Lula participa de encontro com povos tradicionais da Amazônia em Belém

Candidato prometeu representação oficial indígena no governo e valorização da floresta em pé

Fabrício Queiroz
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O candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou a proposta de criação do Ministério dos Povos Originários e defendeu a indicação de indígenas para cargos no Executivo, caso seja eleito. O ex-presidente participou ontem de um evento denominado Encontro de Lula com os Povos da Floresta e das Águas, realizado no Parque dos Igarapés, em Belém. Foi o segundo dia de campanha eleitoral na capital antes de viajar para São Luís (MA).

“Eu não sei se eu tenho a grandeza para representar os povos da floresta. O que eu posso dizer pra vocês é que só tem uma razão pra eu voltar a ser candidato: é fazer mais do que eu fiz no meu primeiro mandato, cuidar melhor das pessoas. Por isso que eu tenho dito que as pessoas precisam se preparar, porque vamos criar o Ministério dos Povos Indígenas. O presidente da Funai não precisa ser um branco igual a mim, pode ser indígena. A quantidade de médico que já tem formado indígena, eles próprios podem cuidar da saúde indígena”, declarou o petista, durante o evento.

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Lula também fez referência à fala do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles que propôs aproveitar a pandemia para “passar a boiada” e flexibilizar o regramento ambiental do país. “A boiada não vai passar mais. Temos que criar na sociedade brasileira a consciência de que a manutenção da produção na floresta em pé é mais saudável, mais rentável, do que tentar derrubar árvore para plantar soja, plantar milho ou criar gado”, argumentou, que também criticou o garimpo ilegal na Amazônia e saiu em defesa dos empreendimentos que atuam conforme a lei. Segundo ele, aqueles que agem com irresponsabilidade, que desmatam ou fazem queimadas, não são pessoas responsáveis e que trabalham dignamente para produzir e para vender.

image Indígenas, quilombolas, extrativistas, pescadores, religiosos de matriz africana e outros formaram a plateia do Encontro de Lula com povos tradicionais (Thiago Gomes / O Liberal)

Em outro ponto do discurso, o petista também mencionou a importância de que o país invista mais em ciência e tecnologia. “É preciso mais escola técnica, mais instituto federal. É preciso melhorar o ensino fundamental, é preciso mais universidades, para que o Brasil se transforme em um país onde sua juventude tenha emprego qualificado”. Além disso, prometeu também recriar os ministérios da Pesca e da Cultura. Nesse último caso, Lula disse que pretende implantar comitês da área em cada capital brasileira. “Cultura é o país conhecer a riqueza da nossa diversidade cultural que existe em todos os cantos do país”, frisou.

Parte do público também questionou o candidato e pediu que ele falasse sobre intolerância religiosa. Em resposta, Lula disse que o estado é laico e pregou respeito aos princípios constitucionais.  “O estado brasileiro é laico. Sou católico e acho que da mesma forma que o estado não pode ter religião, a igreja não pode ter partido. Todas as religiões desse pais serão profundamente respeitadas. Todo mundo tem o direito de crer em seu deus. Haverá respeito a todas as religiões. Todo mundo será respeito porque é isso que está na constituição brasileiro”.

APOIO

Desde o início da manhã apoiadores, representações de movimentos sociais, grupos indígenas, quilombolas, extrativistas, pescadores, sindicalistas, líderes religiosos de matriz africana se concentravam na porta do local, que tinha acesso restrito para convidados. Pouco antes das 10h, Lula foi recepcionado por uma comitiva de políticos, indígenas e religiosos sob forte esquema de segurança.

Também estavam presentes no encontro a esposa Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja; o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante; os deputados federais petistas Zé Geraldo, Airton Faleiro e Beto Faro; o senador Paulo Rocha; o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), além de pesquisadores, como a professora Zélia Amador de Deus e a antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, assassinado em junho deste ano junto com o jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari (AM).

Na abertura da plenária, foi respeitado um minuto de silêncio em memória de povos ancestrais, de Bruno Pereira e de Dom Philips. Em seguida, Beatriz Matos discursou e disse que a maior homenagem para este caso é assegurar que a justiça seja feita. “O maior legado dele é a garantia dos direitos do indígenas isolados pelos quais ele deu a vida. Para isso, é preciso manter políticas de não-contato, fortalecer a Funai, fortalecer as áreas de proteção etnoambiental e demarcas as terras dos isolados. É preciso também que as políticas para os isolados sejam baseadas em conhecimentos técnicos e científicos”, destacou.

Também subiram ao palco representantes de comunidades extrativistas e pescadores que entregaram um documento com demandas para a regularização de terras dos povos tradicionais. Por sua vez, Elionete Souza e Aurélio Borges, que estão à frente de associações quilombolas do Pará, pediram compromisso do ex-presidente com a titulação de territórios e com o respeito ao direito dos povos tradicionais à consulta prévia, livre e informada. Um cacique da etnia Parakanã preferiu falar na língua do seu povo para solicitar o fortalecimento da Funai, da saúde indígena, da educação dentro das aldeias e mais segurança nos territórios com apoio do Ibama e da Polícia Federal.

image Em seu discurso, o ex-presidente disse que pretende ter representação indígena em seu governo, caso seja eleito (Igor Mota / O Liberal)

Já os representantes da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) entregaram uma carta de compromisso com as demandas das populações, que foi assinada pelo candidato. Em seguida, Lula recebeu cocar que, segundo os indígenas, lhe atribui o título de protetor da floresta amazônica.

“A partir de janeiro, as coisas irão mudar. Nós estamos fazendo um programa de governo, colocamos a proposta original na internet e não queremos fazer programa de um partido político, de um candidato. Queremos fazer um programa que represente a síntese daquilo que é as necessidades do povo brasileiro, envolvendo todos os povos da floresta, porque vocês conhecem como ninguém o mundo que vocês vivem”, declarou. “Se ganhar as eleições, vocês não serão pessoas estranhas ao Palácio do Planalto”, completou o presidenciável.

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