Fábio Faria quer encerrar ano com todas as escolas do Pará conectadas à internet

Ministro das Comunicação concedeu entrevista exclusiva ao Liberal sobre 5G na Amazônia, regulamentação da mídia e eleições 2022

Eduardo Laviano

Após mais de 12 anos como deputado federal, o potiguar Fábio Faria chegou ao comando do Ministério das Comunicações com uma missão bem clara: dar início a implementação da internet 5G no Brasil, a nova geração do serviço que promete ser mais rápida e eficiente.

Com o leilão já realizado, mais de R$ 46 bilhões arrecadados, visibilidade internacional e até um encontro com o empresário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, Faria se viu diante da possibilidade de concorrer ao Senado Federal, mas outro ministro do Rio Grande do Norte acabou ganhando o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL): Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional.

Em entrevista para O Liberal concedida durante visita a Belém na última quarta-feira (25), Faria afirmou que a prioridade agora é zerar o número de escolas sem internet no Brasil e avançar com o 5G nas capitais.

Agora filiado ao PP, ele também pediu que o ex-presidente Lula (PT) se desculpasse ao povo brasileiro por falar tanto em regulação da mídia e afirmou que 12 mil quilômetros de fibra ótica vão passar por debaixo dos rios da Amazônia para conectar todos os povos da região. Confira:

- O que o senhor veio fazer no Pará?

Fábio Faria: Hoje a gente veio fazer algumas entregas do Ministério das Comunicações junto com a ministra Damares. Já viemos antes, fomos no Marajó, e hoje tem um pedido muito grande da população, que é por internet. Antigamente você chegava nas cidades e todo mundo queria água, era o pedido número um. E hoje praticamente são equivalentes. Se você numa comunidade indígena hoje, conversa com os índios. Eles querem internet. Já foram aqui no Pará 1.535 pontos de internet que a gente já colocou em escolas, comunidades e agora a gente está trazendo mais 2.000 pontos. Esse é o principal anúncio. A gente vai trazer 2.000 pontos e conectar todas as escolas do Pará, todas as escolas rurais até dezembro desse ano. A gente vai encerrar esse período aí no Ministério das Comunicações, em 2022, zerando o número de escolas sem internet. Além disso, tem um programa de computadores pra inclusão. A gente tá trazendo agora 304 computadores, hoje, para doar também aqui no Pará. Alguns vão para o Marajó, outros para outras cidades. Porque a gente traz a internet e traz o computador e o ministério da ministra Damares entra também com alguns cursos. Eles têm quase 30 cursos no ministério, então faz com que a pessoa possa aprender alguma coisa, fazer um curso profissionalizante, ganhar dinheiro. Eu tava falando com ela que hoje tem cursos como barman, cuidador de idosos. São cursos rápidos e que a pessoa ganha ali aquela formação e consegue trabalhar. Então isso é muito importante. Crianças que hoje podem trabalhar por home office, que hoje tem muito. Ela tem conversado nas viagens que fez para fora do país, com empresas que querem contratar crianças do Marajó. Então são programas importantíssimos para a população. 

- Eu queria que o senhor comentasse o programa Norte Conectado, avaliando os objetivos e metas que vocês tem de curto e médio prazo. O que vocês esperam de resultado desse programa aqui para a região?

- Então, o Norte Conectado ele é o maior programa de inclusão da região Norte, de internet. Nós estamos falando de 12 mil quilômetros de fibra ótica. Subfluvial, por baixo do rio, no leito do rio, onde vai cortar toda a região Amazônica e ali a gente vai conectar 10 milhões de pessoas. Hoje, no Brasil, temos 39 milhões de pessoas sem internet. A maioria delas na região Norte e o restante ali na região Nordeste. Então só esse programa do Norte Conectado nós vamos levar para mais de 10 milhões de pessoas, nós estamos falando aí de mais de 25% da quantidade de pessoas que não tem telefone celular no Brasil, que não tem internet, e que serão conectadas. O programa já foi iniciado, já está em curso. O total é R$1 bilhão que a gente conseguiu isso através do dinheiro arrecadado com o leilão do 5G e que a gente vai beneficiar 100% das escolas, que serão conectadas. E a região Norte será mais beneficiada porque era a região que tinha menos internet, que a gente vai realmente atacar, trazendo conectividade. 

- A gente tem falado muito sobre o 5G e como isso vai impactar o Brasil. Qual a expectativa que os povos daqui da Amazônia podem ter em relação a implementação dessa tecnologia aqui no Pará e na região Norte?

- A gente tem hoje 5.570 municípios no Brasil. Todos receberam o 5G. Todos. Todas as cidades. E as zonas rurais, que você tem muita cidade que é urbana mas tem uma parte rural, que fica muitas vezes a 10 quilômetros da área urbana. Então essas localidades vão receber o 4G. Estamos falando de 10 mil localidades. Então o que a gente pode falar para a região: que ninguém vai ficar sem internet. Todo mundo foi conectado. Então isso vai ajudar tanto na questão de estudar, as crianças, divulgar a Amazônia. Quando tiver algo errado também, vai ter o direito a pegar o telefone ali e falar. A fronteira da Amazônia, que serve muitas vezes ali para rota de tráfico de droga de outros países, isso não vai existir mais porque não vai existir nenhum ponto escuro, um ponto de sombra que a gente chama, lugares sem conexão. As polícias todas ficaram integradas. Então vai melhorar muito a região com a conectividade.

- A gente tem falado muito da importância da integração pela internet e redes sociais para comunidades distantes e ao mesmo tempo aprendendo muito do ponto de vista político e legal com isso. Recentemente, a gente viu esse debate sobre o Telegram que foi bloqueado. Qual a sua opinião sobre isso? Como o senhor enxerga esse cenário que a gente vive relacionado ao judiciário e as redes sociais?

- Então, eu acredito que está tendo uma maturidade muito maior. Os poderes estão aprendendo a conviver. A gente precisa de convivência em harmonia. Não dá. Acho que cada poder ali, o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, acho que cada um estabelecendo ali a sua linha invisível para que cada um possa conviver entre isso. A gente precisa disso. O Brasil é uma grande democracia e precisamos de instituições fortes. Sempre acontece, uma vez ou outra, algum tipo de período mais turbulento, mas tem muita gente hoje querendo resolver isso, querendo apaziguar, querendo acalmar, querendo pacificar. E esse é um papel nosso. A gente aprende isso na política. Na política a gente senta numa mesa com pessoas da extrema esquerda a extrema direita e o projeto tem que chegar num consenso. Então a luta por um consenso. A gente sempre tem trabalhado por isso e acredito que está havendo um amadurecimento muito maior. Antigamente os conflitos duravam mais tempos e hoje duram muito menos tempo. A ideia é que isso ocorra. Não tem como ter um país como o Brasil sem nenhum tipo de conflito. Mas o que importa é que tenha o amadurecimento para que eles cessem logo. 

- Quando a gente fala de acordos e conflitos a gente fala de regulamentação também. Muita gente aventa essa possibilidade de regulamentação da mídia, principalmente na oposição. Como é que o senhor avalia isso considerando que hoje em dia a mídia não é só o jornal e a TV, mas é também as redes sociais. O senhor é contra ou a favor? Qual a sua posição?

- O nosso governo é 100% a favor da liberdade de imprensa e da liberdade de opinião. Essa é uma premissa número um do presidente. O ex-presidente Lula tem falado, já falou mais de 10 vezes, acho que 12 vezes, em regulação da mídia. Inclusive falou agora fora do Brasil em relação a isso. Isso é muito temeroso. Porque a gente está falando em voltar 30 anos atrás, 40 anos atrás, 50 anos atrás. Imagina aí. A gente tá vendo isso agora, durante uma guerra que está tendo regulação da mídia nos países, tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Imagina isso no Brasil, sem guerra nenhuma, num país democrata, se a gente chegar agora no meio de um 2022 aí e falar em regulação da mídia. Eu fico muito preocupado com isso. Ainda bem que os próprios veículos e jornais têm destacado isso com preocupação. Vejo hoje a imprensa bem temerosa em relação a isso, porque o jornalismo no Brasil tem muita gente que viveu esse período de mídia silenciada, de só falar o que o governo queria. Então isso é uma temeridade muito grande. Não acredito que isso possa ocorrer, porque o caminho é exatamente o contrário. Acho que tem um debate muito grande entre o que pode ser dito e o que não pode ser dito, mas em nenhum momento ninguém nunca falou em mídia, só o ex-presidente Lula. Espero que ele amadureça e pare de falar esse assunto e se desculpe com a população. O problema é que ele tem falado isso reiteradas vezes. 

- Qual o papel que o senhor acredita que as redes sociais vão desempenhar em relação a essa questão nessas eleições, considerando o que foi em 2018?

- O papel de uma opinião. Nas redes sociais são 200 milhões de pessoas que tem uma opinião, cada uma diferente. Muitas vezes o ambiente ali, eles ficam discutindo ali o assunto do dia, o assunto da hora, o assunto do momento. Mas é um canal mais livre. As pessoas tem o direito ali de se expressar. Por isso que eu falo, quando eu chego aqui, o governo Bolsonaro chegando com o ministério, entregando computadores, entregando internet, a gente está trazendo voz. A gente está dando voz àquelas pessoas que não tem. Então as pessoas vão ocupar as redes sociais, vão falar do Pará, vão falar do Marajó, vão falar de Belém e vão falar o que elas estão pensando, o que elas estão querendo. Porque muitas vezes essas pessoas, imagina aí, a gente num país onde tem 40 milhões de pessoas silenciadas, que a gente não sabe o que eles pensam. Então é importante. A rede social é o único instrumento dela. Ela não vai conseguir vir aqui e falar com O Liberal. Não vai conseguir dar uma entrevista para outro canal. Ela vai pegar a rede social dela e vai falar o pensamento dela. Acho que isso é a beleza da rede social e a gente tem que deixar isso acontecer.

- Qual vai ser o seu papel nas eleições de 2022 já que o senhor disse que não vai mais ser candidato?

- Eu quero cumprir as minhas entregas no Ministério das Comunicações. A principal delas, levar o 5G para todas as capitais agora no meio do ano. Eu quero conectar todas as capitais com 5G e a meta número dois nossa é zerar as escolas que não tem internet, são 14.500 escolas rurais. Quero até dezembro, até encerrar o mandato, a gente conseguir entregar. Deixar o Brasil sem nenhuma escola sem internet. Essa é a nossa missão.

- O senhor estava muito bem posicionado nas pesquisas no seu estado. O que aconteceu para o senhor desistir?

- Não tava conseguindo sair [o leilão do 5G]. Não é apenas realizar o leilão. O leilão foi realizado, há certeza que vai acontecer. Mas eu queria chegar e entregar o 5G, ver o 5G funcionando nas capitais. Isso aí para mim é uma realização que eu não ia conseguir fazer em oito, 16, 24 anos de mandato de senador. É muito mais forte. É um legado que vai ficar para o país, um legado que a gente construiu juntos desde quando assumimos. Então quero entregar. 

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