretária.

Ao fazer o relato, Stephany estava em uma parada de ônibus na Avenida Hélio Gueiros. Ela conta que a estrutura não oferece condições para que os usuários do transporte público consigam esperar com o mínimo conforto, por ser um abrigo praticamente improvisado. “Essa é uma parada de ferro, que não é adequada. Ela é bem ruim, fica muito quente. Tem dias que o ônibus demora muito, como hoje. Eu já cheguei aqui faz uns 20 minutos e ainda não passou um ônibus. Para quem depende dessa estrutura no dia a dia, eu acho que deveria melhorar”, ressalta.

Segundo Stephany, os moradores da área chegaram a acreditar que as paradas vão melhorar, mas a situação continua igual. “Esperamos que fossem feitas obras para melhorar as paradas de ônibus aqui em Ananindeua, mas todas são ruínas. E aqui no 40 Horas foi um lugar que não melhorou. Tem essa parada aqui, tem uma parada ali na frente, que é pior ainda. Lá é um cercadinho. Tem muita gente que vem de lá para cá, já que a de lá é muito pior. E todos estão em péssimas condições. Tem uma outra que é num comércio, então não é bem uma parada. Só chamam assim, mas lá não existe estrutura nenhuma”, descrevendo a jovem.

A moradora também acredita que o material usado para construir as estruturas necessárias precisa mudar. “Esse é um problema frequente por aqui. A gente mora numa região muito quente. Eu não sei qual seria o material mais adequado para que fossem feitas as paradas de ônibus, mas, realmente, de ferro não dá. Nesse calor horrível, tem que melhorar. Nós pagamos impostos e não vemos um retorno aqui. Essa melhoria tem que ser em muitas áreas da cidade”, declarou Stephany.Os abrigos de ônibus em Ananindeua, são adequados ao nosso Clima?

Abrigos precisam atender às necessidades locais, diz especialista

De acordo com especialista, os abrigos de pontos de ônibus precisam ser projetados pensando nas demandas do local onde serão implantados. A professora Louise Barbalho Pontes, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) destaca que os abrigos devem ser feitos de maneira estratégica, com infraestrutura adequada e seguindo padrões de acessibilidade. “Os abrigos de ônibus são fundamentais no mobiliário urbano e devem ser fornecidos pelo poder público de maneira equitativa, garantindo infraestrutura adequada ao clima local, acessibilidade e conforto da população”, explica. Segundo a professora, a falta de planejamento pode comprometer a eficiência desses espaços e até gerar riscos. “Iniciativas pontuais, mal distribuídas ou com infraestrutura inadequada não funcionarão bem para a cidade e podem colocar as pessoas em risco”, alerta.

Abrigos inadequados fazem população suportar calor e chuva, em Ananindeua

A distribuição desses pontos também deve ser pensada para facilitar o acesso da população. “O ideal é que os abrigos estejam a cada 500 metros, permitindo que idosos e pessoas com crianças consigam se deslocar com facilidade”, destaca Louise. Além disso, ela ressalta a importância de itens complementares, como calçamento adequado, iluminação pública e informações acessíveis sobre as linhas de ônibus. “Os abrigos devem ter pavimentação adequada, iluminação pública e atender às normas de acessibilidade, incluindo lixeiras e informações claras sobre as linhas de ônibus, como mapas e orientações em Braille.”

Nos últimos anos, algumas cidades têm adotado inovações tecnológicas nos abrigos de ônibus, como ar-condicionado, tomadas e telas informativas. No entanto, Louise chama atenção para o fato de que essas melhorias, muitas vezes, não chegam às áreas periféricas. “Algumas cidades implantaram abrigos sofisticados nas áreas centrais, mas não qualificam aqueles das periferias. Precisamos pensar no sistema como um todo”, pontua.

Em uma cidade de clima quente como Belém, a climatização desses espaços pode parecer uma solução ideal, mas a professora reforça que há alternativas para garantir conforto térmico. “O calor intenso torna a ideia de abrigos climatizados atraente, mas bons projetos podem garantir conforto térmico com ventilação e sombreamento eficientes, sem depender de climatização artificial”, conclui.

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