Beto Faro se lança ao Senado Federal e em torno de projeto para eleger Helder e Lula
O deputado federal falou das bandeiras ligadas à terra, criticou a gestão de Jair Bolsonaro, e apontou os caminhos para eleger o atual governador Helder Barbalho9 e o ex-presidente Lula
José Roberto Oliveira Faro, ou simplesmente Beto Faro, nasceu em Bujaru, cidade da região Guajarina, a 72 quilômetros de Belém. Aos 52 anos, cumpre seu quarto mandato de deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores, mas já tendo exercido a suplência dentro da Legislatura 2003-2007 da Câmara Federal. Faro é o atual presidente do PT no Pará e iniciou a trajetória na Pastoral da Juventude, no município bujaruense.
Atuante nas questões do campo, sobretudo relativas à Agricultura Familiar, o parlamentar adquiriu experiência o bastante, que o condicionou a presidir, no Pará, a Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetagri), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Incra.
O deputado federal Beto Faro é casado com a deputada estadual Divanda Faro (PT) há 32 anos, com quem tem dois filhos, Yuri e Yasmim. Na entrevista concedida ao Grupo Liberal, abordou temas como a pré-candidatura ao Senado Federal, corrida eleitoral paraense, o apoio ao governador Helder Barbalho, apontou críticas ao Governo Federal, sendo uma delas o “sucateamento do Incra”, e ainda analisou o papel da esquerda no cenário paraense, e analisou questões relacionadas à Amazônia e reforçou a política de aliança em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
Como defensor da bandeira ligada ao campo e ao sindicalismo rural, sobretudo, como o senhor assiste as questões da terra no contexto político e socioeconômico que o Pará e o Brasil vivem atualmente?
Eu iniciei nas Igrejas Eclesiastes de base e a partir daí fui presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bujaru e depois dirigente da Fetagri. Lutávamos muito na época pela regularização fundiária, pelos assentamentos e pelo crédito rural. E era uma questão importante, até porque o FNO tinha sido criado em 1988, pela Constituição de 1988, mais o acesso dos pequenos era muito difícil. Se exigia muito dos produtores, exigia-se, naquele momento, assistência técnica, exigia-se a penhora da terra e fizemos a luta dos gritos do campo, dos gritos da Amazônia, foi no sentido de democratizar o acesso dos pequenos a esses financiamentos, tanto agricultores como pescadores artesanais. Lutamos muito junto à Fetagri com os pescadores. São bandeiras que permanecem até hoje. Hoje o crédito ainda é de difícil acesso para determinadas camadas da sociedade, mesmo tendo crescido nos governos Lula e Dilma o volume de recursos disponibilizado para Agricultura Familiar. Mas ainda se padece. No Pará tem questões muito específicas. O que se planta nem sempre estar naquele processo que tem nos bancos, com um ou dois anos de carência, com anos para pagar. Tem que ter um crédito diferenciado para esses pequenos. Mas precisamos trabalhar muito essa questão da regularização fundiária. O Governo do Estado tem se esforçado bastante para regularizar, mas o Governo Federal parou no tempo. Os Incras hoje estão à míngua, dá pena de ver. Não tem recurso para fazer um novo assentamento, não se tem recurso para conseguir desenvolver, os que já estão (assentamentos), não tem recursos para habitação rural e construir estradas vicinais, e acaba que muita gente vendendo as áreas. E, seguramente essa questão do desmatamento, nós diminuiríamos muito, mas se tivéssemos investimentos nas áreas já ocupadas e já trabalhadas, antropizadas.
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Nessa discussão não tem como nos distanciarmos que se trata de problema antigo, histórico na Amazônia, que é o tensionamento por conta dos problemas relacionados à propriedade rural e à regularização fundiária. O senhor acha a demandas do Estado conseguiram ser atendidas nos últimos pela bancada paraense dentro Congresso?
Nós temos uma legislação muito boa sobre essa questão da regularização fundiária. No governo ainda do presidente Lula, e depois da presidenta Dilma, estabelecemos uma nova lei para regularizar a questão da terra. A Constituição permite até 2500 (hectares), nós trabalhamos até 15 módulos fiscais. O saudoso deputado Asdrúbal Bentes foi, inclusive, o relator da Medida Provisória que nós trabalhamos na Câmara. Eu participei ativamente desse processo. Nós temos um arcabouço jurídico bom. O que precisa, na minha avaliação, é força no Incra, é força em instituições federais que possam fazer efetivamente aquilo que está na lei, acontecer.
O senhor acha que o Incra, a atual estrutura que está aí, representada pelos últimos anos do governo Bolsonaro não conseguiu caminhar com nenhuma ação?
Sucateou completamente. Você pega unidades do Incra que tinham 20, 30 funcionários, hoje estão com dois. As pessoas chegavam na época de se aposentar, não se sentem com força e com vontade para continuar o trabalho, porque não têm recursos. Não têm recursos se quer para a regularização fundiária, muito menos para cuidar das áreas que já são do Incra. Não existe nada para produtores. O Incra não tem dinheiro para fazer um quilômetro de estrada vicinal, não tem dinheiro para construir uma casa rural. Não tem infraestrutura nenhuma. Assistência técnica foi desmontada no Governo do Bolsonaro. Tínhamos feito um processo de trabalhar assistência técnica com instituições como a Emater, por exemplo, do Pará. E também com outras que não eram só governamentais. A bancada do Pará, mesmo nas nossas diferenças, a gente trabalhou conjuntamente, mas sempre votamos a favor, a fim de fazer a regularização fundiária.
Temos uma carência também no Ibama. O Governo do Estado faz o ‘Sua Casa’ (Programa), o único problema que nós temos hoje de habilitação no Estado do Pará. Nós fizemos hoje mais de 100 mil casas populares com o Minha Casa, Minha Vida, que não tem mais. Quanto nós fizemos em energia pelo Programa Luz Para Todos nesse estado. É bom que se diga isso, a gente vai estar trabalhando muito nesse próximo período.
Mas essa condição do Pará não é de hoje, deputado.
No nosso governo, nós fizemos a distribuição de energia. Já chegamos em muitas comunidades, muitas famílias, milhares de famílias com o Luz para Todos. Hoje nós precisamos trabalhar o barateamento, porque nós somos o segundo Estado produtor, e somos a terceira maior conta. Em várias comunidades não estamos conseguindo levar, não universalizamos. Tinha um prazo para universalizarmos a energia para as famílias de produtores, para esse meio rural. Não estamos conseguindo, está faltando dinheiro, está faltando investimento do Governo Federal nessa área.
Vou insistir e voltar ao tema e ao ano 2012 por conta das obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte, em Vitória do Xingu. Numa discussão até bem pedagógica, deputado, para as pessoas entenderem melhor. Com duas hidrelétricas aqui e agente ainda pagando tão caro pela energia em nossas casas. Como mudar isso?
Essa é uma luta da bancada, estamos dialogando com a Aneel, com aqueles que são responsáveis, hoje. Porque, de fato, não é possível de admitir, assim como brasileiro hoje não admite ter um País autossuficiente na produção de combustível, e nós tivemos que dolarizar o preço do combustível. Estamos chegando a R$ 8 o preço da gasolina no posto de gasolina, não podemos admitir. Nós não podemos admitir, um Estado que é produtor, que tem duas grandes hidrelétricas e tem potencial para produzir muito mais. Temos que fazer o paraense pagar um preço menor pela sua energia. É uma obrigação trabalharmos para diminuir esse valor.
Vamos falar da pré-candidatura ao Senado Federal. Com o seu nome lançado, como fica a figura do então senador Paulo Rocha?
O Paulo Rocha é um amigo, além de um parceiro da política, um amigo meu pessoal. Eu fui coordenador da primeira campanha do Paulo Rocha para deputado federal, lá na minha região de Bujaru, Concórdia e Acará. Eu fui o coordenador da campanha do Rocha. Para você ter uma ideia, no PT nós temos três procedimentos para poder definir uma candidatura: reunião do diretório estadual, as vezes a gente faz encontros estaduais (onde se tira critérios para poder estabelecer) e também muitas das vezes, até em prévias. E, nesse último período, fizemos um processo mais tranquilo dentro do PT. Fizemos um acordo, de decidir isso numa reunião do diretório, 58 membros do diretório de nosso partido, e os 58 membros votaram pela minha candidatura por avaliar o momento conjuntural, a possibilidade de a gente buscar uma aliança mais ampla, porque é difícil um partido só eleger um senador. Era preciso unificar todo esse campo nosso da esquerda, fazer a boa relação com o governo Helder, que tem uma força política muito grande no Estado. Nós, inclusive, aprovamos, por unanimidade, o apoio à reeleição do governador Helder. Quero ser o senador porque não consigo ver, o que o Pará ganharia elegendo um senador para fazer oposição ao presidente Lula, que se não está eleito, mas é o favorito para ganhar as eleições do País. Quero ser essa “ponte” entre o governador Helder, quem eu apoio desde 2014. Fico triste, inclusive, o Helder foi decisivo nas eleições do último senador que nós tivemos aqui, o Zequinha (Marinho), que hoje compõe a base do (presidente) Bolsonaro. Que podia (Zequinha) estar trazendo recursos para o nosso Estado, jogando junto com o governador, acho que nem a emenda de bancada que ele tem direito, ele (Zequinha) põe via Governo do Estado, para poder fazer a relação. Sou candidato de um projeto.
E a partir de sua pré-candidatura e dentro desse projeto político que o senhor mencionou, como está sendo construída a articulação em torno das ações do PT visando as eleições de 2022?
É bom te dizer, Sérgio, que estamos fazendo seminário aqui na região amazônica, nós do PT e da Fundação Perseu Abramo, com a nossa direção, para poder elaborar o programa de reconstrução do Brasil. O PT está lançando o programa que reconstrói o país e estamos criando os elementos daqui do Estado para contribuir com esse desenvolvimento. Precisamos reconstruir. Aqui no Pará, por exemplo, tínhamos apenas uma universidade antes do presidente Lula, que era a nossa UFPA. Reconstruímos a Ufra, era Fcap e trouxemos para Ufra, construímos a Ufopa e a Unifesp, mas nós precisamos construir a universidade do Xingu, a da Amazônia-Tocantins, do Nordeste paraense, do Marajó, que estavam em projeto em nosso governo e foram parados dentro do Ministério. Você sabe que antes de chegarmos ao poder, só tínhamos um Instituto Federal em Belém e a Escola Agrotécnica de Castanhal. Construímos 14 novos institutos. Quero estar na bancada do presidente Lula junto com o meu governador e apoiador Helder.
Ainda sobre o Paulo Rocha, ele vem como deputado federal?
O Paulo Rocha tem uma contribuição. Pode não ser senador. Nós todos torcemos muito, mas é uma decisão pessoal do Paulo, não podemos forçar ele tomar essa decisão, mas independente se o Paulo vai ter um mandato eletivo no próximo mandato, nós sabemos do compromisso que ele tem com o Estado e da luta que ele vai estar fazendo ao nosso lado. Agora em março, vamos realizar um número de caravanas pelo Estado, 23 reuniões microrregionais e o Paulo vai estar do meu lado, fazendo essa reunião para unificar o PT, para edificar a esquerda, tonificar esse campo do governador Helder e agente sair vitorioso na eleição do Pará e ajudar o Lula.
Falando aí no campo político do atual governador, lhe pergunto o seguinte: o momento de 2022 é diferente do ano nas eleições lá de 2018. A base do Governo do Estado teve essas novas configurações, de saídas de partidos e novas composições pelo surgimento de novas legendas, e lideranças assumindo o apoio à Bolsonaro aqui no Estado. Como é que vocês pretendem trabalhar essa perspectiva de integridade da base ao longo desses meses?
Nós temos diferença políticas, sim, até por isso estamos em partidos diferentes, mas o PSOL decidiu apoiar o Lula, nacionalmente. Nós estamos construindo uma Federação de partidos, PDT, PSB, PC do B, PV, todos os partidos que estão dialogando na campanha da candidatura do Lula. E aqui no Estado não é segredo que grande parte da base hoje, com certeza, posso afirmar isso, que grande parte da base do Helder vota no Lula. Tanto é o resultado das pesquisas: onde o MDB lidera na maioria dos prefeitos do Estado, tem nos seus quadros a maioria dos perfeitos. Mas se você fizer a pesquisa nesses municípios, hoje, o Lula ganha as eleições com a ajuda desses parceiros do MDB. Muitos deles já foram prefeitos com nós no Governo Federal e com Bolsonaro e outros presidente, e sabem a diferença, sabem o quanto de investimento vai se ver neste município. Não tenho dúvida, que vamos ter capacidade para poder montar uma ampla aliança, que não é só o PT, que não é só esquerda paraense, é juntar vários seguimentos. Temos uma relação fortíssima como movimento social que está padecendo de apoio, movimento sindical que está sendo destruído, inclusive tirando as receitas que o movimento sindical tinha. E esse povo todo vai estar engajado. Muita gente da igreja, das igrejas, e tem muita gente dizendo que a igreja tem dificuldade de votar no Lula. Vai ter muita gente das igrejas evangélicas.
Sobre essa questão do apoio das igrejas evangélicas, já se teria até uma figura (de um pastor), uma célula nessa linha, nessa frente ligada às igrejas evangélicas. Essa seria umas das estratégias utilizadas pelo PT para conseguir esse poder de atração?
Não temos dúvida (é bom falar isso), até porque nós temos pastores da nossa bancada, temos evangélicos na nossa bancada federal, exemplo da Benedita da Silva, referência do PT, é evangélica. Temos pessoas que trabalham e que atuam na área evangélica. Eu sou católico, mas tenho uma relação de muito respeito com os evangélicos, hoje, aqui, um trabalho sério que muitos pastores, que muitas igrejas fazem. Eu tenho uma excelente relação com os três parlamentares evangélicos que atuam na Câmara Federal. E vamos estar dialogando e vamos estar montando o comitê evangélico político para essa área. A população pode ficar tranquila. O PT demonstrou, no governo, o apreço e o carinho que nós temos com católicos e evangélicos. Não fizemos nenhuma atitude que pudesse desmontar igrejas, muito pelo contrário, o País é formado por isso. E nós temos que tocar o País da forma que ele está estabelecido.
Sobre a candidatura do Lula e esse “casamento” com Alckmin, que anos atrás não se pensaria, é um exemplo de composição que podemos ver no contexto estadual? Como o senhor observa essa nova realidade (de aliança)?
Nós do Pará, nossa seção do PT do Pará, defendemos essa aliança. Nós demos o aval dessa nova realidade, demos o aval para que a direção nacional proceda essa aliança. Nós temos muita confiança naquilo que o Lula vai fazer para o Brasil. Sabemos que a gente não ganha a eleição só. Ainda mais num País polarizado da forma que estar. Precisamos buscar esse centro do País para poder estar dialogando. Dissemos ao presidente Lula, dissemos à presidente Gleice, que eles têm todo o nosso aval para poder trabalhar, assim como nós estamos fazendo no Pará, vamos apoiar o Helder. Primeiro porque entendemos que o governo dele é bom, que atende no social, que faz infraestrutura, que anda, que conhece. Não teve governo que andasse mais do que o Governo Helder, e tem dialogado com diversos segmentos: ouve prefeitos, ex-prefeitos, aqueles que fazem oposição, movimentos social, sindical, o que faz parte da natureza dos governos petistas, que é aquele que ouve, dialoga. Estamos confiante numa aliança ampla.
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