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Brasil e Venezuela, a ruptura de uma relação histórica

Analistas veem o futuro dos países como 'sombrio'

Barbara AGELVIS/AFP
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O veto do Brasil à entrada da Venezuela no Brics foi a gota d'água que rompeu uma relação histórica: Caracas denuncia uma “agressão”, enquanto Brasília fala em “quebra de confiança”, após a contestada reeleição de Nicolás Maduro, que não é reconhecida, mas também não é condenada.

E o futuro bilateral se apresenta como “sombrio”, concordam analistas.

A Venezuela evitou se pronunciar publicamente sobre os apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por maior transparência na apuração dos votos das eleições de 28 de julho, que a oposição classificou como fraudulentas e nas quais reivindicou vitória; a situação, no entanto, se agravou após o bloqueio do Brasil às aspirações de Caracas de ingressar no bloco.

É “uma agressão”, “um gesto hostil”, “inexplicável e imoral”, denunciou em um comunicado que não se dirige diretamente a Lula, mas apenas ao Itamaraty.

A Venezuela insiste em que contava com o “apoio e respaldo dos países participantes desta cúpula para a formalização de sua entrada” no Brics. O Brasil foi o obstáculo.

“Quebra de confiança” 

O veto foi uma resposta a uma “quebra de confiança”, disse o ex-chanceler e hoje assessor de Lula, Celso Amorim, em entrevista ao jornal O Globo.

Amorim indicou que Maduro prometeu a Lula divulgar a apuração detalhada das eleições de 28 de julho, mas, até o momento, a autoridade eleitoral venezuelana não a publicou, apesar da exigência da lei.

“A quebra de confiança foi uma coisa grave. Nos disseram uma coisa e não foi feita (...) Com a Venezuela quebrou-se a confiança”, reafirmou Amorim.

Lula foi um aliado histórico da Venezuela chavista, primeiro do falecido Hugo Chávez (1999-2013) e depois de seu sucessor Maduro. Ao voltar ao poder em 2023, celebrou uma “nova época” nas relações bilaterais, rompidas durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2023).

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O presidente venezuelano chegou inclusive a visitar Brasília, onde foi recebido com honras de chefe de Estado.

“O futuro da relação é bastante sombrio”, disse à AFP o especialista em direito internacional e diplomacia Mariano de Alba. “É evidente que a relação vai continuar existindo, embora de forma muito limitada, porque não há interesse em uma ruptura total ou isolamento”.

“Há um distanciamento, o governo venezuelano acusou até mesmo o presidente Lula de repetir condutas que o ex-presidente Bolsonaro adotou”, destacou o internacionalista Luis Daniel Álvarez, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV).

A relação já havia sofrido outro golpe em setembro, quando Caracas revogou a autorização dada ao Brasil para representar a Argentina no país e, em particular, para gerir a residência de sua embaixada, onde se refugiam, desde março, seis colaboradores da líder oposicionista María Corina Machado, enquanto aguardam um salvo-conduto para deixar o país.

De Alba prevê “uma relação entre dois vizinhos com amplas diferenças que se entendem apenas para o mínimo e indispensável”.

“Assim será até que o governo venezuelano esteja disposto a fazer algumas concessões importantes, como conceder o salvo-conduto aos asilados na embaixada da Argentina”, acrescentou.

Consenso 

Para a inclusão da Venezuela no Brics, era necessário consenso, segundo o presidente russo e aliado de Maduro, Vladimir Putin, que espera que a situação entre Caracas e Brasília “se resolva”.

“A Venezuela luta por sua independência, por sua soberania. Consideramos que o presidente Maduro ganhou as eleições e as ganhou honestamente e lhe desejamos sucesso”, acrescentou Putin.

O governante russo disse, ainda, que o Brics chegou a um acordo sobre uma lista de futuros países associados, aos quais enviou uma oferta. “Assim que recebermos uma resposta positiva, anunciaremos quem está nessa lista”, expressou.

Afetada por uma crise econômica interminável, a Venezuela buscava há meses ser um membro ativo do Brics. Maduro viajou a Kazan para se reunir com os parceiros do bloco também em busca de investimentos para seu país.

O bloco foi fundado em 2009 com quatro membros: Brasil, China, Índia e Rússia, aos quais a África do Sul se juntou em 2010. Em 2024, somaram-se Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes.

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