Motociclistas de aplicativo de Marabá denunciam ameaças: 'perseguido nas ruas'
O que surgiu como uma oportunidade, agora, é motivo de insegurança para dezenas de trabalhadores que optaram por oferecer seus serviços de transporte de passageiros por aplicativos nas ruas de Marabá
O que surgiu como uma oportunidade, agora, é motivo de insegurança para dezenas de trabalhadores que optaram por oferecer seus serviços de transporte de passageiros por aplicativos nas ruas de Marabá. Isso porque o sistema de transportes do município já tem regulamentada a atividade de mototaxista e a prestação do serviço por meio de plataforma digital está sendo vista por muitos como uma concorrência desleal.
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“A gente está sendo perseguido na rua. Quando a gente desembarca um passageiro, eles vêm até a gente para seguir. Inclusive, hoje mesmo, eu estava levando minha esposa para o trabalho e um carro totalmente diferente encostou perto de mim e começou a proferir palavrões contra a minha pessoa. Eu não reconheci a pessoa, mas eu fiquei bastante assustado e com a incerteza de não saber se vou voltar para casa, para minha família”, contou um motociclista por aplicativo que preferiu não se identificar.
De acordo com ele, as tentativas de intimidação têm se tornado cada vez mais graves e frequentes. E o medo é sair de casa para trabalhar e ser agredido em via pública. “Vários mototaxistas já ameaçaram incendiar nossos veículos, disseram que vão pegar a gente pela rua, que é para gente ter cuidado. Mais recentemente, alguns fizeram contas falsas no aplicativo também para coletar informações. Porque lá a gente sabe que tem a placa do veículo, identificação do condutor, a foto de perfil, e então nós estamos expostos”, explicou o trabalhador. Ainda segundo ele, já há boletins de ocorrência registrados na 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil relatando os fatos.
Outro motociclista explica que a perseguição também se dá por agentes do Departamento Municipal de Transporte Urbano (DMTU). De acordo com o profissional, vários condutores estão sendo autuados e seus veículos levados para o pátio de retenção o que, de acordo com o trabalhador, é uma conduta irregular dos agentes.
“Recentemente, um colega nosso teve seu veículo apreendido duas vezes pelo órgão de trânsito municipal de Marabá. Ele estava trabalhando pelo aplicativo, mas os agentes afirmaram que o transporte era ilegal. Ele entrou com ação judicial para receber o reembolso do dinheiro que foi perdido, pois o valor da multa ficou em torno de R$ 700 foram os custos com guincho, diária de pátio, enfim... Um prejuízo equivalente à um salário mínimo”, conta.
“Nós éramos mais ou menos 150 motociclistas trabalhando pelo aplicativo. Depois dessas ameaças e perseguições, esse número caiu para cerca de 40, 50 condutores. Porque só continuou quem conseguiu juntar um dinheiro e fazer o seguro do veículo que está rodando e, mesmo assim, está trabalhando com medo”, analisa o motociclista.
Mototaxistas buscam apoio na Câmara
Nesta semana, centenas de mototaxistas regulamentados pela legislação municipal estiveram no plenarinho da Câmara Municipal de Marabá, que ficou lotado. O objetivo da mobilização era levar a insatisfação com a concorrência com os aplicativos aos vereadores e cobrar soluções para o impasse. A Associação dos Mototaxistas de Marabá evita comentar os casos de ameaça relatados pelos trabalhadores de aplicativos, mas defende que a atuação por meio de plataforma digital não tem segurança jurídica para continuar.
“O serviço é irregular e as pessoas estão forçando a implantação em Marabá. É um serviço que não tem amparo legal nem a nível federal, nem a nível municipal e, portanto, clandestino. Nós estamos unidos para cobrar mais fiscalização do poder público. Por isso, foi necessário trazer esses trabalhadores aqui, estamos perdendo um dia de trabalho para reivindicar soluções para uma situação que não deveria sequer ter chegado a esse ponto se o DMTU fizesse a parte dele”, avalia Fred Pereira, presidente da Associação.
Segundo o dirigente, parte da insatisfação da categoria tem sido motivada em função das exigências que todos os profissionais regulamentados têm que cumprir para poder trabalhar nas ruas de Marabá, o que não é cobrado na mesma medida dos motociclistas que atuam por aplicativos. “Nós estamos fazendo nossa parte, cumprindo o que a lei nos obriga a fazer. A gente tem que fazer um curso de capacitação de 30 horas, um cadastramento anual, temos que apresentar certificação negativa federal, estadual e municipal, pagamos tributo municipal, o veículo precisa ter, no máximo, seis anos de uso, e ainda passar por uma vistoria a cada seis meses”, detalha Pereira.
O que dizem as autoridades
Jair Guimarães, diretor do Departamento Municipal de Transporte Urbano, esclarece que o trabalho dos agentes do órgão de trânsito tem se pautado no que determina legislação. “As fiscalizações são pautadas à luz da Lei 12.587, que é federal, e estabelece que, entre outros critérios para que possa exercer essa atividade de motoristas de transporte por aplicativo, que a pessoa seja habilitada na categoria B. Ou seja, veículos sobre duas rodas não estão previstos na atual legislação”, explica. “Então, para o DMTU, se trata da exploração do transporte de passageiros em uma modalidade que já é regulamentada pelo município, que é de mototaxistas”.
Já o superintendente regional de Polícia Civil, delegado Vinícius Cardoso, alerta para as implicações legais que podem ser imputadas a quem proferir ameaças ou agredir esses trabalhadores. “A polícia civil vem investigando e algumas pessoas inclusive já foram responsabilizadas. O que a gente aconselha é que quem se sinta prejudicado não aplique aquilo que a gente chama de ‘justiça com as próprias mãos’, porque pode ser indicado criminalmente”.
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