Observadora da ONU defende integração entre países que têm porções da floresta amazônica
'Os problemas ambientais não param na fronteira', diz a coordenadora residente do Sistema ONU no Brasil, Silvia Rucks
Por 12 dias, até a última sexta-feira (18), no Egito, lideranças e representantes de 196 países discutiram sobre o meio ambiente, na Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, a COP 27. A exuberância da riqueza natural do Brasil, e, em especial, a biodiversidade da Amazônia perpassou por vários debates, a reportagem de O Liberal ouviu a coordenadora residente do Sistema ONU no Brasil, a uruguaia Silvia Rucks, sobre desafios e perspectivas para a região amazônica. Silvia Rucks é a coordenadora residente do Sistema ONU no Brasil, desde maio de 2021, antes, ela viveu por cinco anos em posto equivalente no Chile (2016-2021), onde também serviu como representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) na primeira metade do mandato.
Como observadora da ONU, e estando no Brasil, como a senhora vê a representatividade do Brasil na COP-27, que dispunha de três estandes institucionais, um do governo federal, um da sociedade civil organizada e outro da Amazônia Legal?
"Eu já participei de várias COPs, então a gente tem informações, experiências e pode comparar, não? Eu acho que realmente é bom, porque mostra um pouco a realidade do Brasil. O Brasil é um país tão grande, continental, que são vários países, e ele tem diferentes setores. É a primeira vez que um consórcio interestadual da Amazônia Legal têm um papel (na COP). A sociedade civil sim (já tinha participações)".
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A senhora percebe uma tentativa de integração maior entre os estados da Amazônia Legal, brasileira? O Fundo Amazônia é um resultado disso?
"O Consórcio Interestadual Amazônia Legal é um exemplo para o mundo. Muitas pessoas perguntam, querem conhecer a experiência porque acham que é muito bom. Uma coisa que a gente aprendeu para o desenvolvimento sustentável, você precisa sim ter políticas públicas nacionais, mas precisa também, depois, de políticas no nível estadual, e, também, municipal, local. Elas são muito importantes e são complementares, especialmente, num país tão diverso como o Brasil, então, tem que ter olhares diferentes para realmente conseguir responder às necessidades das pessoas".
São realidades diferentes, não é mesmo?
"Sim, por isso, é necessário este tipo de proposta diferente para responder às necessidades específicas de cada comunidade, cada estado, cada povo. Não há um projeto como uma receita".
O próximo passo considerando alguns painéis aqui na COP 27, a senhora acha que é possível a integração com outros países que têm a floresta amazônica? Como fazer?
"É fundamental, porque realmente o Brasil tem a proporção maior (da Amazônia), mas países como a Colômbia, Peru, Suriname, Guiana e Venezuela têm porções da Amazônia. Então temos que considerar o território amazônico. Aqui, a gente está oferecendo um modelo, que é como trabalhar para responder às necessidades. A ideia é convidar os outros países para trabalharmos juntos. Porque o problema ambiental não para na fronteira".
Para encerrar, como você sai daqui, mas entusiasmada? Como você está vendo o tema amazônico?
"Eu tive a oportunidade de participar das primeiras COPs 27, e quando eu vejo o que aconteceu aqui, em Sharm El Sheikh, eu acho incrível o número de pessoas. É impressionante. Você vê a cada ano mais pessoas realmente interessadas nos assuntos ambientais, de mudanças do clima, mas também comprometidas, envolvidas. Acho que temos, que, talvez, tentar mudar a parte mais cultural, individual, não é?. O que a gente vê mesmo aqui (na própria COP 27) é que temos de fazer muitas coisas com relação ao uso do plástico, do papel. A gente não deveria, a gente tem que realmente se alinhar com propostas mais sustentáveis. Mas, é impressionante a qualidade dos debates, das apresentações, esta COP é muito, muito boa".
Que recado você pode deixar para quem é do Pará, da Amazônia, do Pará, para quem vai ler esta entrevista?
Eu realmente gostaria de enviar uma mensagem, porque o governador (do Pará) me convidou para ir visitar o estado. Eu já fui, mas não como visita oficial, então é um convite. Eu gostaria realmente de ter a oportunidade de sentar para escutar. Para a gente (ONU) é fundamental oferecer um valor agregado, temos que entender. Então, eu gostaria sim de aceitar o convite do governador e ter reuniões com diferentes setores da sociedade civil, do setor privado, do poder público, para realmente poder entender e contribuir com o valor agregado que temos. Temos um valor agregado enorme para oferecer às ações que vocês estão implementando no Estado do Pará".
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