Fumaça do Lixão do Aurá não é natural e ocorre anualmente, aponta especialista
Situação revela que área não é um aterro inerte e cujo encerramento do lixão não foi realizado obedecendo critérios técnicos científicos para controle das emissões de gases
Nos últimos dias a fumaça e o mau cheiro provenientes da área do antigo Lixão do Aurá tomaram conta da comunidade de Santana do Aurá, no limite entre Belém e Ananindeua, chegando a atingir vários bairros na capital paraense. O fenômeno, entretanto, não é natural e revela aspectos preocupantes para o meio ambiente e saúde da população da Região Metropolitana. Esse processo vem ocorrendo nos últimos anos e precisa ser revertido com ações estruturais, como destaca o engenheiro ambiental e professor Neyson Martins, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que falou com a Redação de O Liberal nesta terça-feira (20).
Vale lembrar que o problema teve início na madrugada do último sábado (17), quando o Corpo de Bombeiros identificou um incêndio no antigo Lixão do Aurá, ainda utilizado pela Prefeitura de Belém para o descarte de resíduos não domiciliares, como itens da limpeza urbana e entulhos. As equipes do CBM atuaram contra os focos de incêndio durante todo o final de semana e, na segunda-feira (19), por volta das 5 horas, a fumaça chegou à superfície e se espalhou por bairros da capital.
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Sem critérios
De acordo com o professor Neyson Martins, "a fumaça que está saindo do Lixão do Aurá não é um fenômeno natural". Ele observa que "essa área não é um aterro inerte e que o encerramento do lixão não obedeceu a critérios técnicos científicos para controle das emissões de gases".
A provável causa desse processo, como ressalta o engenheiro ambiental, "deve estar relacionada à ação humana em explorar metais presentes nos revistos ali depositados, como o cobre e outros materiais com potencial de comercialização".
Demanda
De forma urgente, segundo o professor, "o que precisa ser feito é a caracterização dos resíduos que ali são depositados com relação à NBR 10.004 (norma que classifica os resíduos sólidos quanto aos riscos potenciais que representam ao meio ambiente e à saúde pública) para que seja feita uma classificação dos que se encontram aterrados e dos que estão sendo destinados" para que se obtenha um diagnóstico do potencial que esses materiais têm com relação à combustão quando não gerenciados de modo adequado.
"Posteriormente, já se deveria ter iniciado desde 2015 o estudo de engenharia de encerramento do Lixão do Aurá, como está ocorrendo no Aterro do Roger em João Pessoa (PB), cuja área está sendo objeto de projeto pioneiro no território brasileiro e que tem a participação nossa e de outros técnicos paraenses em conjunto com profissionais de Portugual, para se ter a transferência tecnológica de como fazer o devido encerramento de lixões e, assim, se cumprir com o avanço do novo Marco Legal do Saneamento no Estado do Pará", assinala o professor.
Questionado se o problema da fumaça proveniente do Lixão do Aurá vem se repetindo nos últimos anos, o professor Neyson Martins foi assertivo: "Sim, pois não está sendo realizado o devido manejo em atendimento às normas e padrões da engenharia de gerenciamento de resíduos sólidos".
Preocupação
A advogada Érika Monteiro, 34 anos, mora no bairro Parque Verde, mas, ultimamente tem passado os dias na casa da mãe, em Nazaré. "Tenho notado o problema da fumaça, do mau cheiro. Então, eu fico preocupada porque tenho asma, bronquite, rinite", declarou.
Érika acredita que essa fumaça, por ser proveniente de uma área de lixo, é tóxica". Na avaliação dela, o Ministério Público do Pará (MPPA) já deveria ter se manifestado. "E quem provocou essa situação deveria ser responsabilizado; não se pode deixar a população adoecer, para só então tomar uma providência", finaliza.
Combate aos focos de incêndio
A Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informa, nesta terça-feira (20), que atualmente o aterro do Aurá, em Ananindeua, recebe apenas resíduos inertes (materiais oriundos da limpeza urbana, exceto lixo domiciliar).
Em relação aos focos de incêndio, a Sesan explica que "são recorrentes devido à grande quantidade de resíduos orgânicos que o local recebeu durante décadas, e que, em decomposição, naturalmente, gera gás metano. Vários fatores podem desencadear esses focos como descargas atmosféricas, descarte de pontas de cigarro acesas.
"A Secretaria informa, ainda, que faz o controle e combate dos focos de incêndio em conjunto com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil", diz a nota da Prefeitura de Belém.
Confira aspectos importantes do assunto
- Fumaça do Lixão do Aurá não é natural, como aponta o professor Neyson Martins
- "Encerramento do lixão não obedeceu a critérios técnicos científicos para controle de emissão de gases", diz esse engenheiro ambiental
- Problema vem ocorrendo nos últimos anos, porque não foi realizado o devido manejo em atendimento às normas e padrões da engenharia de gerenciamento de resíduos sólidos, como diz o professor
- Prefeitura de Belém explica que aterro recebe apenas resíduos inertes (materiais oriundos da limpeza urbana, exceto lixo domiciliar)
- Segundo a Prefeitura, focos de incêndio são recorrentes devido à grande quantidade de resíduos orgânicos que o local recebeu durante anos, o que, em decomposição, naturalmente, gera gás metano
- Prefeitura faz o controle e combate ao foco de incêndio, em conjunto com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil
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