'Nunca estivemos tão perto de acabar com a emergência da covid', diz epidemiologista da OMS
Em entrevista ao Globo, Maria Van Kerkhove afirmou que a Organização esperava ter encerrado a emergência no ano passado, mas "as ferramentas disponíveis" não foram usadas de maneira eficaz
A epidemiologista americana Maria Van Kerkhove, líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a covid-19, afirmou que a entidade "nunca esteve tão perto de acabar com a emergência" para a doença. "Na verdade, esperávamos ter encerrado no ano passado, mas não utilizamos as ferramentas disponíveis da maneira mais eficaz em todo o mundo. Mas certamente estamos indo na direção certa, estamos em uma fase diferente", afirmou. As declarações foram dadas em entrevista exclusiva ao portal Globo, durante participação na 6ª Conferência Global de Ciência, Tecnologia e Inovação (G-Stic), no Rio de Janeiro.
Ela observou que já há ferramentas que podem salvar vidas, inclusive no atendimento clínico com antivirais e outras terapias, além das vacinas. "Se as pessoas recebem o reforço e doses adicionais, sabemos que esse nível de proteção permanece muito alto por algum tempo. Então estamos em um estágio diferente, nunca estivemos tão perto de acabar com a emergência", ressaltou.
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Porém, segundo Maria Van Kerkhove, ainda são registradas entre 10 e 40 mil mortes por semana por covid, principalmente de indivíduos mais velhos e pessoas que não foram vacinadas completamente. "Isso é algo sobre o qual temos controle", disse.
"Acabar com essa emergência exige um esforço conjunto ao redor do mundo, reconhecendo as situações diferentes de cada país com base no histórico da pandemia, na circulação de variantes, nas estratégias que foram implementadas, no nível de imunidade por infecção e/ou vacinação, na capacidade e agilidade dos países para usar e ter acesso às ferramentas que salvam vidas. Além de outros fatores, como emergências simultâneas de saúde, e até mesmo não relacionadas à saúde, como guerra, deslocamento, inundações, secas", completou.
Variantes
A epidemiologista da OMS informou também que há mais de 600 linhagens conhecidas da Ômicron circulando no mundo, entre elas a XBB.1.5, que tem uma vantagem de crescimento em comparação com as outras em circulação. "Mas em termos de gravidade ainda não temos um sinal de que seja mais ou menos severa".
Nesse cenário, ela explica que a Organização Mundial de Saúde deve continuar vendo ondas de infecção por subvariantes. "Mas o que queremos, e temos o plano e controle para isso, é que essas ondas não se traduzam em hospitalizações e mortes. É nisso que estamos realmente tentando focar no momento".
Segundo ela, a grande preocupação em torno das variantes e da evolução do vírus Sars-CoV-2 é o fato de não ser possível saber ao certo como ele irá evoluir, mas há muitas pessoas trabalhando nisso, observando as diferentes mutações e as sublinhagens da Ômicron.
"Há muita incerteza. Faz apenas três anos que lidamos com esse vírus, embora pareça muito mais tempo. Nosso entendimento ainda é bastante limitado. Por isso, temos que nos preparar para diferentes tipos de cenários. Não sabemos se haverá uma mudança na gravidade. Essa é a grande preocupação agora".
Maria Van Kerkhove diz ainda que é necessário fortalecer a vigilância e garantir uma boa estrutura para rastrear variantes conhecidas e detectar novas variantes. "Que tenhamos um bom monitoramento em populações vulneráveis para identificar uma eventual mudança na gravidade muito rapidamente".
Ele também destaca a importância de melhor acesso a diagnósticos em todo o mundo e aos antivirais, para que o caminho de atendimento clínico para Covid possa ser otimizado. "Na maioria dos países (o atendimento clínico) é muito ruim em termos de fornecer aos pacientes os cuidados de que precisam com a rapidez necessária", disse.
"Também precisamos garantir a vacinação de 100% dos grupos de risco, pessoas com mais de 60 anos, pessoas imunocomprometidas e trabalhadores da linha de frente. E certificar que esses grupos recebam um reforço dentro de quatro a seis meses após o último. E precisamos lidar massivamente com a desinformação, porque essa circulação está minando as ferramentas que são eficazes contra a Covid. Todas essas coisas precisam acontecer, não precisam ser perfeitas, mas precisam estar em um estado muito melhor para que possamos continuar reduzindo a mortalidade", completou.
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