Usar internet para autodiagnóstico de transtornos é perigoso, alerta Conselho Regional de Psicologia
As plataformas online disponibilizam testes sobre transtornos como ansiedade, depressão, TEA e TDAH, mas essa prática pode ser perigosa e resultar em consequências graves para a saúde
O autodiagnóstico para transtornos por meio da internet tem se tornado cada vez mais comum ao longo dos anos. As plataformas online oferecem uma grande quantidade de informações e testes sobre diversas condições de saúde, como ansiedade, depressão, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outros. No entanto, essa prática pode ser arriscada e trazer consequências graves para a saúde.
Interpretações incorretas ou até mesmo um resultado falso podem levar a diagnósticos e tratamentos inadequados, resultando assim em um atraso no tratamento correto. Em 2020, período da pandemia da Covid-19, um estudo realizado pelo grupo Kronberg, mostrou um aumento nas pesquisas de autodiagnostico para transtornos mentais, segundo os dados, a busca por “Quiz: Teste de ansiedade” teve um aumento de 750%, enquanto “Quiz: Você tem depressão?”, aumentou em 200%.
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Em Belém, a psicóloga, mestra em psicologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e presidente do Conselho Regional de Psicologia 10ª Região Pará e Amapá, Jureuda Duarte Guerra, explicou sobre os riscos do autodiagnóstico pela internet. "Esses diagnósticos existem e são uma tentativa, não apenas no âmbito da saúde mental. É importante eu ter noção do que está acontecendo comigo? Sim, é importante, mas o autodiagnóstico pode ser um erro e se tornar muito prejudicial", diz.
A psicóloga alerta que um dos erros mais graves do autodiagnótisco é a automedicação. "Se eu tenho uma ansiedade e eu me identifico, certamente isso pode piorar, e qual é o erro gravíssimo? Eu posso me automedicar, eu posso fantasiar determinado comportamento que pode acelerar alguma coisa que eu já tenho e aí vira uma grande bola de neve", avalia.
Referente ao autismo, a profissional relata que nas redes sociais, existem orientações errôneas sobre o transtorno, inclusive orientações religiosas e essas orientações promovem na pessoa e no familiar sentimentos muito ruins. "O autismo tem uma formação, um conceito, questões ligadas à neurodivergência. As pessoas que sofrem com o espectro do autismo precisam de um tratamento sério e não devem ser avaliadas por pessoas na internet", afirma.
Testes de transtornos como ansiedade, depressão, autismo e TDAH são bastante realizados por meios de sites e também através de redes sociais. Jureuda afirma que todas essas plataformas digitais estão sendo fiscalizadas pelo CRP-10. "Uma das atribuições do conselho é a fiscalização, a orientação da profissão e a regulamentação. Dentro da fiscalização nós observamos as redes sociais e existem muitas pessoas apresentando diagnósticos fáceis. Quando observamos esse tipo de comportamento, a gente age, chama a pessoa para uma orientação e se for um caso grave, abre processo ético", explica.
O órgão pede para que as pessoas procurem profissionais especializados, como psicólogos, neuropsicólogos, neuropediatras, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. "Quem procura tem uma dúvida, está em sofrimento, porém não necessariamente eu vou ter todas as características, eu posso estar achando que eu tenho determinado sintoma e não tenho. Tudo precisa ser feito através de um bom especialista", alerta Jureuda.
Ainda conforme o CRP-10, testes de internet não possuem nenhum fundamento e podem criar outros tipos de angústia, ansiedade ou outros comportamentos que devem ser evitados. E caso a pessoa possua algum transtorno, o autodiagnóstico pode atrasar o tratamento correto, tanto no campo físico, quanto psíquico.
Ainda segundo a presidente do CRP-10, o órgão recebe várias denúncias de plataformas digitais que fazem testes de autodiagnótisco, caso esses testes sejam realizados por psicólogos, o conselho atua com medidas cabíveis. Se o teste não for realizado por psicólogo, eles fazem uma denuncia à Polícia Federal (PF). O CRP-10 também alerta sobre a importância de verificar se o profissional está inscrito no conselho de classe, não apenas na psicologia. É importante a pessoa saber se a pessoa realmente é especialista, se não responde a processo ético, a gente precisa está livrando a sociedade do mal profissional", finaliza a psicóloga.
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