Milei deve ter relação fria com Lula e impedir avanço da agenda de esquerda na América do Sul
Novo presidente da Argentina promete romper com o passado da esquerda
Após a vitória nas eleições do último domingo (19), o libertário Javier Milei, que será o novo presidente da Argentina a partir de 10 de dezembro, deve manter uma relação mais fria com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e impedir uma tentativa de imposição de pautas ideológicas de esquerda na América do Sul, na avaliação de alguns especialistas.
Eleito com 55,69% dos votos - bem à frente do segundo colocado, o candidato do governo Sérgio Massa (44,30%) - Milei assume um país que enfrentar a sua pior crise econômica em décadas, com a maior inflação em mais de 30 anos (de 142% em 12 meses), reservas escassas e em um cenário de caos social.
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A América do Sul passa, agora, ter quatro presidentes de direita, contando ainda com Uruguai, Paraguai e Equador. Outros nove países possuem governos de esquerda: Brasil, Bolívia, Chile, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, que é subordinada à França por ser um departamento ultramarino.
"Certamente que se tivesse havido a vitória de Sergio Massa, a relação entre presidentes (argentino e brasileiro) seria melhor, porque eles são mais alinhados em termos ideológicos. Mas isso não significa que o desalinhamento ideológico vai impactar, necessariamente, de forma negativa nas relações entre os países. O que prevalece nas relações entre os países e os Estados, é o pragmatismo", avaliou professor de Relações Internacionais do Ibmec Brasília, Ricardo Caichiolo, em entrevista ao jornal Gazeta do Povo.
No dia seguinte às eleições da Argentina, nesta segunda-feira (20), o ex-presidente Jair Bolsonaro conversou com Javier Milei por telefone e foi convidado para a posse em Buenos Aires.Bolsonaro deve viajar ao país vizinho com uma comitiva formada por cerca de dez pessoas. Já o assessor de assuntos especiais de Lula, Celso Amorim, disse em entrevista ao jornal O Globo que o petista não irá à posse de Milei. Ele será representado por membros do governo, que serão escalados a depender do "tom" que o novo presidente adotar com Lula nos próximos dias.
“A vitória de Milei na Argentina introduz incertezas, mas também oportunidades na relação com o Brasil, sobretudo no contexto do Mercosul e das relações comerciais bilaterais. A chave será a capacidade de adaptação e negociação para garantir o fortalecimento das relações econômicas e comerciais entre os dois países”, observou Eduardo Galvão, professor de relações governamentais do Ibmec-DF.
Também existe a possibilidade de Lula perder espaço na América do Sul, no qual vem tentando assumir a posição de líder. Houve a tentativa, por exemplo, de reativar a União das Nações Sul-Americanas, a Unasul, bloco de esquerda desde sua concepção em 2008. Porém, a ideia foi frustrada por outros presidentes, entre eles Luis Lacalle Pou, do Uruguai. Além disso, quatro países sul-americanos passam a ser presididos por líderes de direita – três deles integrantes do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Lula será o único presidente de esquerda do bloco deve encontrar resistência para pautar temas com teor ideológico, inclusive a possibilidade de reintegração da Venezuela à organização.
Para Rogério Pereira de Campos, doutor em ciências sociais e pesquisador da Fundação Araporã, deve haver resistência em discussões no Mercosul. "É lógico que alinhamentos políticos semelhantes facilitam a comunicação, mas não quer dizer que posicionamentos diferentes impeçam a existência do bloco. Talvez criem um pouco mais de resistência e maior necessidade de alinhar pontos", avaliou, em entrevista ao Gazeta do Povo.
"O problema dessas tratativas é que elas envolvem muitos fatores, não é só o lado econômico ou político, existem parcerias, existem acordos comerciais bilaterais entre os países... e tudo isso interfere nessas negociações. Um país está sempre buscando o melhor para ele, e o melhor para ele não necessariamente é o melhor para o outro país", continuou o pesquisador.
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