Falar sobre autismo é uma conquista, diz deputado Miro Sanova
Porém, ele afirma que ainda faltam muitos avanços, principalmente para garantir acesso à educação de qualidade e ao mercado de trabalho
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado neste sábado (2), chama a atenção para a importância de se construir uma sociedade mais compreensiva e acolhedora para quem tem o transtorno do espectro autista (TEA). Presidente da frente parlamentar que defende os direitos das pessoas com autismo da Alepa e pai de uma criança com esta condição, o deputado Miro Sanova (PDT) tem se engajado na causa e afirma que as discussões cada vez maiores sobre o tema representam um grande avanço, mas muito ainda precisa ser feito, principalmente envolvendo a inserção no mercado de trabalho e acesso à educação de qualidade. “Temos que lembrar que autista não é só criança, um dia, o autista vai virar adolescente, vai ser adulto”, ressalta o parlamentar. Veja a entrevista:
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Quais os maiores desafios das pessoas com autismo?
Inicialmente é o diagnóstico. Ter o laudo, fechar o diagnóstico não é tão simples. O segundo, pós diagnóstico, são vários. Temos as terapias, que são de difícil acesso. Temos a inserção na educação, a inserção no mercado de trabalho, porque temos que lembrar que autista não é só criança, um dia o autista vai virar adolescente, vai ser adulto, então, educação e inserção no mercado de trabalho são os grandes desafios nesse momento para as pessoas que vivem com autismo.
Quais foram os principais avanços conquistados nos últimos anos?
É falar sobre o tema. Eu tenho 40 anos de idade, na minha adolescência, na minha infância e boa parte da minha juventude, não se falava em autismo. Então, hoje o tema é muito falado, já tem grande repercussão e, principalmente, na nossa época de infância, na minha época, não tinha diagnóstico. Vários colegas, amigos daquela época que hoje se enquadrariam no transtorno do espectro autista não tiveram a oportunidade de ter esse diagnóstico. Então, nós tivemos avanços, leis importantes, atuações importantes tanto por parte da sociedade civil como por parte do poder público. Com certeza, se você for buscar na memória alguns colegas que nós tivemos na escola, na faculdade, quase que com certeza seriam identificados na questão do transtorno do espectro autista. Muitas leis voltadas para as pessoas, para os familiares, o tema é muito falado, ganhou uma grande proporção, mas precisa avançar muito.
A inclusão em áreas como educação ou mercado de trabalho ainda é algo desafiador? O que precisa ser feito para melhorar essa situação?
Ainda é muito desafiador. Nós tivemos inclusive aqui no Pará, infelizmente, alguns casos lamentáveis de instituições de ensino que negaram matrícula para pessoas que vivem dentro do transtorno do espectro autista. Isso é inadmissível. Então, vemos ainda a dificuldade dessas pessoas terem a oportunidade de estudar, ter uma boa educação na instituição privada, também temos a questão da instituição pública. A inserção do mercado de trabalho não é diferente. É preciso darmos condições para que a pessoa que vive com autismo possa se inserir no mercado de trabalho. É importante produzir leis que possam incentivar as empresas a absorver essa mão de obra das pessoas que vivem com autismo e também o poder público abrir espaço para as pessoas que vivem dentro do transtorno terem oportunidade de trabalho.
Quais os tratamentos necessários para essas crianças e as dificuldades que os pais enfrentam para conseguir esses atendimentos?
O tratamento, essa ação, tem um prazo onde tem mais eficiência, principalmente, na janela da infância. Quando o autista está na fase da infância, ele consegue ter um avanço muito maior na terapia e nos tratamentos. Mas, infelizmente, é muito difícil hoje uma criança ter esse tratamento. Temos a oportunidade de ver várias pessoas que têm planos de saúde e os planos já não ofertam essas terapias. O poder público também está engatinhando ainda, tem avançado aqui no estado do Pará, mas ainda é muito pouco. A demanda é muito grande e a questão dos profissionais, das clínicas especializadas para fazer essas terapias nas pessoas que vivem com autismo ainda é muito pequena. Então, temos que avançar muito na questão das terapias.
Em relação às propostas apresentadas, qual tem sido a principal luta no Congresso e nos legislativos municipais e estaduais?
Com relação a produção de leis, temos visto uma movimentação dos parlamentares, dos vereadores, dos deputados estaduais, dos federais, dos senadores, produzindo leis que vêm beneficiar pessoas com autismo e também seus familiares. Têm leis de inclusão na área da educação, leis de importância na área da saúde, na área de deixar mais volátil a questão do horário de trabalho dos pais dos autistas. Então, tenho visto sim, tanto no poder legislativo municipal, quanto estadual e federal, e até por parte do poder executivo dos estados e municípios, uma atenção especial na questão do autismo. Mas são legislações que estão se iniciando, então, ainda tem muita coisa a ser produzida. Hoje eu vejo que o principal desafio, neste momento, é a questão do rol taxativo da ANS que está no Superior Tribunal de Justiça. Isso é de extrema importância, porque caso o Superior Tribunal de Justiça dê um parecer com ganho de causa para os planos de saúde, vai prejudicar muito os autistas, porque vai tirar deles a questão das terapias, que são fundamentais.
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