Em quase 2 anos, Pará apreende R$ 19,6 milhões em armas de fogo do crime organizado

Em novembro, Segup fez apreensão histórica de 16 fuzis que seriam usados no RJ

Dilson Pimentel
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Em quase 2 anos, de janeiro de 2023 a novembro de 2024, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) registrou 5.986 apreensões de armas de fogo do crime organizado no Estado, o que representa uma estimativa de R$ 19.647.000. No último mês de novembro, um registro considerado pela Segup como histórico: a maior apreensão de armamentos do tipo fuzil, com um total de 16 fuzis AK-47 que eram transportados em uma embarcação vinda do Suriname e que seriam usados por criminosos no Rio de Janeiro. 

Do total de fuzis apreendidos, 14 são de calibre 5.56 e dois, 7.62. Sobre o poder de fogo dos fuzis: um 762, é uma arma de guerra. Ao divulgar esse balanço, o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Pará em exercício, Luciano de Oliveira, destacou essa apreensão dos fuzis. “Registramos uma apreensão histórica (em novembro) de 16 fuzis na região de Abaetetuba, e a gente estima o valor de cada arma dessa no mercado do Rio de Janeiro próximo de R$ 60 mil. Então, isso daria um valor perto de R$ 1 milhão em armas”, disse.

O secretário disse que retirar a armas de circulação, em síntese, é prevenir a ocorrência de crimes. “A maioria esmagadora, em percentual, dos crimes violentos, é praticada com arma de fogo. Então, você tirar armas de circulação é minimizar a possibilidade de ocorrência de crimes violentos, letais e intencionais, principalmente homicídios. 90% dos crimes são praticados com o uso de arma de fogo”, afirmou.

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Há, ainda, os roubos praticados com o uso de arma de fogo. A origem de boa parte dessas armas é a indústria nacional. Muitas, da indústria internacional. “No caso da apreensão dos fuzis, eles tinham um timbre do governo do Suriname, estavam desmontados. Eram armamentos novos”, explicou. Isso indica que eles vieram daquele País pela costa brasileira, entraram no Brasil pelo Estado do Amapá, até chegar a Abaetetuba. “A gente não tem histórico significativo de apreensões de fuzis no uso da criminalidade urbana. Há casos, mas poucos, nas zonas urbanas do Estado Pará, incluindo a região metropolitana de Belém”, contou. Muitos desses armamentos entram pelas fronteiras.

Também há armas apreendidas que foram concedidas a CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). “Essa política de liberação de armas que a gente viveu nos últimos quatro anos tem um impacto em cima disso. As armas, em tese, eram destinadas ao chamado cidadão de bem e ninguém tem controle sobre isso”, disse o secretário Luciano. “Quando eu coloco mais armamento em circulação, eu aumento a possibilidade de acesso do criminoso a essa arma, independentemente do fato de que, no início, essa concessão tenha sido seja bem-intencionada”, afirmou.

Fuzis podem ter sido desviados do governo do Suriname

Ainda sobre os fuzis, as investigações iniciais indicam que esse armamento não ficaria no Pará. “Ele estava com destino à região sudeste, principalmente o estado do Rio de Janeiro. Geograficamente, o estado do Pará está próximo primeiro de uma rota pelo rio Amazonas, que começa lá na tríplice fronteira - Peru, Colômbia e Brasil. Então essa rota ela começa no rio Solimões e depois vira Amazonas, no estado do Amazonas, e que aqui no estado do Pará. Então é uma rota de acesso de drogas e armas que a gente tem trabalhado muito nela com a questão das bases fluviais integradas. Então o aspecto geográfico conta nisso para a gente ser um ponto de passagem desses produtos ilícitos. E, somado a isso, nós temos estratégias de inteligência, de posicionamento de pontos de fiscalização, de repressão ao crime organizado que tem oportunizado a gente reprimir crimes dessa natureza”, explicou o secretário em exercício.

“Então, isso a gente atribui muito a questão do posicionamento geográfico do estado de Pará, que está próximo de países onde não há um controle efetivo de armas e estados onde o ente nacional não consegue fazer uma política adequada de proteção de fronteira. Isso acaba refletindo aqui”, detalha.

image A imagem mostra o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Pará em exercício, Luciano de Oliveira, sentado em uma mesa. Perto dele há um notebook e um celular sendo segurado por um suporte. (Foto: Thiago Gomes | O Liberal)

 

 

Como os fuzis estavam com o timbre da República do Suriname, pode ser que tenha havido um desvio de armamentos oficiais, de estruturas estatais, do Suriname para o clima organizado brasileiro: “Nesse ponto, isso mostra que aqui pode não haver recorrência, pode ter sido um caso isolado”.

O secretário em exercício disse que o comércio de armas e drogas andam muito juntos. “Por exemplo, nesse ano, que ainda não terminou, nós já batemos o recorde histórico com o registro de mais de 12 toneladas de drogas apreendidas, no Pará, pelas forças de segurança. Então o tráfico de drogas precisa de armas e aí que a gente vê a correlação, e a gente tem avançado na repressão ao tráfico e essa pressão de armas pode vir a reboque dessa repressão traficada, porque eles andam muito juntos”, afirma.

Após apreendidas, armas são inutilizadas para não voltar para os criminosos

Depois de apreendidas, e após as formalidades legais, essas armas, via de regra, são destruídas. Elas são apresentadas e encaminhadas nos processos judiciais após as perícias e, quando a Justiça libera, são encaminhadas para o Exército Brasileiro, que faz a inutilização total deste armamento.

“Inclusive, a gente tem trabalhado num convênio, Secretaria de Segurança Pública com o Tribunal de Justiça, que a gente tem evitado, a Secretaria tem recolhido, evitado o acúmulo de armamentos em fóruns, uma questão que de regra a gente via ataques, invasão de fóruns para roubo de armamento. Hoje em dia a gente tem trabalhado uma política de recolhimento o quanto antes dessas armas, encaminhamento para destruição, justamente para minimizar a possibilidade de que essas armas retornem para o uso da criminalidade”, explica Luciano de Oliveira.

Os armamentos de maior poder de fogo são usados, por exemplo, em assaltos a banco na modalidade novo cangaço, uma ação mais violenta principalmente nas cidades do interior do País. “Felizmente a gente observa no Pará uma redução muito expressiva, a ponto de a gente ter registrado há alguns anos zero ocorrência de assalto a banco de Novo Cangaço. Nos últimos anos então a gente mitigou muito os que ocorreram, o sistema repressivo. Reprimiu, conseguiu prender os envolvidos e esclareceu, e aí a gente tem essa redução bem expressiva”. No Pará, as principais armas apreendidas são pistolas e revólveres.

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