Reprodução simulada busca esclarecer morte de biomédica em Belém
A jovem morreu ao ser baleada dentro de um carro quando estava com o ex-namorado, que é policial penal. O caso ocorreu em agosto do ano passado na BR-316.
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A reprodução simulada da morte da biomédica Karina Santos foi realizada nesta quarta-feira (19), no estacionamento do Estádio Olímpico do Pará - Jornalista Edgar Proença (Mangueirão), em Belém. O procedimento buscou esclarecer as circunstâncias do baleamento que resultou na morte da jovem, ocorrido em 25 de agosto de 2024, dentro de um carro na BR-316, entre os municípios de Ananindeua e Belém. Na ocasião, Karina estava acompanhada do ex-namorado, um policial penal, que alega que a vítima tirou a própria vida. No entanto, a família da biomédica contesta essa versão e acredita que se trata de um feminicídio, apontando o policial como o autor do disparo.
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Durante a reprodução simulada, amigos e familiares da vítima estiveram presentes no local segurando faixas e cartazes pedindo justiça. Segundo a polícia, a reprodução foi realizada em dois horários, às 17h e às 19h, para considerar as condições de iluminação no momento da morte de Karina.
O advogado Marcos Pina, um dos representantes da família da biomédica, comentou sobre a divisão do procedimento. “A primeira parte, ainda durante a tarde, é devido à claridade. Essa etapa deve durar cerca de 40 minutos, assim falou a perícia. Depois vamos aguardar anoitecer para fazer a segunda parte da reconstituição, já com o ambiente noturno. Tudo igual ocorreu no dia da morte de Karina”, explicou.
Ele também destacou que todas as partes envolvidas acompanharam a reprodução. “Estamos todos aqui. O policial penal que estava dentro do carro com a vítima também já está aqui posicionado, juntamente com a equipe da perícia da Polícia Científica da Polícia Civil. A mãe, o tio, a tia, amigos, todos estão acompanhando do lado de fora. Tem mais de 25 pessoas aqui. Comigo também estão mais dois colegas advogados que estão no inquérito também. Além disso, o advogado do policial penal e a equipe que realiza a defesa se fazem presente”, disse Pina.
A simulação contou com a participação de 12 policiais civis e quatro peritos criminais. Foi utilizado o mesmo veículo onde o fato ocorreu, além de drones e câmeras para registrar o que aconteceu dentro e fora do veículo. Para interpretar a vítima, uma policial civil participou do procedimento.
De acordo com a perita criminal Isabela Barreto, diretora do Instituto de Criminalística da Polícia Científica do Pará, o exame pericial de Reprodução Simulada dos Fatos (RSF) tem como objetivo analisar divergências entre as versões apresentadas.
“O exame Pericial de Reprodução Simulada dos Fatos (RSF) consiste em reproduzir o evento ocorrido, considerando os depoimentos dos envolvidos, com objetivo de identificar as divergências das versões e correlacionar com os demais vestígios criminalísticos para conclusão da dinâmica do evento”, explicou.
Segundo a perita, neste caso em específico, a equipe do Núcleo de Crimes Contra a Vida, que está à frente da realização do exame RSF, definiu a realização no estacionamento do Mangueirão, visto que o evento ocorreu no interior de um veículo que estava em movimento, em uma via de grande movimentação, e a realização em um local mais reservado não iria alterar os procedimentos e conclusão do mesmo, além de não interferir vias públicas, com o isolamento, para não atrapalhar o trânsito.
Jadir Ataíde dos Santos, perito criminal e coordenador de Perícias Genéricas da Polícia Científica do Pará, destacou a metodologia do trabalho. “Primeiramente, o suspeito fez um relatório sobre o que teria acontecido e fizemos a encenação durante o dia para ter melhor visibilidade e entendimento do acontecido. Como o fato aconteceu à noite, também realizamos uma segunda reprodução, para confrontar com a versão descrita por ele, mas à noite, para termos a mesma luminosidade no veículo. Vamos comparar essas duas versões, também com a versão do depoimento que ele deu para a Polícia Civil, e comparar com laudos periciais feitos no veículo e no corpo da Karina”, explicou o perito.
Investigações seguem em andamento
A Delegacia de Feminicídio, vinculada à Divisão Especializada no Atendimento à Mulher, conduz as investigações sob sigilo. A delegada Gabriela Andrade, titular da unidade, destacou o empenho da equipe desde o início do caso.
“Desde o momento dos fatos, estamos empenhados em reunir todas as provas e informações possíveis para esclarecer a morte de Karina. Cada ação realizada, incluindo essa simulação, é parte do nosso esforço em resolver esse caso com rigor e precisão. Após os resultados da simulação, o caso segue com o devido andamento”, declarou.
A delegada Adriana Norat, diretora de Atendimento a Grupos Vulneráveis, ressaltou a importância da reprodução simulada no processo investigativo. “A simulação é considerada essencial para a investigação de casos complexos e sensíveis como este, pois permite a reconstrução das circunstâncias do fato e contribui para o aprofundamento da análise das evidências”, disse.
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