Texto da LDO de 2023 é aprovado na Câmara sem obrigar execução de emendas de relator
A proposta do Orçamento 2023 deve ser enviada para apreciação do Congresso até 31 de agosto
Nesta terça-feira (12), o Congresso Nacional aprovou o texto-base do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023. Agora, deputados e senadores vão analisar os destaques (propostas de mudança) ao projeto. As informações são do portal G1 Nacional.
A LDO determina as metas e prioridades para os gastos públicos do ano que vem e oferece os parâmetros para elaboração do projeto de lei orçamentária para o próximo ano. A proposta do Orçamento 2023, que traz os valores propriamente ditos, deve ser enviada pelo governo para apreciação do Congresso até 31 de agosto.
O texto aprovado nesta terça traz pontos polêmicos: ele prevê o aumento do poder da Câmara nas indicações de emendas do chamado "orçamento secreto".
Pelo texto, as indicações das emendas do relator passam a ser divididas entre o presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e o relator-geral do Orçamento. Atualmente, a assinatura das emendas de "orçamento secreto" é feita apenas pelo relator-geral.
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Já o presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Celso Sabino (União-PA), negou que as emendas de relator sejam secretas. "Na comissão já constam todas as indicações e destinação dos recursos. A indicação obrigatoriamente contemplará o nome do parlamentar, ainda que seja de um representante da sociedade civil."
O discurso oficial a favor da mudança é de que a divisão com o presidente da CMO irá diminuir a concentração de poder em um único parlamentar. Mas, reservadamente, parlamentares e técnicos do Congresso garantem que se trata de uma tentativa de manter a influência da Câmara dos Deputados, e, consequentemente, do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), sobre as emendas de relator.
Pelas regras do Congresso, a relatoria do Orçamento é revezada, a cada ano, entre um deputado e um senador, assim como a presidência da CMO. Em 2022, a relatoria do orçamento é de responsabilidade de um senador, Marcelo Castro (MDB-PI). Já o presidente da CMO atualmente é o deputado Celso Sabino (União-PA), próximo a Lira (PP-AL), que por sua vez é aliado do presidente Jair Bolsonaro.
Se o Congresso aprovar a LDO com essa inovação, Sabino também terá que assinar as indicações. A execução das aprovações dessas emendas deve seguir a ordem de prioridade estabelecida por Sabino e Castro.
Execução obrigatória
Inicialmente, o parecer do relator, senador Marcos do Val (Podemos-ES), previa a “obrigatoriedade de execução” das emendas de relator. No entanto, Do Val anunciou em plenário, nesta segunda (11), que retiraria o trecho. A decisão ocorreu após repercussão negativa de uma entrevista onde Marcos do Val afirma ter recebido R$ 50 milhões em emendas para o Espírito Santo como "gratidão" pelo apoio dado a Rodrigo Pacheco na eleição para a presidência do Senado em 2021.
Atualmente, a Constituição já garante que emendas individuais e de bancada devem ser pagas. No entanto, as últimas seguem critérios de divisão igualitárias entre os parlamentares ou de acordo com o tamanho das bancadas estaduais.
Salário mínimo
A LDO estima um déficit primário de R$ 65,9 bilhões para 2023 e um salário mínimo de R$ 1.294. Para 2024, o salário mínimo previsto é de R$ 1.337 e, para 2025, de R$ 1.378.
Atualmente, o valor é de R$ 1.212. O projeto traz ainda projeções de crescimento de 2,5% para o PIB em cada um dos próximos três anos.
Conforme o projeto, a expectativa de continuidade do crescimento inclui a “melhora das condições do mercado de trabalho, com a continuidade da recuperação do emprego, tanto em postos formais quanto informais, o que se reflete na projeção apresentada de crescimento anual da ocupação e ampliação da massa salarial nominal”.
Segurança Pública
O relator incluiu no parecer a autorização para a recomposição salarial e a reestruturação das carreiras da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penitenciária, além das polícias Civil e Militar e o corpo de bombeiros do DF.
Depois de prometer reajuste às carreiras da segurança pública em 2023, o presidente Jair Bolsonaro voltou atrás e a recomposição salarial não saiu.
De acordo com o relatório, o reajuste e a reestruturação das carreiras será possível comprovada a disponibilidade orçamentária e a compatibilidade com os limites previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal.
No entanto, para concretizar o reajuste, a recomposição e a reestruturação das carreiras deverão constar no Projeto de Lei Orçamentária de 2023.
'Emenda pix'
Técnicos da área orçamentária do Congresso também veem com preocupação as chamadas "transferências especiais" — um tipo de transferência de emendas individuais feita diretamente da União para estados e municípios sem a necessidade de convênios ou regras de discriminação para o repasse. Elas foram apelidadas por esses mesmos técnicos de "emenda pix".
Esse tipo de transferência já é previsto na Constituição, mas em seu relatório, Do Val determinou que a União faça os repasses até o fim de junho de 2023, "de modo que possam ser aplicados pelo ente recebedor no mesmo exercício".
Uma trava incluída no relatório é a previsão de que o ente beneficiado, seja prefeitura ou governo estadual, comunique ao respectivo Poder Legislativo, em até 30 dias, o valor do recurso recebido e como este será aplicado.
Inflação
Para Do Val, na votação da Lei Orçamentária de 2023, o Congresso poderá alterar o índice de correção inflacionária utilizando uma projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), maior do que a enviada pelo Executivo.
O relatório ressalta que a proposta de emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, entre outras coisas, mudou as regras de correção do teto de gastos, agora o cálculo utilizará a variação inflacionária entre janeiro e dezembro, não mais entre julho e junho.
"Por essa razão, o substitutivo prevê que o Congresso Nacional [durante a votação da lei orçamentária] poderá utilizar projeção mais atualizada para o índice, sem que essa providência fique restrita à utilização da projeção a ser informada pelo Poder Executivo em 22 de novembro", escreveu.
(Luciana Carvalho, estagiária da Redação sob supervisão de Keila Ferreira, Coordenadora do Núcleo de Política).
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