Pecuaristas de Xinguara, no Pará, usavam PIX de loja de informática para financiar atos golpistas
Depósitos iam para a USA Brasil, loja da cidade que é associada ao empresário Ricardo Pereira da Cunha
Fazendeiros da região de Xinguara, no sul do Pará, divulgavam o PIX de uma loja de informática para arrecadar verbas para atos antidemocráticos e direcionavam os depósitos para a USA Brasil, loja da cidade que é associada ao empresário Ricardo Pereira da Cunha, conhecido como "Ricardo da USA Brasil". As informações são do Uol.
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A reportagem aponta que trechos de conversas de WhatsApp, obtidos pela Repórter Brasil, e vídeos publicados em redes sociais revelam o empenho de empresários para levantar recursos e manter acampamentos no Pará e em Brasília (DF), onde radicais pediam intervenção militar contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O empresário mencionado foi citado por um dos três envolvidos no atentado a bomba na capital federal, em dezembro. Quando foi preso, George Washington de Oliveira Sousa, também do Pará, disponibilizou à Polícia os números de dois empresários do Estado para avisar do ocorrido, e um deles era Cunha, segundo o jornal Correio Braziliense.
Embora não seja investigado pelo atentado, o empresário faz parte do Direita Xinguara, movimento que faz campanha pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e espalha outdoors atacando Lula e a esquerda.
Conversas
Ainda de acordo com a apuração do site, empresários ligados ao movimento Direita Xinguara espalharam a vaquinha na conta da USA Brasil para financiar ações golpistas ao menos desde novembro - é o que mostram as conversas privadas acessadas. Enric Juvenal da Costa Lauriano é um dos empresários empenhados na arrecadação e participou pessoalmente do ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
"Ó que lindo, que lindo! O povo tomando aqui, ó!", exclamou Lauriano, enquanto gravava a tomada do Congresso Nacional. As imagens foram transmitidas em seu Instagram. Lauriano não consta na lista de presos após o ato de Brasília. Em 2020, ele tentou se eleger prefeito de Xinguara pelo PSL e, no ano passado, foi candidato a primeiro suplente de senador na chapa encabeçada por Flexa Ribeiro (PP-PA).
Pouco mais de uma semana após o segundo turno das eleições presidenciais, no dia 7 de novembro, o empresário encaminhou em um grupo de WhatsApp o número da chave PIX da USA Brasil para "quem quiser ajudar nas despesas de Marabá" - onde fica o 52º Batalhão de Infantaria de Selva, um dos principais pontos de protestos no Pará. Veja trecho da conversa:
Lauriano, que declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 3,3 milhões, é dono da JP Construtora, mas está enveredando pelo garimpo. Segundo a reportagem do Uol, a Agência Nacional de Mineração (ANM) lhe deu permissão, em agosto passado, para extrair minério de ouro no Pará por cinco anos. A riqueza da família, porém, vem do boi. Ele é filho de Onício Lauriano, pecuarista com fazendas em pelo menos três municípios do sul do Pará.
O pai, no mesmo grupo de WhatsApp, também chegou a compartilhar, em 9 de dezembro, uma "rifa de um touro Senepol e uma bezerra Nelore em pro [sic] da manifestação em Brasília". Com custo de R$ 200, a rifa vendeu mais de cem bilhetes, e a arrecadação foi feita pela conta bancária da USA Brasil. Veja trecho:
'Ricardo da USA Brasil'
Embora Cunha seja conhecido como "Ricardo da USA Brasil", a empresa está cadastrada na Receita Federal em nome de outra pessoa. Antes de arrecadar verbas para ações golpistas, a USA Brasil foi usada para diversas ações do grupo Direita Xinguara. Ali, por exemplo, foi um ponto de coleta de assinaturas para filiação ao Aliança Pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou criar, sem sucesso. Cunha, que foi pré-candidato a vice-governador do Pará pelo Pros em 2022, também usou o espaço para fazer campanha para o ex-presidente no ano passado.
A militância de Cunha, no entanto, se estendia até Brasília, com presença constante no acampamento golpista em frente ao QG do Exército, segundo suas redes sociais. Em dezembro, ele postou vídeo exaltando um empresário que estaria garantindo a doação diária de frutas e legumes para o acampamento. O plano de colocar uma bomba em um caminhão na capital federal teria sido articulado no acampamento do QG.
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