Em áudio gravado, advogada aponta esquema criminoso da Receita em reunião com Bolsonaro
Ministro Alexandre de Moraes do STF liberou o conteúdo da reunião nesta segunda-feira (15.07)
Nesta segunda-feira (15.07), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, liberou o conteúdo da reunião ocorrida com Jair Bolsonaro, ainda na gestão dele, em 25 de agosto de 2020. Participante da reunião, gravada, a advogada Juliana Bierrenbach disse que, no encontro, ela relatou a existência de uma organização criminosa que agiria de dentro da Receita Federal contra desafetos.
“O que eu relatei foi a existência de uma organização criminosa no âmbito da Receita. Eles atuam da seguinte forma: existe uma portaria que é de 2012 que determina que alguns funcionários da Corregedoria da Receita Federal e da área de investigação podem utilizar uma senha de acesso que torna o acesso dos funcionários indetectável”, disse Juliana Bierrenbach em entrevista concedida à CNN Brasil, nesta segunda-feira (15).
O arquivo com a gravação da reunião foi encontrado no computador do ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Abin
Na semana passada, a Polícia Federal deflagrou mais uma fase da operação que alega apurar um suposto esquema de espionagem ilegal na Abin, que teria beneficiado Bolsonaro. Da reunião gravada, participaram, além de Bolsonaro e Ramagem, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e as advogadas Juliana Bierrenbach e Luciana Pires.
As advogadas atuavam na defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no âmbito do inquérito que apura suposta prática de “rachadinha” no gabinete do parlamentar. Ao relatar a atuação de uma organização criminosa no âmbito da Receita, a advogada Juliana Bierrenbach afirmou que a utilização de senhas, acontecia, principalmente, quando os funcionários não gostavam de certas pessoas.
“Isso acontece ainda mais se você for inimigo deles. Eles fazem uma investigação nos seus dados, vão investigar tudo e aí ou fazem uma denúncia anônima e a Receita investiga ou faz um Relatório de Inteligência Financeira espontânea com informação que não é própria de um relatório desse tipo. E eu fui lá informar isso ao presidente”, completou a advogada.
Investigação interna
Juliana disse que o esquema estava sob investigação na Receita. Segundo ela, o Sindifisco Nacional – entidade sindical representativa dos Auditores-Fiscais da Receita Federal – abriu uma investigação interna para apurar o assunto.
“Eu avisei inclusive o presidente que descobri que no Sindifisco havia uma investigação que demonstrava que esse era o modus operandi dos funcionários da Receita Federal. Essa investigação do Sindifisco que eu tive acesso demonstra cabalmente uma organização criminosa dentro da Receita”, disse Bierrenbach.
A advogada negou que tenha ido à reunião com o intuito de pedir ajuda para desmantelar o suposto esquema. “Eu fui levar ao conhecimento das autoridades a existência de uma organização criminosa. Não se foi pedir nenhum tipo de benefício [...] Não virou nada a reunião. O que fizemos foi uma formalização dessa situação ao Serpro e à Receita. Mas não teve nenhum desdobramento”, afirmou.
Por fim, a advogada informou que deixou o caso e que o senador Flávio Bolsonaro não é mais seu cliente.
Nota de Flávio Bolsonaro
Em nota, nesta segunda-feira (16.07), o senador Flávio Bolsonaro disse que “um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal" com o "objetivo de prejudicar" ele e sua família”.
Na semana passada, o senador negou qualquer associação com a “Abin paralela”. Flávio disse que foi “vítima de criminosos” que atuaram na Receita Federal para acessar seus dados.
No áudio da reunião, o ex-presidente Jair Bolsonaro sugere que as advogadas conversem com os chefes do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e da Receita Federal para tentar rastrear acessos supostamente irregulares e ocultos a dados bancários de Flávio Bolsonaro que resultaram na investigação da “rachadinha”.
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