Pará tem a segunda menor renda média da população do Brasil, diz FGV
Instituição aponta que a classe média foi a grande perdedora de rendimentos durante parte da pandemia da covid-19, tendo 4,2% de déficit
O Pará tem a segunda menor renda média da população entre os estados do Brasil, somando R$ 507 e estando atrás somente do Maranhão. Os dados foram divulgados recentemente pela FGV Social e tiveram como base as declarações do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feitas em 2020. A maior conclusão da análise é que a classe média do país foi a grande perdedora de rendimentos durante parte da pandemia da covid-19, alcançando a marca dos 4,2% de déficit.
O estudo mostra, ainda, que a renda entre os mais pobres ficou praticamente inalterada no período, devido aos pagamentos do Auxílio Emergencial. No Pará, por exemplo, a variação foi de 0,57% em dois anos: em 2019, o valor de rendimentos ficou em R$ 504 e colocou o estado no 26º lugar do ranking que classifica as melhores economias do Brasil. O cenário não foi muito diferente em 2020, mantendo a população paraense entre os que menos tem dinheiro. No mesmo ano, Belém chegou a marca da 21º colocação, tendo R$ 1.337 como média ganha dos moradores.
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Renda baixa afeta qualidade de vida, diz Dieese
A da renda dos paraenses é baixa e atinge mais da metade das forças de trabalho ocupadas que existem: dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do IBGE, referentes ao terceiro trimestre de 2022 - julho a setembro -, mostram que o total de trabalhadores do Pará era de 3,8 milhões. Desses, cerca de 52% têm apenas um salário mínimo de remuneração máxima mensal, impactando no poder de consumo e na qualidade de vida, uma vez que a alimentação no estado iniciou 2023 com alta de 2,4%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) do Pará.
Everson Costa, supervisor técnico da instituição, destaca que o valor da cesta básica no estado já afeta 54% do novo salário mínimo definido (R$ 1.302) e contribui para a falta de acesso a diversas outras áreas, como educação, saúde, transporte, vestuário e lazer. “Nós temos uma força de trabalho expressiva, uma quantidade mais expressiva, ainda, de trabalhadores que sobrevivem com até um salário mínimo, mas esse valor por si só já é mais da metade impactado pela compra de alimentos, então, sobra muito pouco para a gente olhar esse paraense e dar capacidade de pagar até mesmo contas pontuais, água, luz e telefone”.
Embora o Pará apareça entre os grandes geradores de emprego do país, a remuneração baixa leva aos indicadores sociais graves atuais, explica Everson. “Nem mesmo a renda do emprego formal, do servidor público ou outras formas de trabalho que estão nesse conjunto de pessoas ocupadas, que é expressivo, conseguem elevar essa massa de salário e o resultado disso é que, quando faz o corte de indicadores sociais do estado, registra essa dificuldade da renda baixa do paraense e seu custo de vida elevado para tentar sobreviver em meio a uma região que é rica e ocupa as mais baixas posições de renda”, diz.
Base produtiva é ponto de partida para mudar realidade
A extração mineral e o extrativismo ainda são bases fortes da economia paraense. Everson aponta que mudar esse cenário é fundamental para melhorar os índices do estado. “Já melhoramos um pouco nesse perfil, já temos mais indústrias, mas precisamos avançar mais, principalmente na capacitação e na qualidade da nossa mão de obra local, que ainda é um gargalo para que mais indústrias e investimentos possam vir para cá. São eles que trazem empregos que podem remunerar melhor e ampliar o poder de compra, tendo uma condição de vida boa desse trabalhador”, completa.
Economista ressalta que renda está ligada a desenvolvimento do estado
O economista Valfredo Farias analisa que o desenvolvimento de um estado quanto a renda média está ligado a questões que envolvem investimentos em educação e tecnologia, criando infraestrutura adequada para o crescimento industrial. “Esses estados geralmente têm mais empregos, a renda é melhor devido ao nível educacional da população e, por sua vez, a renda per capita fica bem alta. O que acontece com o Pará: ele é um estado que não tem muitas indústrias, tem as mineradoras e poucas outras, mas não tem um parque industrial pesado na questão de fazer bens de capital”, explica.
Com uma produção setorizada e focada em poucas cidades, como Marabá, Parauapebas e Barcarena, a distribuição geral da renda para outros municípios desaba e gera o contexto apresentado. “Justamente porque as pessoas não têm emprego, a maioria vive de auxílios do governo, benefícios, que são baixos e isso contribui para a renda per capita desabar, então o grande problema do Pará é essa parte educacional, a gente tem poucas pessoas qualificadas para ganhar mais e poucos auxílios, nosso estado padece de boas políticas de desenvolvimento”, afirma Valfredo.
Impactos da baixa renda no dia a dia
Quando o poder de compra de uma população é reduzido, isso afeta tudo ao redor: comércio, indústrias e serviços. Conforme aponta o economista, esses setores faturam menos. “Infelizmente, no nosso estado, a concentração de renda deve ser muito forte, justamente pela renda per capita baixa. A gente sabe que aqui no estado tem muita gente rica, milionária e, por sua vez tem muita gente pobre, o índice de GINI [instrumento para medir o grau de concentração de renda e índice de desigualdade] aqui no Pará é bem desvantajoso, bem baixo, a concentração de renda deve ser alta e tudo isso impacta no dia a dia da economia”, finaliza Valfredo.
A reportagem do Grupo Liberal solicitou posicionamento à Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) para saber quais medidas estão sendo colocadas em prática no Pará para mudar os índices e não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
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