Malinês teme que corpos em barco à deriva no Pará sejam de conhecidos e cita grupo desaparecido
Até o momento, a Polícia Federal ainda não divulgou a identidade de nenhum dos 9 corpos que estavam em barco encontrado em Bragança, no Pará
Ao saber do caso envolvendo um barco com pessoas do Mali e da Mauritânia, que foi encontrado à deriva em Bragança, nordeste paraense, no último sábado (13/04), o malinês Mohamed Diallo, de 46 anos, lembrou de conterrâneos que há cerca de 2 meses desapareceram no Oceano Atlântico. Diallo chegou ao Brasil em 2015 e mora em Capinzal, município de Santa Catarina.
Ele é natural de Sélifeli, um pequeno povoado na região de Kayes, que faz fronteira com a Mauritânia. Há cerca de 2 meses, um grupo de 8 a 10 homens de Sélifel saiu do Mali, que não tem acesso ao mar, para a Mauritânia. Eles tentariam chegar de barco às Ilhas Canárias – território espanhol próximo à costa da África usado como porta de entrada para a Europa.
Desde então, não há notícias deles, como foi detalhado por Mohamed em entrevista ao g1 de Santa Catarina. "É tudo [da mesma] família, filho de um primo, filho de outro parente”, diz Diallo. “É importante saber [onde estão]", completa.
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Até o momento, a Polícia Federal ainda não divulgou a identidade de nenhum dos 9 corpos encontrados no interior paraense. A possibilidade de que algum conhecido esteja entre eles, entretanto, levou a comunidade malinesa no Brasil a procurar a embaixada do país para tentar saber quem são os mortos.
"A notícia tocou a todos nós", disse o administrador contábil Adama Konate, porta-voz da comunidade malinesa no Brasil. A Embaixada do Mali no Brasil, no entanto, informou que ainda não tem informações sobre o caso.
Hipótese
A Polícia Federal acredita que o barco encontrado à deriva no Pará, na região do Salgado, seguia para as Ilhas Canárias, um arquipélago espanhol ao largo da costa noroeste da África. Essa hipótese foi detalhada pelo superintendente da Polícia Federal no Pará, José Roberto Peres, durante entrevista ao Grupo Liberal nesta terça-feira (16/04). Entre as vítimas, havia uma pessoa com a nacionalidade do Mali e outra da Mauritânia, ainda segundo informações da PF.
Também durante a entrevista, o superintendente da PF detalhou como as autoridades policiais chegaram a essa conclusão. "A Polícia Federal procurou várias informações sobre esse tipo de naufrágio. Justamente para buscar é uma linha de investigação. Em 2021, foram localizados sete barcos semelhantes a esse na América: seis na região do Caribe e um na Costa do Ceará. No caso do Brasil foram três corpos [encontrados], na época”, pontua José Roberto.
“Foi identificado, na época, que esse barco veio da Mauritânia. Com base nessas informações, nós buscamos elementos lá na Mauritânia. E há um tráfego imenso e intenso de migrantes africanos que se dirigem às Ilhas Canárias. E, no mês passado, houve o resgate de um barco muito semelhante a esse nas Ilhas Canárias. Havia 64 pessoas e 4 corpos. É um número elevado de pessoas. E, por isso, a gente deduz que nesse barco [encontrado no Pará], havia muito mais pessoas do que os corpos encontrados”, acrescenta
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