Pará registra 237 novos casos de câncer de próstata em 2024; veja dicas para prevenir a doença
Um entrave é a falta de cuidado dos homens com a saúde, diz oncologista oncologista Monique Deprá
Até agosto de 2024, foram contabilizados 237 novos casos de câncer de próstata, no Pará. Em 2023, 642 casos. E, em 2022, 622 casos da doença. Os números são da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Para consultas com urologistas, as unidades de referência são a URE Doca e a URE Presidente Vargas, enquanto o Hospital Galileu e o Hospital Abelardo Santos oferecem biópsias. Já a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que os pacientes que apresentam qualquer alteração nos exames realizados na rede de atendimento sob gestão municipal são encaminhados para unidades de referência nesse tipo de tratamento, sob gestão estadual e federal, como o Hospital Barros Barreto.
Sobre o PSA, exame ofertado pela rede municipal para a população masculina na faixa etária de 45 anos (com histórico de câncer na família) e acima de 50 anos, a Sesma informa que disponibiliza mensalmente 3.760 procedimentos, totalizando cerca de 45.120 exames por ano. A Sesma reforça que, durante a campanha Novembro Azul, estará intensificando as ações de prevenção e atendimento ao câncer de próstata e à saúde integral do homem nas unidades de saúde. O público masculino pode procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.
A Sespa acrescenta que, em 2022, houve 371 mortes por câncer de próstata, no Pará. Em 2023, 429 mortes. E, até outubro de 2024, 333 óbitos pela doença. A diferença do número de casos e mortes é por conta da subnotificação. Exemplo: algumas pessoas estão com a doença não apresentam sintomas e, por isso, não procuram um médico nem fazem o teste. Outras pessoas podem morar em áreas onde é difícil ter acesso ao diagnóstico, então esses casos não entram nas estatísticas. Com isso, às vezes, ocorre da pessoa descobrir a doença já muito tarde. E acaba que as mortes se tornam maior do que o número de casos.
A oncologista Monique Deprá, de Belém, disse que, a cada dia, 196 brasileiros, em média, recebem o diagnóstico de câncer de próstata. Em um ano, são 71.730 mil casos novos, de acordo com a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o triênio 2023/2025. O câncer de próstata é o segundo tipo mais incidente na população masculina em todas as regiões do País, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Um homem morre a cada 38 minutos por causa do câncer de próstata, afirmou.
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O PSA (exame de sangue) e o toque retal são os mais importantes
É fundamental para diagnosticar a doença do começo e, assim, assegurar chances de cura superiores a 90%. Dentre os sinais de alerta presentes, diz Monique Deprá, os mais comuns são: dificuldade para urinar, sangue na urina, diminuição do jato urinário, necessidade de urinar várias vezes durante o dia e a noite. O rastreamento do câncer de próstata consiste em se consultar com um urologista anualmente (regra geral), a partir dos 50 anos. O médico vai solicitar exames. O PSA (exame de sangue) e o toque retal são os mais importantes e serão solicitados de acordo com os critérios do urologista.
Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pela alteração percebida no toque retal, informou a oncologista. Mas a adesão dos homens aos exames de próstata é baixa. Segundo uma pesquisa inédita realizada em todo o Brasil pela farmacêutica Apsen, em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia, com homens com mais de 50 anos, 80% dos entrevistados disseram que conhecem o exame de toque retal, mas em 2023 menos de 40% dos entrevistados realizaram exames de próstata. Os dados levantados apontam ainda que 36% dos entrevistados nunca realizaram toque retal, PSA ou ultrassonografia, exames que podem detectar nodulações e alterações no formato e consistência da próstata.
A SBU também fez um levantamento acerca da percepção masculina sobre saúde, que apontou que 1 em cada 7 indivíduos do sexo masculino no Brasil ainda teme o exame de toque. O preconceito é a principal barreira para a adesão às políticas públicas de saúde do homem. 77% dos entrevistados concordam totalmente que os homens não fazem exame de toque retal por preconceito.
Um entrave é a falta de cuidado dos homens com a saúde. Ainda segundo a oncologista, a prevenção se dá através da prática regular de atividade física, manter uma alimentação saudável, evitando gorduras saturadas e trans, e carnes vermelhas em excesso. Não fumar. Evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Manter um peso corporal adequado. Consultar seu médico regularmente para fazer exames de rotina.
Importância dos exames de rotina para os homens
“O câncer de próstata pode ser tratado de duas formas, simplificando o tratamento. Se for um tratamento localizado - ou seja, um tumor para tratamento curativo, que é um tumor que esteja apenas ali no sítio da próstata, sem sítios de metástases -, a gente faz ou um tratamento combinado de bloqueio de hormônio com radioterapia, nos casos que não podem ser operados, ou a retirada da próstata, que é um procedimento cirúrgico chamado prostatectomia radical”, disse. “Quando o tumor está fora da próstata, ou seja, está no osso, tem lesão no fígado, tem lesão em outros locais, a gente não consegue operar porque tem lesões em outros locais. Nesse caso, o tratamento é um tratamento sistêmico e o tratamento vai ser definido pelo oncologista que está avaliando o caso”, afirmou Monique Deprá.
Especialista em clínica médica, William Rodrigues Costa diz que o Brasil é o único país da América Latina que tem uma política de saúde pública voltada à saúde do Homem, gerido pelo ministério da Saúde. E no mês de outubro, as ações se intensificam, com vistas à promoção e prevenção de saúde do homem, as quais incluem desde acolhimento inicial, discussão sobre sexualidade e planejamento familiar, prevenção de violências e acidentes, atualização de calendário vacinal, até a realização dos exames mais direcionados às diversas patologias.
Dentre essas avaliações, temos os exames laboratoriais de rotina, como hemograma, função renal, função hepática, rastreio de diabetes e taxas de colesterol e triglicerídeos, mas também podem incluir função tireoideana, sorologias virais como Sífilis, HIV ou hepatites e, para homens com mais de 50 anos, o PSA para acompanhamento prostático. Também são realizadas avaliação da pressão arterial e exame físico completo com análise de IMC e perímetro abdominal, ou outros exames de imagem ou cardiológicos, a depender da necessidade, para identificar precocemente quaisquer patologias e tratá-las da melhor forma possível.
Ele afirmou que, tendo em vista que a população masculina pouco busca atendimento médico de modo rotineiro e regular, ao contrário ao público feminino, gerando maior número de óbitos e doenças incapacitantes preveníveis no sexo masculino, é de grande importância que, em uma única consulta, a avaliação médica seja bastante ampla e profunda, para auxiliar de forma mais efetiva. “E, levando-se em consideração que o câncer de próstata é o segundo mais incidente e o segundo que mais mata a população masculina, o rastreio na idade adequada, a partir dos 50 anos para população geral e 45 anos para os que tiveram parentes de primeiro grau com diagnóstico da doença, o rastreio adequado é muito importante e auxilia no tratamento e qualidade de vida do homem”, afirmou.
Bancário aposentado alerta para importância do exame de toque
"Não tenha medo, faça o exame do toque. Não fique com vergonha. Sua vida é mais importante". É o que afirma o bancário aposentado Luiz Claudio Alexandre, 62 anos. Ele sempre fez os exames anuais, era uma exigência do banco onde ele trabalhava, mas fazia apenas o PSA. Nunca fez o exame de toque.
Ele se aposentou em 2015 e dois anos depois, começou a ter dificuldades para urinar, dores nas costas e sêmen escurecido. Procurou um médico que avaliou como pedra nos rins, mas como não melhorava com medicação, foi encaminhado ao urologista. O exame de PSA apontou taxas elevadas e o urologista decidiu fazer o exame de toque - o primeiro em toda a vida de Luiz Claudio. Foi o suficiente para o médico solicitar uma biópsia.
‘Fiquei com muito medo, mas fiz. O diagnóstico de câncer de próstata foi confirmado, mas não quis aceitar. Saí do médico em negação”, contou. Ele procurou outro médico para uma segunda opinião, que também confirmou o diagnóstico. Mesmo assim, Luiz Claudio passou dois meses sem voltar ao urologista, e tomando chás e tudo o que indicavam contra o câncer. Na verdade, não queria ser operado. Mas não melhorava, a dificuldade para urinar se agravou.
De volta ao urologista, a cirurgia foi marcada para 23 de maio de 2017, seguida de 33 sessões de radioterapia e medicações de bloqueio hormonal para controle do PSA. Em 2020, Luiz Claudio teve covid, ficou internado por uma semana com o pulmão comprometido. Continuou o controle de PSA até dezembro de 2023, quando nos exames de imagem de controle, perceberam uma mancha aumentada no pulmão e confirmou uma metástase. Atualmente, faz quimioterapia oral e continua o bloqueio hormonal a cada 3 meses.
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