PEC contra a escala 6x1: Veja a opinião dos deputados paraenses

Parlamentares do estado discordam sobre os efeitos da medida e fazem projeções de impacto

Maycon Marte
fonte

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da escala 6x1, jornada com 6 dias de trabalho e 1 de descanso, dividiu opiniões e protagonizou discussões durante a semana. De um lado, os favoráveis apontam melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores com um tempo de lazer mais justo, sem redução de salário, e do outro, os contrários preveem uma crise na economia com preços elevados e crescimento da informalidade. Dos 16 deputados federais do Pará em exercício, 11 assinaram o projeto e 5 rejeitaram. Além deles, representantes do setor produtivo estadual também se posicionaram, veja o que dizem a respeito.

A proposta, de autoria da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), precisava do apoio de um terço do total de parlamentares, ou seja, 171 assinaturas, e conseguiu ultrapassar esse número na última quarta-feira (13). A medida estabelece que a jornada de trabalho passe a oferecer três dias de folga para quatro trabalhados, e que isso seja feito sem alteração do salário ou demais benefícios. Essa discussão se originou no movimento Vida Além do Trabalho, liderado pelo recém-eleito vereador Ricardo Azevedo (Psol-RJ). O texto deve passar por comissões no Congresso, sendo discutido e aperfeiçoado. É possível que nessas comissões se chegue a um meio termo, em vez de 4x3, resulte em uma proposta de jornada 5x2 (cinco dias trabalhados para dois de descanso).

Apesar de contar com maioria favorável entre os parlamentares paraenses, o texto como está divide opiniões na Câmara e no setor produtivo do estado. Nas suas redes sociais, o Conselho de Jovens Empresários da Associação Comercial do Pará (Conjove/ACP) manifestou preocupação com a movimentação em torno da mudança. Na análise do Conselho, a nova jornada aumentaria os custos operacionais das empresas, que precisariam “contratar mais funcionários ou pagar horas extras para manter o mesmo nível de produção”.

“A imposição da adoção de uma jornada de trabalho com carga horária extremamente reduzida e sem a correspondente redução de salário, pode comprometer a eficiência operacional de empresas de diversos segmentos, especialmente aquelas que operam em regime contínuo, como comércio, serviços e indústria”, diz a entidade.

Parlamentares contrários

Em resposta ao Grupo Liberal, o deputado federal Joaquim Passarinho (PL) se posiciona “contrário ao projeto, mas não à ideia”. Ele afirma que não há estudo técnico para assegurar os efeitos positivos da medida e também projeta impactos significativos na economia, como o crescimento da informalidade e o encarecimento de produtos e serviços.

“Imagina qual vai ser o impacto no transporte público se eu tenho um motorista e um cobrador trabalhando com escala de seis para um e passo para quatro por três. Vamos ter que contratar pelo menos um terço a mais de pessoas, e isso vai para a planilha de custo da passagem de ônibus. O cidadão quer fazer isso? Essa é a discussão”, explica Passarinho sobre os efeitos do projeto.

Setores como a educação, na sua visão, não seriam afetados já que seguem um modelo com cinco dias trabalhados, diferentemente de comércio e serviços, que, segundo ele, recebem o principal impacto, com a necessidade de mais funcionários e o gasto a mais que isso representaria. Por isso, Passarinho também defende que a medida deveria estabelecer diálogo com cada setor em vez de impor um padrão geral.

Argumentos muito semelhantes são utilizados pelo deputado federal paraense Delegado Éder Mauro (PL), para questionar a viabilidade do projeto, como, por exemplo, a inexistência de estudos de impactos. “Não temos sequer uma pesquisa que detalhe a opinião dos dois lados: do trabalhador e dos empresários. Sem dados e sem pesquisa, é impossível concordar com essa proposta vazia”, afirma.

O parlamentar também afirma que o texto da medida negligencia os empreendedores. “Não há qualquer menção aos empreendedores, uma parcela hoje significativa dos trabalhadores brasileiros”, enfatiza. Para ele, é necessário considerar a contribuição dessa categoria para a economia, pois, como lembra, eles “trazem riqueza econômica para o Brasil”.

VEJA MAIS

image Fim da escala 6x1 beneficiará mulheres, afirma ministra Cida Gonçalves
“Para as mulheres vai ser um benefício, significa ter mais tempo para se cuidar, se preparar ou mesmo para cuidar do que quiser”, disse a ministra.

image Fim da escala 6x1: Famosos expressam suas opiniões sobre a PEC
Celebridades como Felipe Neto e Valesca Popozuda se posicionaram favoráveis ao fim da escala 6x1

image Proposta que acaba com escala 6x1 é 'bastante prejudicial' ao trabalhador, diz Campos Neto
A PEC já reuniu assinaturas suficientes para ser apresentadas

Parlamentares favoráveis

A deputada federal pelo Pará Elcione Barbalho (MDB) está entre os 11 representantes do estado que assinaram a PEC contra a jornada de 6x1. Questionada sobre a sua avaliação do projeto, ela afirma ser papel da Câmara ouvir e trabalhar em favor das necessidades da sociedade. "A discussão da jornada de trabalho é um clamor da sociedade, e o parlamento não pode se furtar de abrir a discussão, por isso assinei a PEC”, esclarece sobre sua posição.

Ao seu lado, Airton Faleiro (PT), também eleito pelo Pará, intensifica os argumentos em favor do texto. Sua assinatura foi principalmente pela necessidade da saúde física e mental dos trabalhadores, o que, segundo ele, a jornada de trabalho atual não proporciona. Para ele, a nova jornada beneficiaria as pessoas com “uma condição melhor de se relacionar com a família e também de repor suas energias, além do efeito psicológico, na saúde mental”.

O parlamentar lembra que a discussão não é nova, mas que dessa vez a comoção popular foi o fator essencial para impulsionar a discussão no parlamento. Airton também projeta um crescimento na geração de empregos do país, como reflexo da necessidade por mais mão de obra que surgiria, caso a nova jornada seja aprovada. Além da qualidade de vida, o deputado destaca a medida como uma reparação social.

“Há um abismo entre o que recebe um trabalhador ou uma trabalhadora e o lucro do empresário. Então, o que precisa no Brasil é diminuir a distância entre os muito ricos e os que não recebem o suficiente para a sua sobrevivência, e ainda com uma longa jornada de trabalho”, afirma.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Política
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM POLÍTICA

MAIS LIDAS EM POLÍTICA