Comunidade de Santana do Aurá: vida difícil entre o lixo e a fumaça
Se quem vive longe do local reclamou do odor e da falta de visibilidade causada pela fumaça, para quem mora na comunidade a situação é de desespero. Problemas respiratórios são denunciados e quem mais sofre são as crianças e idosos.
Imagine conviver com uma montanha de lixo esfumaçante. Sair de sua casa e avistar um enorme rastro de fumaça fétida, tão densa que esconde até mesmo uma parte da luz do sol. Essa é a frequente situação dos moradores da comunidade Santana do Aurá, que fica próxima ao antigo lixão do Aurá, hoje desativado, pelo menos oficialmente. Na última sexta-feira (16) os moradores começaram a perceber fogo e fumaça vindos dos enormes montes de resíduos que permanecem no local.
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As colunas de fumaça se expandiram rapidamente e puderam ser avistadas até mesmo em muitos bairros da capital. De acordo com os moradores, a situação ocorre com frequência, mas dessa vez se expandiu para outros pontos da cidade.
Se quem vive longe do local reclamou do odor e da falta de visibilidade causada pela fumaça, para quem mora na comunidade a situação é de desespero. Os moradores se sentem humilhados e não sabem a quem recorrer. Na sexta-feira (16) acionaram o Corpo de Bombeiros, mas as equipes chegaram ao local no sábado (17). A prefeitura de Ananindeua permaneceu em silêncio sobre o caso, até que a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Belém vieram a público informar que iriam solicitar que o órgão de Ananindeua se manifestasse sobre o incêndio.
A Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) reconheceu, posteriormente, que a fumaça foi originada no lixão desativado e que o foco de fogo foi ocasionado pela liberação de gás metano gerado pelo acumúlo de resíduos. De acordo com o órgão, a falta de chuvas fez o clima esquentar e o fogo se alastrar. A Secretaria informou também que, em conjunto com o Corpo de Bombeiros, encaminhou carros- pipa e carros de hidrojateamento para amenizar a situação.
“Pra gente que mora aqui é difícil demais. Não é a primeira vez que isso ocorre. Eles desativaram o lixão, mas muita gente depende dele ainda aqui. Quando essa fumaça vem, prejudica todos, as crianças e idosos principalmente, muita gente adoece. Se pra quem é de Belém o cheiro de queimado já é insuportável, imagina aqui pra quem mora perto. Por isso pedimos pras autoridades fazerem alguma coisa”, disse Nilson Silva, líder comunitário dos recicladores do Aurá.
Maria de Jesus Machado, de 67 anos, mora no conjunto Verdejante. Ela faz doces e mora nesse endereço há 30 anos: "Fica fedendo. Pior horário é de manhã. Umas seis horas, quando vou para a padaria. Tá horrível. Tenho problema de asma", relatou. Ela afirmou que esse problema com focos de incêndio no lixão começou, na verdade, na quarta-feira da semana passada.
O desespero maior veio após os moradores perceberem que a situação causada pelo incêndio vindo do lixo iria demorar para ser resolvida. A fumaça foi intensa durante quase uma semana. “Na sexta começou e não fizeram nada. Quando o pessoal começou a perceber que a fumaça estava prejudicando outros locais, aí sim enviaram equipes pra apagar. Foram dias assim até que na quarta-feira começou a amenizar”, disse seu Nilson.
"Foram muitos dias nessa situação, mas ontem esteve bem amenizado. Nossa comunidade aqui não recebe nada de ajuda da prefeitura, só aparecemos quando a situação é ruim desse jeito. Mas pelo menos assim eles começam a perceber que nós existimos, que aqui vivem pessoas, iguais a qualquer um, que se incomodam com fumaça e adoecem como qualquer outra pessoa. Esperamos que um dia eles possam cumprir a obrigação deles e fornecer nossos direitos”, diz o morador.
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