Áudios e mensagens de aliados de Bolsonaro evidenciam plano de Golpe, aponta investigação da PF
Informações, divulgadas pelo portal O Globo, foram obtidas a partir de investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF)
Áudios e mensagens de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro revelaram uma articulação de um plano de golpe de Estado, que consistia em incitar ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), hostilizar as urnas eletrônicas, convencer a cúpula do Exército a rejeitar o resultado das eleições em 2022 e prender o ministro Alexandre de Moraes. As informações, divulgadas pelo portal O Globo, foram obtidas a partir de investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF).
Foram analisados áudios e prints (capturas de tela) encontrados nos arquivos de um celular do major reformado do Exército Ailton Gonçalves Barros, durante uma investigação envolvendo Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Ele conversou sobre as estratégias de uma investida antidemocrática com o coronel Élcio Franco e um outro militar ainda não identificado.
Para os investigadores, as conversas "deixam evidente a articulação conduzida por Ailton Barros e outros militares, para materializar o plano de tentativa de golpe de Estado no Brasil, em decorrência da não aceitação do resultado da eleição presidencial ocorrida em 2022, visando manter no Poder o ex-Presidente da República Jair Bolsonaro e restringir o exercício do Poder Judiciário brasileiro, por meio da prisão do Ministro Alexandre de Moraes, do STF".
Dois prints de uma conversa entre Barros e um contato denominado "PR 01", "possivelmente relacionado ao ex-presidente Jair Bolsonaro", por exemplo, tratam da intenção de grupos organizadores dos atos de 7 de setembro de 2021 de acamparem em Brasília em 31 de março, data do golpe de 1964. O objetivo era pressionar os onze ministros do STF a "saírem de suas cadeiras". As mensagens também sugeriram inserir nesses movimentos temas de interesse de Bolsonaro, como a defesa do impeachment do ministro Alexandre de Moraes e o ataque às urnas eletrônicas.
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No relatório de análise das mensagens, a PF destacou ainda dois áudios encontrados no celular de Barros e registrados em 15 de dezembro de 2022. Os arquivos são atribuídos a um militar da reserva não identificado que tenta acelerar a realização do plano golpista.
"Combatente, nós estamos no limite longo da ZL (zona limite). Daqui a pouco não tem mais como lançar. Vamos dar passagem perdida, e aí é perdida para sempre. Você entende que eu tô falando (...) Tão há 40 e poucos dias, entendeu, até o Braga Neto veio aqui conversar com eles, que nem eu falei, tirou foto", diz o interlocutor em uma das gravações.
De acordo com a Polícia Federal, o termo “limite longo da ZL” significa no linguajar militar "o prazo máximo, a zona limite (ZL)", enquanto “deu passagem perdida” seria uma operação frustrada.
Os investigadores acreditam que, possivelmente, o interlocutor está alertando que o prazo para implementação do Golpe de Estado e decretação do ato de 'Garantia da Lei e da Ordem' estava se esvaindo, com a proximidade da data da posse do novo Presidente da República eleito.
Em outro áudio, também registrado em 15 de dezembro no celular de Barros, um interlocutor não identificado diz:
"Então, esse próximo áudio, também, além do ZERO UNO, aí tem que ser passado pa todo aquele pessoal que você passa sempre, entendeu? Então agora, negão, é...assim...a...Já estamos em guerra, né? Só que agora é a...assim...Temos que executar essas ações. Vou dar o conceito da operação".
Para a PF, "[o arquivo] deixa claro que a 'operação especial que teria que ser executada', na verdade, foi um codinome para a execução de um golpe de Estado, que culminaria na tomada de poder pelas Forças Armadas brasileiras, lideradas pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro”.
A PF também encontrou áudios atribuídos ao coronel Elcio Franco, ex-número 2 do ministro Eduardo Pazuello na Saúde e ex-assessor da Casa Civil. Na gravação, encaminhada em 25 de dezembro a Barros por um interlocutor identificado apenas como "coronel Virgílio", Franco diz que o então comandante do Exército Freire Gomes não iria tomar a frente "nesse assunto" e que estava com medo das consequências.
"Medo das consequências é o quê? Ele ter insuflado? Qual foi o seu assessoria? Ele tá indo pra pior hipótese. Qual foi a...Qual a pior hipótese? Ah, deu tudo errado, o presidente foi preso, e ele tá sendo chamando pra responder. Eu falei ó, eu...durante o tempo todo (inteligível) contra o presidente, pô. Falei que não deveria fazer, que não deveria fazer, que não deveria fazer, e pronto, né? Vai pro Tribunal de Nuremberg desse jeito", disse Franco, segundo transcrição da PF.
Para investigadores, "depreende-se, portanto, que o assunto tratado pelo Coronel Élcio seria uma suposta demanda do Coronel Virgílio no sentido de fazer chegar a indivíduos do alto comando das Forças Armadas suas orientações e ideias no sentido de promover algum tipo de intervenção militar".
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