Crime organizado é desafio de Belém às vésperas da COP 30
Enfrentamento a facções passa a estar entre focos da segurança pública no ano da conferência, com anúncios de investimentos e impactos em índices
Listando avanços recentes em índices de segurança, à medida que se aproxima a realização da COP 30, em novembro deste ano, Belém tem entre seus principais o enfrentamento às organizações criminosas, cujos executores das ordens estão no Pará, mas as lideranças estão baseadas no Rio de Janeiro. É o que aponta o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará, Ualame Machado.
A Segup diz que ações têm se intensificado, com investimentos do governo do Estado, e avaliações positivas têm sido divulgadas em novos dados do monitoramento de índices de violência e criminalidade. Em 2024, de janeiro a dezembro, os 1.891 registros entre crimes violentos letais intencionais (CVLIs) - que reúnem homicídios, latrocínios, lesão corporal seguida de morte e feminicídio -, apontam queda de 11,6% em relação ao mesmo período de 2023, com 2.140 CVLIs em todo o Pará. Além disso, se lista uma redução de 53,3%, em relação ao período de 2018, que fechou com 4.051 CVLIs no Estado.
Em 2024, o número de homicídios no Pará foi de 1.747, com redução de 11% no comparativo com 2023, que registrou 1.979 casos. Em Belém, em 2024 foram computados 228 casos de CVLIs, uma queda de 75% em relação ao mesmo período de 2018, com 911 casos. Em 2023, Belém registrou 223 CVLIs. Em homicídios, a capital computou 200 casos em 2024, reduzindo 76% no comparativo com 2018 com 838.
Em 2023, a capital registrou 199 homicídios. O secretário Ualame Machado diz que o Pará é um dos três estados do Brasil que têm conseguido, pelo sexto ano consecutivo, quedas em índices de criminalidade, desde 2019. “Para se ter uma ideia, a gente fechou 2018 com 4.051 crimes violentos letais intencionais. São homicídios, latrocínios, lesão corporal seguida de morte e feminicídios. O Pará fechou com mais de 4 mil mortes dessa natureza em 2018. Em 2024, fechamos com menos de 1.891. É um número histórico. Ainda é um número alto - quase duas mil vidas perdidas. Mas já foram mais de 4 mil. 53% de redução quando compara o que a gente vem alcançando nos últimos seis anos”, avalia.
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Sede da COP e capital do Pará, Belém fechou 2018 com mais de 900 homicídios. A atual gestão estadual assumiu o governo em 2019. “Em 2024, Belém fechou com pouco mais de 200 homicídios. O que também ainda é um número alto. Mas isso significa menos de 1 por dia. Em 2018, eram 3 por dia. Em números, é uma redução de 75% do que se tinha em Belém e o que se tem hoje”, afirmou.
Em relação às mortes por 100 mil habitantes, que geralmente é método adotado nas pesquisas, Belém tinha na faixa de 75 mortes por 100 mil habitantes - isso qual o atual governo assumiu. “A gente fechou o ano passado com menos de 15 mortes por 100 mil. Para se ter uma ideia, 16 mortes por 100 mil habitantes é um número que o Brasil procura atingir em 2030”, disse.
O Brasil, hoje, tem 23 mortes por 100 mil habitantes. O Pará, 25. “Mas, quando nós assumimos, era 54”, disse. “O objetivo nacional é fechar, até 2030, o estado como um todo, 16 mortes por 100 mil, o que está previsto no Plano Nacional de Segurança Pública e que está replicado no Plano Estadual de Segurança Pública”, disse. Na prática, diz o titular da Segup, não se registra mais em Belém a figura do carro preto e das mortes em série, que ocorriam quase que diariamente na capital.
Ualame Machado apontou, porém, o que considera um “grande gargalo”. “Em 2018, um ano antes da nossa gestão, de cada 10 roubos, não tinha, talvez, nem dois filmados (pelos circuitos internos). Hoje, de cada 10 roubos registrados em comércios ou rua, por exemplo, praticamente todos são filmados. E a imagem viraliza rapidamente pelas redes sociais”, disse. “O impacto de quem visualiza um crime é muito maior de quem só ouve falar nesse crime. O nosso grande gargalo hoje é trabalhar com a população cada vez mais a percepção de segurança. Porque, em termos de números, a gente fechou 2018, um antes da nossa gestão, com mais de 100 mil roubos no estado. Fechamos agora, em 2024, com menos de 30 mil. Uma redução muito grande, perto de 70%”, afirmou.
Monitoramento de casos entre estratégias
Para diminuir essa sensação causada na população, o aparelho de segurança do Estado tem dado respostas rápidas nesses casos de repercussão e que viralizam nas redes sociais, disse. “Porque, além de ter uma resposta para a sociedade, tem um impacto muito positivo na redução. É que, se o criminoso verifica que a polícia conseguiu prender muito rapidamente quem praticou o crime, ele também vai pensar duas, três vezes antes de praticar esse crime”, afirmou.
A Segup também conta com câmeras de monitoramento. “Quando assumimos, as câmeras de rua, da Segup, não tinham inteligência artificial. Hoje, tem reconhecimento facial para identificar foragidos nas ruas e veículos roubados e furtados”, contou. O secretário Ualame também destacou a importância das ações realizadas nas usinas da Paz. “A polícia tem que estar presente, dando respostas, mas só a polícia não vai resolver esse problema. Se a polícia prender mil criminosos, mas se não se cuidar dos jovens e das crianças, vamos ter dois mil formados lá na frente”, disse. “Por um lado, a Polícia cuida dos jovens e adultos que estão cometendo crime. E, por outro lado, as usinas da paz cuidam das crianças e adolescentes para que não entrem nesse ciclo. O correto é também trabalhar o social, a presença do estado, para que a gente não tenha esse ciclo de formação de criminosos”, assevera o secretário.
Sobre a redução da criminalidade, Ualame Machado disse que o grande mérito da gestão da segurança pública tem sido a integração. “Não é fácil integrar seis, sete órgãos da segurança pública do estado, integrar as guardas municipais, os órgãos municipais de trânsito, as defesas civis dos municípios, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. A integração foi o grande motivador dessa redução, porque, quando integra, une informações, une esforços e reduz custos”, afirma Machado.
Titular da Segup defende integração nacional das polícias
O secretário estadual de segurança pública do Pará avalia que o grande desafio hoje na segurança pública no País é lidar com as facções criminosas, sendo que o tráfico de drogas é a mola propulsora de qualquer tipo de criminalidade violenta. “O roubo, o homicídio, o latrocínio tem como pano de fundo o tráfico de drogas. O bandido rouba para comprar drogas. Os homicídios são cometidos pela briga por pontos de tráfico de drogas. O latrocínio é cometido buscando patrimônio das pessoas para poder vender e comprar drogas”, explicou.
Ele informou que o Pará fechou 2024 como o ano com o maior número de apreensões de drogas na história do Estado. “Foram 13 toneladas de drogas apreendidas no estado. Isso se deve a uma estratégia que foi montada. Montamos a Base Fluvial Antônio Lemos, em Breves. Entregamos a Base Fluvial Candiru, em Óbidos, e devemos entregar, este ano, a Base Fluvial do Baixo Tocantins, entre Abaetetuba e Barcarena, que cobre a parte do porto de Barcarena, o principal ponto exportador de droga na região e um dos principais do Brasil”, disse.
O Estado conta com mais de 80 lanchas e tem um trabalho de inteligência integrado com as polícias do Brasil. Mas o titular da Segup falou da necessidade de que haja uma integração nacional. “Uma integração das forças de segurança, capitaneadas pelo governo federal, para que a possa cuidar das organizações criminosas que atuam no Brasil. As que atuam no Pará não são do Pará. Elas são do Rio, de São Paulo”, disse.
“Os maiores criminosos de cada estado do Brasil estão escondidos nesses locais, fora do Pará. As lideranças que atuam no Pará estão no Rio de Janeiro. A questão de uma força conjunta para que a gente possa fazer realmente uma grande pressão na sede dessas organizações (São Paulo, Rio), para que consiga desarticular em suas bases, para que surta efeito aqui”, disse. No Pará, estão os executores das ordens determinadas pelas facções. “Mas, se eles forem presos ou mortos em confronto com a polícia, vão surgir outros. Por isso, a gente tem que desarticular, na raiz, essas organizações”, afirmou.
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