IBGE: tradutor indígena auxilia no treinamento de recenseadores em Jacareacanga
Censo 2022: Objetivo é garantir a preparação de nove candidatos de origem Munduruku
O município de Jacareacanga, no sudoeste do Pará, é o único do país a contar com um tradutor indígena durante o Treinamento dos Recenseadores do Censo 2022. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o objetivo é dar suporte ao aprendizado de nove candidatos de origem Munduruku. Essa também é a primeira vez que o Instituto conta com intérprete indígena para treinamento de recenseadores.
Marta Antunes, coordenadora do Grupo de Trabalho de Povos e Comunidades Tradicionais (GT/PCT’s), afirmou que a experiência está sendo monitorada para avaliar sua efetividade junto aos candidatos e instrutores. “No processo de chamada para o treinamento, verificamos que alguns dos candidatos indígenas de Jacareacanga não tinham o português como língua do cotidiano, embora manejassem o idioma em nível suficiente para sua aprovação. E foi para garantir a esses candidatos a compreensão plena dos conceitos e procedimentos censitários, que o IBGE contratou o intérprete”, explica. “Ter recenseadores do povo Munduruku é um ganho para o IBGE e para o Censo, naquela região”, completou.
A coleta domiciliar do Censo Demográfico 2022 está programada para iniciar no dia 1º de agosto. Em todo o Brasil, mais de 180 mil candidatos a recenseadores estão em treinamento, sendo 6.082 no Pará.
Coordenadora da área de Jacareacanga, Mara Magalhães foi quem solicitou um tradutor indígena. Ela conta que foi percebido, já no início do treinamento, que apesar do empenho, a dificuldade deles com a língua poderia ser uma barreira para o aprendizado, especialmente da parte conceitual. “Acionamos o GT de PCT’s que, prontamente, viabilizou o tradutor”, relata. “Com o Gerson (tradutor) em sala de aula, a mudança foi visível: os candidatos ficaram mais participativos e pude notar que finalmente estavam compreendendo o conteúdo”, alegra-se Mara.
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Mais de metade da população munduruku se comunica exclusivamente em sua própria língua, segundo Rosalete Munduruku, chefe de gabinete da Prefeitura de Jacareacanga. “Pelas nossas estimativas, somos cerca de 12 mil pessoas, vivendo em mais de 150 aldeias, em Jacareacanga. Não temos dados tão exatos, mas acreditamos que só uns 30% dominam a língua portuguesa: são as pessoas que saem da aldeia para estudar, fazer faculdade... e, por isso, conseguem se comunicar bem. Já o restante, que fica nas aldeias, costuma falar só na nossa língua. Às vezes, até entendem um pouco, mas não sabem falar em Português”, explica Rosalete, que assessora o atual vice-prefeito da cidade, Valmar Kabá, que também é munduruku. “O ‘seu’ Valmar é o quinto parente nosso a ser vice-prefeito, o que mostra nossa atuação importante na vida política aqui da região”, acrescenta.
O município fica distante cerca de 1.700 quilômetros da capital e possui, de acordo com o último Censo (2010), uma população total de 14.103 habitantes. Com base nos dados do Distrito Sanitário Especial Indígena Rio Tapajós (DSEI Rio Tapajós, que atende os indígenas de Jacareacanga), o IBGE estima que existam 11.057 indígenas em Jacareacanga, distribuídos em três terras indígenas: Sai-Cinza, Munduruku e Kayabi.
“As terras Munduruku e Sai-Cinza são ocupadas, predominantemente, por indígenas do povo Munduruku. Na Kayabi encontram-se residentes munduruku, apiaká e kawaiwete, de acordo com dados do Instituto Socioambiental”, informa José Costa Jr., que é sociólogo e analista censitário do IBGE no Pará.
Tradutor
Gerson Ykopi tem 37 anos de idade e trabalha como agente indígena de saúde, em Jacareacanga. Nascido na aldeia Katõ, na região do rio Kabitutu, saiu da aldeia aos 7 anos para estudar, na cidade, conseguindo concluir o Ensino Médio.
“Para nós, ter o recenseador do nosso povo, um parente nosso na aldeia fazendo esse trabalho, é o melhor para o nosso futuro porque tem uma maioria que não tem contato ainda (com a língua portuguesa) e que passa dificuldade”, diz ele.
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