Idosa é resgatada após passar 72 anos em situação análoga à escravidão

Agora com 86 anos, ela trabalhava desde os 12 para a mesma família. O atual empregador alegou que “ela era como se fosse da família”

Emilly Melo

Uma idosa de 86 anos foi resgatada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em situação análoga à escravidão, após 72 anos de trabalho para a mesma família, sem nunca ter recebido salário e nem outros direitos trabalhistas. O MP chegou até a idosa após uma denúncia anônima. Ela está sob os cuidados da prefeitura desde o dia 15 de março, mas ainda tem dificuldades em entender o que aconteceu. 

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A idosa nunca teve direito a férias, 13° salário, FGTS, e nem ao menos uma cama. Ela dormia em um sofá durante todo o tempo em que trabalhou para as 3 gerações da família, sem conhecer os direitos. 

“Ela não tem qualquer noção de que foi escrava esses anos todos”, disse Cristiane Lessa, diretora da central de idosos da Secretaria Municipal de Assistência Social que está acompanhando o caso.

A vítima chegou na família quando tinha 12 anos, vinda de Vassouras (RJ), e desde então nunca teve amigos, namorou, nem teve filhos, ou sequer contato com os familiares. Além disso, a idosa ainda trabalhava como cuidadora de uma senhora que tem a mesma idade que ela.

O atual empregador, o neto da mulher de quem a idosa cuidava, alegou que “ela era como se fosse da família”.

“Esse é o mais longo período da história de trabalho escravo no Brasil. Nosso desafio agora é ressocializar a vítima. Já encaminhamos o relatório de toda a ação para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal. Cabe a eles avaliar se houve crime ou não. Se esse empregador, neto da senhora que a vítima cuidava, for condenado, a pena é de reclusão de dois a oito anos”, explicou ao Metrópoles Alexandre Lyra, Auditor Fiscal do Trabalho que fez o resgate dessa idosa.

Caso a operação tivesse sido acompanhada pela polícia, o empregador poderia ser autuado e detido em flagrante.

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“É muito comum que essas vítimas sintam saudade e queiram voltar para o lugar de onde vieram, mesmo em condições precárias. Quando nós informamos que ela não voltaria mais, a vítima começou a dizer desesperada que estava bem, que sente saudade e pediu para voltar porque tinha que dar café da senhora que cuidava, banho e remédio. É como se ela sentisse uma dívida com essa família. Ela achava que não podia deixar aquela casa, deixar se cuidar daquela senhora. Isso acontece muito, justamente porque aquele lugar é a referência, é a vida que elas tinham”, explica o auditor.

Uma irmã e uma tia da vítima que moram em Vassouras, interior do estado, já foram identificadas. Agora, será avaliado se essa senhora vai viver com elas ou se vai seguir com sua própria vida no abrigo.

(*Emilly Melo, estagiária, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do Núcleo de Política)

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