A história do outro; lugar de aprendizagem para nós
E meu desejo é que a história encontre algum espaço de aconchego em você
O tempo passou, já tem mais de um ano. Mas todo dia floresce algo novo desse fato que já parece antigo para quem está fora dele e caçula para mim. E meu desejo é que a história encontre algum espaço de aconchego em você.
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Quantas sensações cabem num acontecimento que cria outra versão da gente? E eleva a consciência com uma dinâmica lúcida sobre o que sonhamos e como a realidade vai se desenhando bem diante dos nossos olhos? E é com energia para esse enfrentamento que nasce outro ser mais amadurecimento e engajado nesse processo de transformação.
Um episódio impacta muitos ângulos de nós e nessa hora acontecem infinitas descobertas de quem somos de fato e todas as novas possibilidades que ganham força para serem reveladas. Por isso dedico cada linha a cada um que nesse momento recebe na vida algum desafio que trouxe um capítulo inédito para sua vivência. E é a fé em Deus, na vida, nas pessoas, em nós que colhe em momentos ásperos: crescimento espiritual. Então, deixa eu te contar...
Meu útero partiu.
Como a ligação de urgência que faz a gente sair de onde queria ficar.
Do jeito ansioso quando a mensagem aguardada não chega.
Me deu uns sinais de esgotamento como na relação que fingimos ser gostosa, mas no fundo não tem a profundidade para nos embalar na dor.
Ele partiu.
Saiu. Fechou a porta.
Fiz tudo que podia para evitar. Fui no limite.
Estrangulei as emoções rasgando o peito de dor como quem tonteia com a má notícia inesperada.
O desalinho entre o sonho e a realidade.
Embalei tantos bebês.
Amamentei outros tantos.
Fiz vários enxovais bordados em muitos delírios acordada programando cores, nomes.
O útero é a casa que chega arrumada dentro da gente.
O espaço silencioso à espera de outra pessoa.
O vazio do útero também trouxe muitos vazios para a alma.
Cada dia tentando salvá-lo era a busca de salvar sonhos que não tinham mais tempo de realizar.
Como perder o voo da viagem tão esperada. Dá aquele susto, depois vem as justificativas para acalentar o desânimo de quem já queria estar em outro lugar.
Meu útero ficou vazio de gente, nunca de amor.
O amei até nos largarmos. O amo em memória de tê-lo estado em mim como presente de Deus entregue no endereço do meu corpo.
Ele partiu e abriu esse espaço para nascer novos sonhos.
Alimentar novos caminhos.
Não sinto mais vazio. Sinto casa ocupada de amor.
Esse processo todo foi testemunhando a barriga estonteante da minha sobrinha Jordana crescer, zelando a vida que chega: Betina. Que gloriosa já completou seu primeiro ano conosco.
A cada mês que meu útero estava mais próximo de partir a estupenda gestação na minha frente se apresentava. Como o milagre da ocupação dos espaços em mim vazios.
Meu corpo físico foi a lona. Muitas vezes. Só eu sei. Nenhum relato me ajudaria a fazer alguém entender essa experiência.
Minha alma estupefata olhava para mim assustada, como quem quer fugir de mim para não se sentir tão perdida.
Corpo e alma foram juntos até o fim.
E unidos seguem para parir todo o recomeço.
Há sempre um a nossa espera.
O útero partiu. E coração expandiu de amor.
O outubro é rosa, cuide-se.
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