CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Com quase 100 denúncias de crimes racistas em 2022, movimentos do Pará pedem justiça

O caso mais recente ocorreu no último dia 6 de julho, quando o Quilombo da República, em Belém, foi saqueado; Coordenadoria Antirracista (Coant) vê ataque com preocupação

Camila Azevedo
fonte

O Pará registrou 92 casos de injúria racial nos primeiros quatro meses de 2022. O número é 5% menor do que a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) contabilizou no mesmo período de 2021, somando 96 ocorrências. No Brasil, segundo o Atlas da Violência 2021 desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de homicídio é 18% maior para negros do que para não negros. No último dia 6 de julho, o espaço Quilombo da República (QR), localizado na praça da República, em Belém, foi alvo de ataques de vândalos que saquearam a mercadoria, sendo esse o segundo ato ocorrido somente este ano no local. Os responsáveis pelo espaço falam em crime de racismo. 

VEJA MAIS

image Nelson Piquet chama Lewis Hamilton de 'Neguinho' em entrevista de 2021 e viraliza; vídeo
Comentário de cunho racista foi proferido durante entrevista ao jornalista Ricardo Oliveira

image Pela segunda vez, Nelson Piquet minimiza racismo contra Hamilton: ‘Isso é tudo besteira’
Brasileiro ainda disse que não se importava com o caso e afirmou: ‘Isso não atrapalha a minha vida’

image Professora universitária de Itaituba denuncia racismo em Carta Aberta
Ataques aconteceram em troca de mensagem pelo WhatsApp

A injúria está relacionada ao uso de palavras com a intenção de ofender a honra da vítima, enquanto que racismo é a conduta discriminatória dirigida a um grupo. Foram 2 casos de racismo entre janeiro e abril de 2022, um a menos do que o que a Segup registrou ano passado. A diminuição é pouca e longe de ser a ideal para um país que conta com 77% da taxa total dos mortos sendo pessoas negras, que tem 2,6 vezes mais chances de ser assassinados do que um não negro, de acordo com o levantamento do Ipea. 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que todos nascem livres e iguais em dignidade e direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Junto a isso, a Lei 7.716/89, conhecida como Lei do Racismo, reforça a punição para todo tipo de discriminação ou preconceito de origem, raça, cor, sexo ou idade. A capital paraense também conta com uma conquista que visa conter a intolerância étnico-racial: o Estatuto da Igualdade Racial é o primeiro a ser sancionado na região Norte.

Para combater a desigualdade e fazer com que os direitos previstos sejam amplamente garantidos, a solução passa por políticas públicas de qualidade que afirmem a importância de manter a população e a memória seguras. A professora Zélia Amador, militante do movimento negro, diz que casos de racismo são recorrentes e sentidos cotidianamente em corpos que têm sido violados ao longo do tempo. “É um corpo que incomoda, porque elabora discursos e nem sempre esses discursos são aceitos. O racismo mata, mutila, diminui a cidadania das pessoas negras. A juventude negra morre com frequência”, conta. 

“O Estado precisa de estratégias de punição, valorização do grupo discriminado e formas de reparação. Estratégias de reposição, promoção. É assim que combatemos o racismo”, pondera a professora. 

Com isso, a Coordenadoria Antirracista da Prefeitura de Belém (Coant) atua com o objetivo de implementar políticas de ações afirmativas para a população negra da cidade. A responsável pela pasta, Elza Rodrigues, explica que diversas ações são colocadas em prática e pensadas para minimizar os efeitos do racismo na sociedade. “Oferecemos orientação jurídica para as pessoas que sofrem injúria ou racismo. Como sabemos que isso deixa sequelas, temos apoio psicossocial para quem busca auxílio por meio de terapias”, destaca. 

image Mulher é presa por ofender família com falas racistas em transporte público; vídeo
Passageiros se revoltaram com a situação e um segurança evitou que a confusão terminasse em pancadaria

image Médico é denunciado após ameaça racista a atual namorada da ex-esposa: 'Ela é macaca'
As ameaças seriam motivadas pelo relacionamento de Dara com a ex-esposa do médico, a professora Jéssica Andrade

image Itaituba registra mais um caso de racismo de alunos contra professora
Ministério Público investiga a conduta de estudantes da Escola Estadual Tecnológica do Pará (EETEPA)

image O entorno do Quilombo da República é um lugar de encontro, reencontro, acolhimento, alegria e resistência negra em Belém (Márcio Nagano/O Liberal)

O ataque ao QR é visto com pesar e preocupação pela Coant por ser, ao longo dos anos, objeto de concretizações de invasão, roubo e destruição. Assim que souberam do que aconteceu, acionaram as autoridades. “Isso nos preocupa muito porque ele é um espaço histórico, ancestral, de extrema importância para a valorização da presença negra em Belém. A primeira medida da Coant foi reportar às instâncias legais que poderiam atuar no caso”, finaliza Elza.

Quilombo da República

O QR é o local onde negros, negras e deslivalidos foram enterrados, se tornando, então, um território sagrado para os movimentos que lutam cotidianamente para resistir e reconstruir espaços de memória coletiva.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Pará
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM PARÁ

MAIS LIDAS EM PARÁ