Indígenas Tembé negam autoria de ataques a funcionários da empresa BBF em Tomé Açu
A acusação foi feita pela própria BBF, que informou que um dos seus funcionários teve o corpo queimado pelos “invasores”
A Associação Indígena Tembé de Tomé-Açu (Aitta) negou, nesta quarta-feira (28), que um grupo de indígenas da etnia Tembé tenha invadido, no último final de semana, áreas privadas da empresa Brasil BioFuels (BBF), produtora de dendê, no município de Tomé Açu, no nordeste do Pará. A acusação foi feita pela própria BBF, que informou que um dos seus funcionários teve o corpo queimado pelos “invasores”. Segundo a defesa dos Tembé, não houve qualquer participação das comunidades indígenas no episódio de agressão, “mas sim de 'terceiros'”.
“A nota emitida pela empresa falta com a verdade, se houve qualquer ato ou pessoa ferida, não houve qualquer participação das comunidades indígenas Tembé, mas sim de terceiros, pessoas de uma localidade que não são indígenas que também vivem em conflito com a empresa. Infelizmente, todo e qualquer acontecimento nesse sentido aqui na região tem sido direcionado à responsabilidade das lideranças indígenas Tembé”, afirma a defesa da etnia à reportagem de O LIBERAL, que por questões de segurança preferiu não se identificar.
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De acordo com a BBF, os ataques ocorreram entre a tarde de terça (27) e a madrugada desta quarta-feira (28). “Um funcionário foi agredido, tomou um tiro no pé e, ao cair no chão, teve o corpo queimado pelos invasores, que jogaram combustível e atearam fogo no homem. O trabalhador, identificado com as iniciais A.P.S, foi socorrido pelos colegas e encaminhado ao hospital de Quatro Bocas, distrito de Tomé-Açu. O homem, de 30 anos, está em estado grave, com 60% do corpo em queimadura de segundo grau e foi transferido de táxi aéreo para o Hospital Adventista de Belém”, afirma nota divulgada pela empresa.
Também por meio de nota, a Aitta afirmou que o acirramento do conflito tem persistido há mais de um ano e uma das principais problemáticas que vem assolando a vivência da comunidade tradicional tem sido a “persistente tentativa de criminalização” das lideranças indígenas “por parte da Empresa com notícias e ocorrências falsas que vinculam” o movimento em ações “supostamente criminosas. Cabe esclarecer que no Vale do Alto Acará há outras comunidades que não são do povo Tembé, que também tem conflitos territoriais e agrários com a BBF”.
A empresa afirma que já havia registrado boletim de ocorrência no dia 24 dezembro, na Delegacia da Polícia Civil de Quatro Bocas, relatando a informação que circulou entre as comunidades de que um grupo criminoso iria invadir mais uma nova fazenda da BBF, chamada Nippaki, que emprega trabalhadores rurais na região. A BBF informou que nos últimos 15 dias foi vítima de duas invasões em fazendas estratégicas na região (Marrocos e Chinomya) e alvo também de invasão em seu polo de Tomé-Açu, onde trabalham mais de 1.100 funcionários.
“Neste último episódio, ocorrido no dia 23 de dezembro, os invasores entraram armados pela portaria da empresa em caminhonetes, pequenas picapes e outros veículos menores, com cerca de 10 pessoas em cada (cinco na parte interna e cinco na carroceria traseira). Eles incendiaram pneus e ameaçaram trabalhadores da empresa, que, assustados, saíram rapidamente da agrovila”.
A Associação Indígena Tembé de Tomé-Açu garante que é também de seu interesse que os fatos sejam esclarecidos pelas autoridades competentes, “evitando as especulações criadas pela empresa BBF em procedimentos policiais, inclusive tentando criminalizar lideranças Tembé por situações alheias ao seu território. As denunciações caluniosas, imputando crimes inverídicos a lideranças Tembés tem sido uma prática constante da empresa BBF, com a intenção de criminalizar e difamar a nossa luta por nossos direitos”.
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