Pandemia não afetou geração de empregos formais no Pará, aponta pesquisa

Levantamento do Dieese, com base no Caged, mostra que Estado manteve geração de emprego em meio à crise sanitária e econômica

Daleth Oliveira
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Ontem (11) completou três anos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia a covid-19, impondo restrições que alteraram nossas formas de se relacionar, consumir e até mesmo, trabalhar. A partir de março de 2020, o mundo enfrentou uma crise sanitária e econômica, mas o paraense conseguiu chegar até 2023 sem prejuízos nos empregos. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostram que nos últimos três anos foram criados mais de 134 mil postos de trabalho no Pará.

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O levantamento mostra que em 2020, primeiro ano da pandemia, o Estado registrou a abertura de 29.987 empregos. Entre os 12 meses, apenas três tiveram redução das ocupações: março, abril e maio de 2020.

Em março daquele ano, o Pará perdeu 2.693 empregos. Em abril, -10.951; e em maio, -3.446. O economista Everson Costa analisa o período como o mais perverso de toda a pandemia para a economia paraense.

“Nós abrimos o ano de 2020 com saldos positivos de empregos em janeiro e fevereiro. Entretanto, após os decretos que limitavam a circulação de pessoas, perdemos 17 mil empregos em março, abril e maio. Essa queda pegou em cheio todos os setores econômicos, principalmente serviço, comércio e construção, justamente aqueles que têm a maior quantidade de trabalhadores, concentrando 80% das pessoas trabalhando com carteira assinada. Portanto, esse período foi muito perverso”, afirma o especialista.

Retomada dos empregos

Após os três meses, os empregos voltaram a subir, reduzindo os prejuízos deixados pelas primeiras semanas de restrições sanitárias. Para Everson, essa retomada se deu graças às políticas de assistência e facilitação de crédito para trabalhadores e famílias de baixa renda.

“A partir do mês de junho, julho, agosto até meados de novembro, o mercado de trabalho começa a reagir com liberação de recursos emergenciais, injeção de recursos por parte do Governo Federal, Governo do Pará, entre outros créditos liberados à população. Tais medidas permitiram que o Estado ainda pudesse apresentar saldo positivo de empregos formais ao final do ano. 2020 foi difícil, mas ainda assim foram criados quase 30 mil postos de trabalhos”, acrescenta o economista.

Contudo, o especialista critica a demora para a liberação dos auxílios durante a pandemia. O Governo Federal, por exemplo, só pagou a primeira parcela do Auxílio Emergencial no valor de R$ 600 no dia 19 de maio daquele ano.

“A retomada econômica tinha que ser impulsionada essencialmente pelos governos, mas atrasamos e tivemos o desafio de identificar as pessoas que estavam invisíveis para o Estado, aqueles que por acaso não tinham CPF, entre outros. No âmbito estadual, foi criado o plano de retomada econômica, mapeando as regiões por cores, bandeiras e risco de contaminação. A partir daí começamos a trabalhar não só na liberação das atividades, mas também na injeção de recursos na economia”, relembra Everson Costa.

Em outubro de 2020, foi instituído o Renda Pará, programa estadual responsável por transferir recursos aos mais atingidos social e economicamente pela pandemia da covid-19. O reforço financeiro foi no valor de R$ 100, pago em cota única, aos paraenses cadastrados no Bolsa Família. Outro auxílio no valor de R$ 500 também foi criado para outras categorias de profissionais, principalmente aqueles que dependiam da circulação de pessoas para trabalhar, como músicos, garçons, cabeleireiros e manicures. Donos de bares, restaurantes, lanchonetes, academias e arenas receberam R$ 2 mil.

Exemplo de superação

Nas primeiras semanas de pandemia, o empresário Raphael Nogueira, 38, achou que veria o fim do seu negócio. Ele administrava uma padaria e uma distribuidora de pães para hambúrgueres, que funcionam paralelamente com 17 funcionários.

Com as restrições de circulação de pessoas, ele até ficou com medo de não sobreviver ao lockdown, porém, com a mudança de comportamento do consumidor e, consequentemente, os padrões de consumo, precisou adaptar seu empreendimento e viu seu time de funcionários crescer.

“Eu pensei que iríamos fechar as portas. Temi pela diminuição de clientes, já que as hamburguerias de Belém iam fechar e 80% dos nossos clientes tinham pontos físicos. Entretanto, o que percebemos foi o movimento contrário. As pessoas que moravam em condomínios começaram a fazer lanches para vender, muitas hamburguerias passaram a trabalhar com delivery, as pessoas em casa passaram a pedir mais e com isso, precisei contratar mais 5 funcionários ainda em 2020”, relembra o empresário.

A demanda e fama da qualidade dos pães do Pão de Belém cresceram tanto, que não demorou muito para que a empresa encerrasse a atividade como padaria convencional e investisse mais na produção focada para as hamburguerias. Raphael destaca que a atuação do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado do Pará (Sindipan) foi essencial para ajudar na manutenção dos empregos.

“Não cheguei a demitir ninguém. O nosso sindicato trabalhou para que as padarias fossem consideradas essenciais no período do lockdown, então não precisamos encerrar as atividades. O que fizemos foi adequar os horários e funcionamentos da padaria aos decretos estaduais que determinavam as restrições”, acrescenta

Hoje, a empresa tem 33 funcionários. “Quem se adequou à delivery, conseguiu se manter durante a crise”, finaliza Raphael Nogueira.

2021 e 2022

Em 2021, todos os setores econômicos voltaram a crescer e gerar empregos, totalizando 72.731 novas contratações. Os que mais se destacaram foram o de comércio, serviços e construção, que criaram 23.071, 21.964, e 13.585, respectivamente.

Já 2022, com um crescimento mais retraído em relação ao ano anterior, também registrou aumento dos postos de trabalho, com exceção da construção que perdeu 927 ocupações. No total, 31.396 novos empregos foram abertos. Mas apesar do saldo positivo, os empregados sentiram negativar seus bolsos com a inflação nas alturas, afirma Everson.

“Ano passado já tínhamos boa parte das atividades de volta, o que gerou uma expectativa maior de vendas e faturamento que só não se concretizou porque 2022 foi um ano de custos muito elevados. Foi a pandemia cobrando a sua fatura. Ela prejudicou a cadeia mundial de insumos, de produção de bens, serviços e tudo encareceu. Não à toa, foi o ano em que a inflação no país chegou a bater 12%. Com tudo encarecendo, o trabalhador perde o poder de compra, ajudando a encolher o mercado de trabalho. Por isso, 2022 teve menos empregos que 2021”, considera o especialista.

Superamos a pandemia?

Definitivamente não. Primeiro, porque a OMS ainda não declarou o fim da pandemia. Segundo, porque o Pará ainda não voltou a gerar empregos como no período pré-pandemico. Everson destaca que setores como turismo e comércio são os que mais estão distantes da superação, mas que neste ano, pode voltar a ser o que era antes.

“Para 2023, a expectativa é que o turismo e o comércio voltem a crescer como antes. Mas não é possível dizer que todos superaram a pandemia porque todos os setores, em alguma medida, ainda têm dificuldades heranças da covid-19”, encerra Everson Costa.

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