Luiz Felipe D'ávila quer dar choque de neoliberalismo e sustentabilidade no Brasil
Pré-candidato do partido Novo à presidência da república afirma que "terceira via" será sepultada esta semana e que Lula é tão ruim quanto Bolsonaro
Aos 58 anos, o paulista Luiz Felipe D'ávila chega a corrida eleitoral pela presidência da república como pré-candidato ao partido Novo. Apesar de ser defensor de uma alternativa ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele é crítico da chamada "terceira via" e do grupo de candidatos e partidos que estão discutindo a possibilidade de uma candidatura única de centro. Na opinião dele, o debate deixou de ser a vida do povo para virar um acerto entre caciques políticos, o que o afastou da mesa de negociações por enquanto.
"Queremos conversar com todo mundo em torno de um projeto de país que responda uma pergunta que interessa a todos os brasileiros: como a economia vai voltar a crescer e gerar renda e emprego? Se não discutir isso, não vale a pena conversar. A terceira via deixou de ser de projeto de país para virar conversa de cacique político, que quer eleger mais deputado federal, que é o que determina o fundão partidário eleitoral. Querem crescer a bancada para ter mais dinheiro. Essa semana é o sepultamento da terceira via. Vamos ver o que vai sobrar para a gente continuar conversando", apontou o pré-candidato, em entrevista para o Grupo Liberal nesta terça-feira (17).
Ele criticou o Fundo Eleitoral, que em 2022 chegará a R$4,9 bilhões - R$ 87,71 milhões destinados ao Partido Novo, que desde o registro oficial da legenda em 2015 rejeita os recursos e realiza campanhas apenas com doações de apoiadores. "Vejam só a imoralidade desse fundão. Estamos falando de R$5 bilhões em dois meses de campanha. É um absurdo. Por isso digo que essa [de terceira via] conversa não interessa ao brasileiro e não interessa ao contribuinte que está pagando imposto para bancar a campanha eleitoral", criticou. Um dos caminhos que D'ávila enxerga para garantir o crescimento do Brasil é a reforma tributária, que entre outras coisas, deve garantir a simplificação dos tributos em todo o território nacional, objetivo o que na opinião dele já estava caminhando de maneira bem acordada por parte dos 27 estados, mas foi sabotado pelo Governo Federal e alguns setores da sociedade que investiram em lobby para pagar alíquotas menores.
Luiz Felipe também defende uma reforma administrativa profunda no Brasil, mas, segundo ele, ela precisa valorizar o que ele chamou de "bom funcionalismo público". "O servidor público quer crescer na carreira por bom desempenho e não por tempo de serviço como é hoje, que qualquer um chega no topo da carreira, o competente e o incompetente. Isso desmotiva quem dá o sangue no serviço público. Esses merecem mais salário e mais destaque", conta. O pré-candidato afirmou que é preciso melhorar a eficiência do funcionalismo público e que para isso é preciso incrementar as parcerias público-privadas, citando como exemplo as organizações sociais que administram hospitais. Dentro do pacote de liberalismo econômico apresentado por D'ávila há também espaço para a desestatização de empresas públicas, processo que ele considera fundamental para reforças valores como o livre mercado e ampla concorrência no Brasil. "Quanto mais concorrência, melhor para o consumidor. Quando não tem competição, quem determina o preço é o dono do monopólio, nesse caso o Estado. Lembra quando telefone era tão caro quando linha telefônica era declarado no imposto de renda? A privatização aumentou a concorrência e hoje todo brasileiro tem um telefone no bolso", justificou.
Sobre a recente ação da Advocacia Geral da União que questiona no Supremo Tribunal Federal a polícia de cobrança do Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços, D'ávila lembra que no final de tudo, isso só retira dinheiro da educação e da saúde. "Se você corta imposto, tem menos dinheiro. É populismo achar que é cortando imposto que vamos resolver o problema do Brasil. O governo tinha que ter criado um fundo de estabilização do preço, um dinheiro para usar toda vez que há muita oscilação do preço para evitar que o consumidor gaste essa fortuna para comprar gás e encher o tanque do carro", afirma ele. O pré-candidato também afirmou que o populismo de direita e esquerda só empobreceu o Brasil nos últimos 20 anos e que essa briga transbordou para os três poderes. "Isso é péssimo para a democracia. Ou a gente tem um presidente capaz de pacificar o país, que volte a respeita a opinião dos outros, ou vamos continuar com essa briga infernal entre os poderes. Essa briga não é para melhorar e sim para criar suspeita sobre as eleições, que são limpas e confiáveis há muito tempo. Não dá para tolerar esse discurso golpista de atacar a justiça e o sistema eleitoral como se a única força legítima no Brasil fosse a vontade do Presidente da República", argumenta. Para ele, porém, o ex-presidente Lula não é nenhum pouco melhor para a democracia brasileira do que Bolsonaro. D'ávila afirma que o petista corrompeu a democracia brasileira igualmente por meio da corrupção, citando os casos Mensalão e Petrolão. "E agora o próprio Lula está dizendo [que vai estabelecer] um controle social da imprensa, que nada mais é do que censura, revogar a lei trabalhista", lembra.
Ex-tucano, Luiz Felipe D'ávila chefiou o programa de governo e a campanha de Geraldo Alckmin (PSB) quando o ex-governador de São Paulo concorreu as eleições presidenciais de 2018 pelo PSDB. Ele resume a aliança dos outrora rivais com uma palavra: tristeza. "Fico muito triste de ver meu amigo apoiar o Lula. Afinal de contas Alckmin a vida inteira defendeu as reformas modernizadoras do Estado brasileiro, votou a favor da abertura econômica e programas de privatização e agora está dando aval ao governo que representa tudo isso. Está se aliando ao atraso do Brasil", lamenta ele.
Em entrevista para o UOL, D'ávila chegou a dizer que era contra as cotas raciais nas universidades, apesar de ser a favor da igualdade de oportunidades. Na entrevista desta terça-feira (17), ele argumentou que desconhece dados que evidenciem que as ações afirmativas étnicas iniciadas no Brasil em 2003 tenham reduzido a desigualdade. "Se tiver esse dado, não tenho nenhum receio de mudar minha opinião. Toda vez que vejo cargos de gerência para cima, continua não tendo negros. Acho que isso tem que ser poder da sociedade. Graças a Deus vejo cada vez mais a sociedade cobrando das empresas a questão da igualdade de raça. Isso é uma coisa que a sociedade está valorizando, comprou essa pauta e descobriu que a diversidade é o maior ativo de um país e de uma empresa", alegou, acrescentando que cada instituição e estado deveria decidir qual o melhor modelo de inclusão.
D'ávila elegeu a questão ambiental como o pilar central do programa de governo por acredita que se trata da maior oportunidade econômico que o Brasil já teve em mãos, especialmente por conta da economia de baixo carbono. Segundo ele, há muito dinheiro disponível para iniciativas que valorizem a sustentabilidade. Um dos planos de um eventual mandato de D'ávila seria três milhões de hectares de terra degradada para plantar árvores, o que tornaria o Brasil a primeira nação de carbono neutralizado do mundo. "Os investidores dizem que só vão investir em país que preserva o meio ambiente. Somos a maior superpotência ambiental do mundo e temos que transformar isso em investimento e progresso. O Norte tem essa grande economia da floresta, da qual temos que extrair mais valor disso. Cada vez que derrubamos uma árvore, estamos rasgando dinheiro. A economia não vai voltar a crescer se dermos as costas para o meio ambiente. Vamos transformar o meio ambiente no maior vetor da retomada", conta.
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