Coletânea Marés destaca a nova geração da música paraense e ganha show de lançamento em Belém

Projeto reúne artistas independentes e reforça a diversidade da cena musical do estado

Matheus Viggo

A música paraense está em constante transformação, misturando influências amazônicas, afro-brasileiras e globais. Do pop ao carimbó, do tecnobrega ao indie, a nova geração de artistas do Pará expande os horizontes sonoros do estado, consolidando a região Norte como um dos polos mais diversos da música brasileira. Com essa proposta, a coletânea Marés chega às plataformas digitais nesta terça-feira (25) e terá um show de lançamento no sábado (29), às 20h, no espaço Na Figueredo, em Belém.

O projeto, desenvolvido pelo selo Caquí e produzido por Pratagy e Reiner, reúne nove faixas inéditas de artistas que representam a nova cena paraense, como Sidiane Nunes, Agarby feat. Layana, W Mateu-U, Paulyanne Paes, Lina Leão, Mist Kupp, o duo COUT, Helena Ressoa, Matheus Pojo e Jheni Cohen. A coletânea também conta com a participação de instrumentistas como Lariza, Larissa Medeiros e Batuque da Lua Crescente.

Mais do que um álbum colaborativo, Marés tem como objetivo refletir a pluralidade cultural e social da Amazônia. O projeto dá protagonismo a mulheres cis e trans, artistas LGBTQIAPN+ e músicos periféricos, reforçando a importância da representatividade na cena musical. “A possibilidade de reunir artistas de diferentes regiões de Belém e do estado enriquece e atualiza a história da nossa música de forma natural. O Pará é uma terra ancestral, mas também está profundamente conectado com as tendências do mundo inteiro”, afirma Reiner.

Sonoridades que representam o Pará contemporâneo

Cada artista envolvido participou ativamente da curadoria, dos arranjos e da produção musical, tornando Marés um registro fiel da cena independente paraense. “Dentro do cenário nacional, a nossa música oxigena o indie. Esse trabalho é um alívio para a cena brasileira”, destaca Reiner. Entre os destaques, Pesqueira, de Sidiane Nunes, combina R&B com percussões de lundu e carimbó, criando um som sensual e envolvente. Já Mana, parceria entre Agarby e Layana, apresenta um carimbó moderno com letras escritas em pajubá, dialeto LGBTQIA+, retratando a vida noturna de Belém.

A música Marés, de W Mateu-U, sintetiza a identidade do álbum. “Levantar um som para nós é algo político, é lutar contra as forças que historicamente tentam derrubar nossas florestas e culturas. Por isso essa música acabou dando nome ao disco”, explica Pratagy. A coletânea também traz Marajó, de Paso, que mescla referências do indie global a ritmos amazônicos; Corpo Gaia, de Lina Leão, que transforma sua voz em um mantra hipnótico; Motinho Envenenada, de Mist Kupp, faixa eletrônica cheia de graves e energia; Colapso, do duo COUT, que explora o peso do rock alternativo; Amaré, de Helena Ressoa, que revisita o xote de forma experimental; Urano, de Matheus Pojo, que resgata elementos do soul brasileiro dos anos 1970; e Boca Latina, de Jheni Cohen, que mistura o indie dançante ao tecnobrega.

O papel do selo Caquí e o fomento à cena paraense

Criado por Pratagy e Reiner, o selo Caquí tem se consolidado como um dos principais impulsionadores da música independente no Pará. A iniciativa busca tornar a cena musical mais sustentável e acessível, oferecendo suporte a novos talentos e fomentando a produção artística local.

O projeto Marés foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear), ao lado de outros importantes nomes da cena, como AQNO, Festival Apoena e Rawi. Até 2022, a plataforma já havia oferecido recursos para mais de 80 projetos no estado, apoiando artistas como Dona Onete, Raidol, Nic Dias e festivais como Mana, Lambateria e Psica.

Para Reiner, Marés representa um marco para a música paraense. “Essa coletânea é um passo importante para que o Brasil conheça a diversidade da nossa cena. O Pará é um estado musicalmente rico e inovador, e essa nova geração está trazendo um olhar fresco e autêntico para a nossa cultura”, conclui.

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