Jovens de Belém se organizam para participar da COP 30 com ações nas comunidades

Espaços de discussões e projetos de impacto social são as apostas de quem quer garantir um lugar na green zone

André Furtado / Especial para O Liberal

Neste domingo (13), data em que se celebra o Dia dos Jovens, participantes da iniciativa COP das Baixadas, em Belém, mostram como estão se organizando para marcar presença na COP 30, que será realizada em 2025 na capital paraense. Criada há três anos, a COP das Baixadas é um movimento popular que promove ações comunitárias, rodas de conversa e oficinas sobre as mudanças climáticas, com foco nas periferias da cidade. As atividades são realizadas nas chamadas "yellow zones", espaços comunitários criados especialmente para incentivar o debate e o protagonismo jovem nas pautas ambientais.

A COP é um encontro anual em que líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil se reúnem para discutir ações que visam combater as mudanças do clima. A primeira edição do evento foi em 1995, em Berlim, na Alemanha e, neste ano, ela desembarca pela primeira vez no Brasil e terá Belém como cidade-sede. Muitas são as expectativas em torno do evento, principalmente da juventude paraense que espera conseguir um espaço na conferência.

Waleska Queiroz é uma dessas pessoas que se prepara para o evento. Moradora do bairro da Terra Firme, ela é Engenheira sanitarista e ambiental e já participou de duas COPs: a 28 em Dubai e a 29, no Azerbaijão. “É muito interessante quando uma pessoa que vem da periferia poder acessar esse espaço. Existem pessoas que ainda apostam na potencialidade da juventude de levar a narrativa, por exemplo, das periferias urbanas da Amazônia para dentro desse espaço. Quando a gente chega lá, a gente leva uma responsabilidade muito grande que é falar pela nossa comunidade mas muito mais do que isso, é voltar de lá com com informações sobre o que que tá sendo falado, o que tá sendo discutido: o que é adaptação, o que é mitigação, como que isso funciona para o território. E aí a gente vem de lá com essa responsabilidade de territorializar tudo aquilo que a gente ouviu e aplicar isso dentro do nosso território”, detalha.

Waleska é representante institucional da COP das Baixadas, um movimento de incidência com ações de educação climática, atividades culturais, de lazer e esporte nas comunidades de Belém do Pará. Ela é organizada em coligações que são lideradas pela juventude. A iniciativa surgiu depois que o fundador, Jean do Gueto, participou da COP 28, no Egito, e percebeu a importância da população periférica conhecer o funcionamento e as discussões da conferência. “A COP das Baixadas nasce como um movimento popular, periférico e também anti-racista, porque a gente entende que a questão climática precisa ser debatida dentro dos territórios periféricos”, enfatiza Waleska.

image Desde 2023, o movimento organiza eventos que têm como objetivo discutir a crise climática (Thiago Gomes / O Liberal)

Desde 2023, o movimento organiza eventos que têm como objetivo discutir a crise climática, trazendo a vivência da conferência das partes para dentro das periferias de Belém. Para isso, criaram as Yellow Zone, espaços de discussões comunitárias distribuídos no bairro do Jurunas e Vila da Barca, em Belém; e no bairro Águas Lindas, Ananindeua. Esses espaços funcional durante o ano inteiro e não somente durante as programações oficiais da COP das Baixadas.

“A gente oferece oficinas e rodas de conversa dentro desse espaço, semelhante a como funciona dentro das COPs, é claro que a gente não tem a parte de negociação, mas o que a gente negocia lá dentro são as demandas prioritárias para o nosso território.Uma das coisas muito importantes que acontece dentro da conferência das baixadas, é o ‘Fórum de Desconferência’, que nada mais é do que um momento estratégico no qual a gente leva tudo que foi construído e debatido durante os três dias de evento, que é geralmente o período que ocorre o evento para as lideranças que são convidadas a nos ouvir”, conta Waleska.

Outra iniciativa parte de dentro da Universidade Federal do Pará com o Time Enactus UFPA, uma rede global presente em mais de 30 países que reúne jovens universitários em prol do desenvolvimento sustentável e do empreendedorismo jovem e cidadão. Com mais de dez anos em Belém, este ano o time aposta em ações que visam além do impacto social, um espaço nas discussões da Conferência das Partes. “O nosso time já tá entrando em contato com diferentes instituições para a gente conseguir ter esse acesso na COP. Então, a gente tá com pessoas que são relacionadas ao desenvolvimento, à organização e também, essa semana, a gente teve contato com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial”, explica Evelyn Mesquita, presidente da Enactus UFPA.

image Jovens do coletivo COP das Baixadas, em Belém, mostram como estão se organizando para marcar presença na COP 30 (Thiago Gomes / O Liberal)

A rede de estudantes da UFPA, desenvolvem negócios por meio de ações sociais e ambientais. No projeto Aruanas, trabalham a bioeconomia em que insumos amazônicos, como cupuaçu e bacuri são comprados diretamente de agricultores para fabricação de geleias e cereais. Já no projeto Biolume, os estudantes desenvolvem tecnologias sustentáveis e aliando postes feitos de PVC com energia solar, levam eletricidade para comunidades que não possuem energia elétrica.

“Com esses nossos negócios, a gente quer levar para serem debatidas essas problemáticas que existem nas comunidades da Amazônia para a gente conseguir mais soluções. A gente espera conseguir de fato ter essa participação mais ativa, esperamos que os nossos negócios sejam apresentados e que consigamos a participação também das nossas comunidades. Atualmente a gente trabalha com cerca de 10, estamos em expansão e queremos que essas pessoas também participem”, ressalta a presidente.

A COP é dividida em duas áreas: a blue zone (zona azul) e a green zone (zona verde). A área azul concentra as negociações oficiais, é um espaço exclusivo onde os representantes dos países irão se reunir para discutir e tomar decisões. Já a área verde é destinada a eventos paralelos não-oficiais, onde concentram-se ONGs, empresas e instituições acadêmicas. É neste lugar que a sociedade civil se reúne para se manifestar sobre as temáticas que estão em discussão e o acesso é permitido somente com um credencial emitido pela organização da COP. Por se tratar de um evento global, eles são limitados e costumam ser bastante concorridos. A solicitação ainda não está disponível.

Mesmo que não consigam o credencial de participação oficial, a juventude de Belém aposta em eventos paralelos com programações que devem acontecer pela cidade. “Mesmo que a gente não esteja no espaço oficial, a gente vai tentar garantir que existam espaços paralelos, ou seja, muita coisa vai estar acontecendo na cidade, e vamos estar nos mobilizando ao redor de Belém para que a população possa participar e entender o que tá acontecendo, quais as decisões estão sendo tomadas acerca da do enfrentamento à emergência climática”, finaliza Waleska.

Outra alternativa encontrada de participação é por por meio do Capacita COP 30, programa do Governo do Estado do Pará que oferece cursos gratuitos visando a certificação de pessoas interessadas em atuar no mercado de trabalho de forma direta ou indireta durante a Conferência, em Belém. Os cursos vão desde a produção alimentícia até a segurança, além de idiomas, como o inglês.

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