Estudo inédito sobre as ilhas de Belém analisa expansão urbana e sustentabilidade
A pesquisa fornece dados para traçar caminhos para o desenvolvimento eficiente e equilibrado

Para além da Belém metrópole, há a Belém das ilhas. São 42 ao todo, compondo uma capital diversa, com cidade, floresta, praias e biodiversidade amazônica, mas muito dessa diversidade ainda é desconhecida. Foi buscando aprofundar esse conhecimento que pesquisadores desenvolveram o “Boletim das Ilhas”, um estudo com informações detalhadas sobre as ilhas da capital paraense e suas características únicas.
O objetivo é produzir e divulgar informações científicas voltadas para o benefício da sociedade em geral, fornecendo subsídios para a tomada de decisões, educação e planejamento de ações sustentáveis por parte de gestores, acadêmicos e sociedade civil. O estudo foi desenvolvido pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).
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Cada estudo contém mapas sobre a altimetria, relevo, uso e cobertura da terra, além da espacialização de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tais como: a malha censitária e espécies de endereços. A partir dos dados, é realizada a delimitação das ilhas em unidades geoambientais, considerando características específicas em cada unidade. A delimitação das ilhas em unidades geoambientais, considerando os aspectos físicos e sociais, mostra-se como ferramenta para o planejamento e gestão territorial, auxiliando no desenvolvimento sustentável das ilhas.
“Conhecer os elementos físicos e sociais que formam a dinâmica ambiental de cada paisagem é fundamental para compreendermos o cenário em que cada ilha se encontra, entendendo suas particularidades já que correspondem a áreas territoriais menores que não apresentam dados advindos de fontes oficiais. E este é o objetivo fundamental do boletim, produzir dados que consigam subsidiar e gerir tomadas de decisões no que se refere à gestão e ordenamento ambiental adequado para cada ilha analisada”, aponta Elias Klelington, bolsista de geografia da Diretoria de Pesquisas e Estudos Ambientais (Dipea/Fapespa).
Territórios de Belém
O boletim iniciou em 2024 e já está na sua terceira edição, que traz informações sobre as ilhas de Cotijuba, Mosqueiro e Caratateua (Outeiro). Em breve, será lançada uma nova edição do Boletim das Ilhas, contemplando as ilhas do Combu e Ilha das Onças, também localizadas em Belém do Pará, ampliando ainda mais o conhecimento sobre esses territórios e suas especificidades ambientais e sociais.
“O estudo realizado pela Fapespa sobre as ilhas de Belém é essencial para a gestão sustentável desses territórios, fornecendo dados científicos que auxiliam na preservação ambiental, no planejamento urbano e na melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Com o avanço da expansão urbana e as pressões ambientais, compreender as dinâmicas físicas e sociais dessas ilhas se torna fundamental para subsidiar políticas públicas eficazes. Além das edições já publicadas, a próxima fase do Boletim das Ilhas trará informações sobre as ilhas do Combu e Ilha das Onças, ampliando ainda mais o conhecimento e contribuindo para a construção de soluções sustentáveis para Belém e seu entorno", disse Maiara Cordeiro, coordenadora de Estudos Territoriais (CET) da Diretoria de Estudos e Pesquisas Ambientais da Fapespa.
Cotijuba
O estudo identificou que a ilha de Cotijuba possui área de 16 km². No setor turístico, após a construção do trapiche de Icoaraci no ano 2000, passou a apresentar atividade turística crescente, um cenário diferente de até o início deste século, quando não obtinha fluxo de forma expressiva. Esse fenômeno transformou as principais atividades da ilha, que antes eram agrícolas e extrativistas e passaram a ser, principalmente, o turismo. Essa nova dinâmica é confirmada com o crescimento da mancha urbana de quase 100% na ilha, que em 2001 tinha 2,24 km² e, em 2023, passou a representar 4 km², com a presença significativa de endereços particulares e bares e restaurantes nas proximidades das praias.
O estudo observou ainda outro aspecto particular de Cotijuba: a presença de uma área com vegetação de gramíneas e lagos, ao centro da ilha, com 1,48 km², denominado pela pesquisa como “região dos lagos”. O local apresenta característica física e dinâmica ambiental distinta das demais regiões da ilha.
Mosqueiro
Dentre as ilhas de Belém, Mosqueiro é a que apresenta maior extensão territorial, com aproximadamente 213 km², equivalente a cerca de 20% da área do município de Belém. O boletim observou que a ilha tem atividades diversificadas como a turística, agrícola, extrativista e pesca, tendo esta última uma importante representatividade na economia de Mosqueiro. Nas últimas décadas, a ilha também registrou crescimento em sua área urbana, que dobrou de tamanho, passando de 5,92 km² para 10,16 km².
Consequentemente, houve perda de floresta densa que antes representava 148,25 km² e atualmente possui 136,69 km². Ainda assim, a pesquisa identificou que, apesar desta perda, houve crescimento de vegetação secundária: de 17,50 km² para 38,92 km², fator que facilita a manutenção da biodiversidade da ilha por possibilitar a conexão de suas áreas florestais.
Outeiro
Já a ilha de Caratateua, popularmente conhecida como Outeiro, possui aproximadamente 31 km² e se caracteriza por sua dinâmica populacional estar historicamente conectada a área continental de Belém. Portanto, o seu fluxo de pessoas não está vinculado estritamente ao turismo, mas principalmente a outras atividades, uma vez que os moradores que vivem na ilha trabalham e estudam na cidade de Belém.
Outro ponto importante identificado é a ausência de “Estabelecimento agrícola”. Essa categoria é mapeada pelo IBGE, mas não há mais registro desses espaços em Caratateua, apesar da ocupação da ilha ter sido iniciada por meio da agricultura de subsistência, principal atividade econômica, implementada por seus primeiros habitantes.
Até o ano de 2002, a ilha obtinha área urbana de 3,93 km² e em 2023 passou a representar 6,50 km², ocasionando a perda de floresta densa. Em 2002 a área florestal representava 15,97 km² e em 2023 passou a possuir 15,51 km². Do mesmo modo, houve diminuição na área de vegetação secundária, que anteriormente representava 2,96 km² e atualmente possui 1,76 km².
Sustentabilidade e COP 30
Os estudos apontam desafios na garantia da sustentabilidade ambiental, alavancados pela “pressão urbana”, em um contexto de realização em Belém da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30).
Para a diretora de Estudos e Pesquisas Ambientais da Dipea/Fapespa, Luziane Cravo, a iniciativa está alinhada ao compromisso da instituição com o fornecimento de informações científicas para gestores públicos, sociedade civil e acadêmicos.
“A análise detalhada das ilhas permite a criação de políticas públicas específicas que atendam às suas necessidades únicas. Cada ilha apresenta desafios próprios, como a expansão urbana, que interfere no equilíbrio ambiental e social. Esses estudos fornecem dados para subsidiar as ações governamentais, incluindo a revisão de planos diretores e a proposição de soluções sustentáveis. É por meio desse tipo de diagnóstico que podemos traçar caminhos para um desenvolvimento equilibrado e eficiente. Além disso, apesar dos estudos serem direcionados para as ilhas do entorno de Belém, o método pode ser replicado e utilizado para qualquer localidade, podendo ser aporte para tomadores de decisão em escala municipal”, detalha.
*Ayla Ferreira, estagiária de Jornalismo, sob supervisão de Camila Guimarães, repórter de oliberal.com
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