Domingo na Praça da República tem artesanato amazônico, cultura pop e turistas encantados
Artesãos misturam tradição, inovação e resistência em um dos pontos mais icônicos de Belém, e não foi diferente nesse domingo (13)
Domingo também é dia de celebrar a arte feita à mão. Na Praça da República, em Belém, essa tradição se renova a cada semana — e neste domingo (13) não foi diferente. O espaço ficou movimentado, reunindo artesanatos para todos os gostos e idades, com destaque para biojoias com materiais da Amazônia, roupas com inspiração indiana e artigos de papelaria que fazem sucesso entre a geração Z, como os temáticos de K-pop. Entre os visitantes, havia desde turistas encantados com a praça pela primeira vez, até frequentadores assíduos que já fazem do local um ponto de encontro.
Biojoias atraem turistas e produtos viajam o mundo
Cíntia Rosa, de 52 anos, é artesã e encontrou no trabalho manual uma nova forma de viver após perder o emprego pouco antes da pandemia. Hoje, ela transforma materiais naturais da Amazônia em bijuterias e biojoias vendidas na Feira da Praça da República.
"Eu não tinha como sobreviver, não tinha mais aquele salário no fim do mês, então comecei a fazer terços, tudo manual. Depois, passei para pulseiras, colares… fui enveredando nesse hobby que hoje me dá um extra nos domingos. Antes eu era visitante, agora a Prefeitura está colocando a gente como fixo, se Deus quiser", conta.
As peças de Cíntia são feitas com pedras naturais, sementes da Amazônia e toques de criatividade própria — ela mesma desenha os colares que fabrica. "Agora estou confeccionando muito com pedras da nossa região, sementes da Amazônia, que estão em alta. Mas, como eu gosto muito de cristal e pedra natural, comecei a usar também resina e estou diversificando um pouco com semijoias. Cada semana tem uma peça diferente, nunca gosto de repetir", explica.
VEJA MAIS
Segundo ela, os turistas se encantam com os produtos locais e costumam comprar mais do que os próprios belenenses. Ainda, a artesã se emociona ao ver que o trabalho ultrapassa fronteiras. Com frequência, atende paraenses que compram peças para presentear parentes e amigos no exterior. Só nas últimas semanas, colares e semijoias dela seguiram para países como Portugal e Itália — um reconhecimento que ela recebe com gratidão.
Artesanato para todos os públicos
A artesã Thaynara Miranda, de 29 anos, é apaixonada por papelaria e fez dessa paixão o próprio negócio. Depois de perder o pai na pandemia, ela investiu o dinheiro da herança em um sonho antigo: criar itens personalizados como cadernos, bloquinhos, post-its e canecas. O processo de produção é todo por conta da artesã, desde o design das capas até o corte e impressão das folhas. “A nossa principal matéria-prima são papéis prensados, que viram capas durinhas. É tudo manual”, explica. Um único caderno pode levar até dois dias para ficar pronto.
Entre os itens mais procurados da barraca, os bottons de K-pop, música sul-coreana, são os grandes campeões de vendas. “Essa febre começou com os doramas, novelas da Coreia do Sul que estouraram no ano passado. Muita gente começou a procurar bottons e acabou puxando o K-pop junto”, conta. Para Thaynara, o movimento de domingo na feira costuma variar bastante, mas mesmo em dias mais tranquilos, as vendas acontecem.
Artesão confecciona roupas inspiradas em culturas de vários países
Enquanto alguns artesãos acabaram de começar a trajetória na Praça da República, Domingos Jesus, 57 anos, soma quatro décadas de atuação no artesanato. Foi ainda jovem que encontrou na praça um espaço para transformar o ofício em sustento. Atualmente, vende roupas inspiradas em culturas de diferentes países, especialmente da Índia, feitas com tecidos distribuídos por São Paulo e com estilos que evocam lugares como Dubai, Taiwan, África e Jamaica.
“Eu conheci o produto da Índia e comecei a inovar. Hoje estou com peças de 14 países”, conta. Para ele, a feira de domingo é uma chance de levar diversidade a quem não tem tempo de ir ao comércio durante a semana. “A Praça da República é isso: um grande evento para as pessoas que vêm conhecer essa diversidade”, diz.
Com a proximidade do Dia das Mães, Domingos aposta em boas vendas. Ele trouxe uma variedade de novas peças e acredita que o movimento será ainda maior com a chegada da COP 30. “A cidade toda está se preparando para esse grande evento", comenta. A expectativa do artesão é que a feira se torne uma vitrine para o mundo, destacando a riqueza e a criatividade do artesanato local.
Praça reúne turistas e visitantes assíduos
A aposentada Ana Cunha, 68 anos, mora em Recife e escolheu Belém como destino para comemorar o aniversário. Surpresa com o tamanho da feira, ela se encantou com o artesanato e a variedade de produtos. “Pensei que fosse menor. Tem muita coisa. Artesanato, roupas... Todo canto, né? É muito bonito. Me chamou atenção que vocês usam muita madeira nos produtos”, observa, destacando também como o espaço é arejado.
Quem também conheceu a Praça da República pela primeira vez foi Evandro Ferreira, 23 anos, estudante da cidade marajoara Ponta de Pedras. Impressionado com a diversidade de produtos e os bons preços, aproveitou a visita para comprar um vestido para a namorada. “Tem muita variedade de produtos, preços bons também, comida, é muito bacana”, conta.
Já a servidora pública Isabel Pinto, 50 anos, é frequentadora assídua da Praça da República. Costuma visitar pelo menos uma vez por mês, mantendo uma tradição que começou quando o filho ainda era pequeno. “É um dos passeios que a gente sempre faz aos domingos”, disse. Para ela, o que mais encanta é o artesanato, a comida e a beleza do lugar. “A praça é um lugar de encontro, de criar memórias e de afeto. A gente encontra pessoas sem marcar, sem combinar, aqueles encontros casuais”, comenta.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA