Censo 2022: IBGE vai adesivar casas para facilitar coleta de dados em Belém
Aglomerações subnormais criam dificuldades para os recenseadores
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adotou uma tática para coletar dados em áreas consideradas como aglomerados subnormais: adesivar as casas de quem já respondeu as perguntas, para organizar melhor o Censo 2022 e evitar repetições e erros.
Na vila São Raimundo, no bairro do Umarizal, mais de 80% das moradias nem constam nos mapas oficiais. Pela primeira vez, elas serão listadas e trazidas para os dados oficiais do órgão.
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A esperança da costureira Edilene da Silva é que a iniciativa impacte positivamente as políticas públicas para o local. "É legal pois vemos que temos importância como ser humano. Isso reflete no saneamento, saúde. Os Correios não vem até aqui. A gente busca lá na frente. Estando no mapa fica melhor", diz ela, que tem 55 anos e mora lá desde que nasceu.
A vila São Raimundo parece até o labirinto, com diversas ramificações e curvas, além de casas de todos os tamanhos, nos altos e baixos. Tudo isso no coração de um bairro considerado nobre. Antes do início do trabalho, uma transeunte viu a equipe do IBGE e questionou: "já conseguiram desvendar e entender essa vila?".
Apesar das diferentes denominações de acordo com cada região do país, os aglomerados subnormais possuem características comuns: ocupação irregular de terrenos, padrão urbanístico irregular e carência de serviços públicos essenciais.
Trabalho de campo é fundamental
Segundo um estudo feito pelo órgão em 2020, Belém era a capital do país com maior proporção de domicílios em aglomerados subnormais: 55,5% dos domicílios ocupados estavam localizados em aglomerado subnormal (entre municípios com mais de 750 mil habitantes).
Em seguida, aparecem Manaus (53,4%) e Salvador (41,8%). Em números absolutos, Belém era o quinto município do país, com 225.577 domicílios localizados em aglomerados. O primeiro era São Paulo (529.921), seguido de Rio de Janeiro (453.571), Salvador (375.291) e Manaus (348.684).
O mesmo estudo também revelou que Ananindeua e Marituba também tinham altas porcentagens de domicílios ocupados em aglomerados subnormais. Na lista de municípios com população entre 350 mil e 750 mil habitantes, Ananindeua aparecia como segundo do Brasil na proporção de domicílios em aglomerados: 53,51% de seus domicílios ocupados estava em aglomerados subnormais (um total de 76.146 domicílios).
Na estimativa dos municípios com população entre 100 mil e 350 mil habitantes, Marituba era o primeiro do Brasil, com 61,21% de seus domicílios ocupados em aglomerados subnormais.
No ranking dos estados, o Pará ficou na quarta colocação, com 432.518 domicílios ocupados em aglomerados, o que significa que 19,68% do total de seus domicílios ocupados estavam em aglomerados subnormais. Acima do Pará apareciam Amazonas (393.995 domicílios ou 34,59%), Espírito Santo (306.439 domicílios, 26,10%) e Amapá (36.835, 21,58%).
O coordenador técnico do Censo, Luiz Martins, conta que os adesivos auxiliam muito, já que há muitas fragilidades no endereçamentos e muita proximidade entre as residências. "Estamos tendo uma receptividade muito boa, pois eles sabem que isso vai gerar melhorias", diz.
Cristiane Aood é supervisora e conta que o trabalho de campo é extenso e importante para garantir a cidadania dos brasileiros. "Temos números duplicados, cada pessoa escolhe o número, mas com o recenseador fazendo amizade com os moradores, estamos finalizando esse trabalho. O nosso trabalho é fazer com que todos saibam que essas pessoas existem. Casas que há 10 anos eram duas hoje viraram quatro, por exemplo. São casos de grande frequência em Belém. A população cresce e não se tem mais espaço, com mais casas surgindo, novas famílias se formando, mais gente nascendo", afirma.
João Luiz Borges é recenseador e ficou bem próximo dos moradores ao longo do trabalho. A experiência, segundo ele, tem sido gratificante. "Até eu, que morava nesse entorno, não sabia que existia tanta passagem. Bater na casa de cada um para que todos respondam a pesquisa valoriza a pessoa enquanto indivíduo".
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