Bois de máscaras fazem o diferencial no Carnaval de São Caetano de Odivelas, no Pará
Pirrôs mascarados, cabeçudos e buchudos animam os foliões e preservam a cultural local
Localizado no nordeste do Pará, o município de São Caetano de Odivelas tem um carnaval diferenciado, por causa da tradição dos bois de máscaras. Há 33 deles no município, dos quais 30 estão em atividade. Ainda como elementos do carnaval há os palhaços mascarados, os “pirrôs”, os cabeçudos e os buchudos. Essa manifestação cultural reúne, portanto, elementos do carnaval e da festa junina.
O Carnaval em São Caetano, distante 100 km de Belém, vai começar no dia 10 de fevereiro. O secretário municipal de Cultura, Airton Simião Neto, disse que o carnaval deste ano começa com os bois de máscara. “É o maior carnaval cultural do estado do Pará. Não são só os bois de máscara. A gente tem os blocos que também acompanham o movimento do carnaval na cidade, mas a gente dá uma ênfase maior para o cultural”, disse ele, lembrando que a cidade também é conhecida pela “terra do caranguejo”.
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Um dos bois é a Vaca Velha, cujo presidente é Ivan Sarmento. A Vaca Velha é do final dos anos 1970. Pelas dificuldades de ir às ruas, saiu de cena, mas um grupo de amigos a resgatou há 9 anos. “Todo mundo em São Caetano é um brincante de boi”, disse. “O boi é tradição, mas ele é inovação”, afirmou. “O boi não é só no Carnaval. A nossa cidade vive o boi de máscaras o ano todo”, afirmou.
O artesão e mecânico de bicicleta Antônio José Monteiro, 44 anos, sai de “pirrô” no boi Vaca Velha. Ele participa dessa manifestação desde os 10 anos. “Eu gosto muito”, contou. “Primeiro, era um “pirrô” de saca que eu tinha. Depois foi de pano e depois foi de cetim que nós comecemos a montar”, contou.
Conhecido como Bob ou Bozó, Simon Palha Garça, 49 anos, sai fantasiado de “cabeçudo”. “Me identifiquei com a figura do cabeçudo”, disse ele, que é pedreiro. Ele também começou criança. Bob afirmou que é um “pouco quente” ficar embaixo do boneco. “Mas, para quem já está acostumado, é divertido. Me sinto feliz”, disse.
Raimundo Afonso Santa Rosa é coordenador do “Boi Búfalo”, criado por um grupo de amigos do pai dele, há 13 anos. “Em um domingo, eu, o meu pai e três músicos resolvemos fazer uma brincadeira para brincar no nosso bairro, nas periferias, pois as brincadeiras eram mais no centro. Como eu tinha um amigo, que tinha uma cabeça do búfalo, aí se tornou até mais fácil para gente”, contou.
“A população de São Caetano abraçou a nossa causa. E, graças a Deus, hoje nós estamos no 14º ano com o boi. É sucesso total aqui em São Caetano, quanto nos outros municípios em que a gente participa nos arrastões de carnaval”, disse. “O Búfalo é um boi diferente dos demais. São duas brincadeiras que nós temos aqui na sede do município que são diferentes dos outros: o Boi Búfalo e a Vaca (Velha)”, contou.
No centro cultural da cidade foram reunidos integrantes de três bois (Faceiro, Bicho Feio e Touro Bandido”, que deram uma pequena demonstração de como será o Carnaval deste ano. Locutor e vendedor, Marcelo Lagoia, 28 anos, sai embaixo do boi Touro Bandido. “Essa cultura, que é muito rica, eu trago desde criança. Eu sempre gostei”, disse. Mas isso requer um certo preparo físico e manter o fôlego. “Eu danço embaixo do boi. Mas também danço de pirrô e cabeçudo”, contou.
Ainda segundo Marcelo, sair debaixo do boi é cansativo, mas gratificante. “É uma cultura que a gente está trazendo desde criança, trazendo para as novas gerações. Carrego essa cultura com amor e carinho”, contou. A filha dele, de 4 anos, também gosta de participar dessa manifestação cultural. “Já está no sangue dela”, contou.
Boi Faceiro foi o pioneiro no Carnaval de São Caetano de Odivelas
Coordenador do Boi Faceiro, Rondi Palha explica que a inserção dos bois de máscaras no Carnaval começou em 2006, sendo uma proposta pioneira do Faceiro. “A gente enfrentou muito problema naquela época com o pessoal mais tradicionalista que acreditava que o boi de máscara devia ser só na quadra junina. A manifestação é de base junina, mas tem características carnavalescas”, contou. “A gente viu na figura dos bois de máscara elementos para enriquecer o Carnaval de São Caetano”, afirmou. Em 2009 o Boi Tinga também veio para essa cena de carnaval.
“A proposta era justamente misturar esses elementos do boi de máscara, esse colorido, a música, os personagens, com toda essa irreverência que é o Carnaval enquanto movimento cultural do Brasil”, disse. Na cidade, o Carnaval não se resume aos bois.
“O boi de máscara serve como esse diferencial. Mas, chegando lá, você vai encontrar bandas, aparelhagens, carretinhas, blocos de abadá. Este ano o Faceiro tradicionalmente vai encerrar a programação de arrastão de boi, na terça-feira”, contou.
“Esse ano com uma proposta no tema da diversidade cultural, justamente porque que o Carnaval é diverso, é múltiplo. É muito pé no chão. É um dos poucos grupos que ainda mantém a bandinha tradicional, a bandinha carnavalesca, arrastando os foliões pelas ruas da cidade”, disse. Deve iniciar às 17 horas e vai até por volta das 20 horas, culminando na orla da cidade. Este ano a gente está estimando um público de 3 mil pessoas no ápice do arrastão do Faceiro.
No imaginário popular da cultura de São Caetano de Odivelas, o “Boi Faceiro” fora criado na fictícia Fazenda “São João”, localizada nos campos encantados de Odivelas, às margens do rio Mojuim, e habitadas por “buchudos”, “pierrôs”, “cabeçudos”, vigiada por valentes vaqueiros e admirada por lindas donzelas. A fazenda São João é a própria cidade de São Caetano de Odivelas.
Saiba mais sobre os Bois de máscaras
O Boi de Máscaras de São Caetano é o único do Brasil conduzido por duas pessoas para dar a ideia de ser um animal de verdade, com quatro patas. O boi é o centro da brincadeira. A figura do boi não tem adornos e tenta reproduzir o animal de verdade.
A maioria dos bumbás têm uma única pessoa que veste a figura do boi, que eles chamam de tripa. Em São Caetano, o nome dado não é tripa, e sim perna. São “os pernas do boi”.
O boi pesa em torno de 60 quilos, daí precisa de duas pessoas para dar vida para ele. O boi de São Caetano não tem uma história a ser contada. Ele é baseado na dança, na música e na performance teatral.
O boi tem um ciclo na safra junina, que aparece no início da safra, no mês de junho, e foge no final para não ser morto. No enredo do bumbá tradicional, ele é morto e é ressuscitado por um pajé, por um médico, por uma feiticeira e por um xamã.
No caso do boi de máscara, não. Ele foge para não haver essa morte. E foge e vai para o imaginário e retorna no ano seguinte. No carnaval, ele tem uma proposta um pouquinho diferente. Ele faz um arrastão típico do Carnaval, um arrastão de rua. Enquanto em junho, ele faz uma espécie de esmolação, em que ele brinca de casa em casa, a partir do carteado.
No carnaval, não. Ele faz um arrastão só, um arrastão uniforme, em que todas as pessoas se permitem participar. No caso da quadra junina, as pessoas só se permitem brincar se forem fantasiadas com as roupas típicas da quadra junina. No carnaval, não. Há essa miscelânea entre os personagens do boi, devidamente mascarados e fantasiados, com os foliões de carnaval mesmo.
Pirrô mascarado
O “pirrô” mascarado. Usa-se muito o carnaval veneziano para fazer um paralelo, mas ele não tem uma relação direta. Personagem com uma roupa espalhafatosa, com listras verticais multicoloridas. Um outro adereço icônico do “pirrô” mascarado de São Caetano é sua máscara com nariz pontiagudo.
É a figura mais constante do boi de máscara, é a figura mais visível, é a que dá o colorido, é a alegria para a manifestação. Eles não dançam, pulam no boi, de acordo com o samba ou a marcha de boi que são tocados durante a quarta junina. No carnaval, claro, ele acompanha o frevo e a marchinha.
Cabeçudo:
O cabeçudo é uma figura do boi de máscara. Essa cabeça grande, gigante, vai até a cintura do brincante, onde se prende um paletó com os braços acolchoados. E dá essa figura de uma cabeça grotesca, gigante, e um corpo minúsculo. E o braço acolchoado dá essa coisa meio molenga para o cabeçudo.
E o cabeçudo se tornou hoje um dos ícones da cultura popular do Estado. É uma das figuras mais hilárias, não só do boi de máscara, mas da cultura popular do Estado do Pará.
Buchudo:
É uma figura errante, que destoa da estética. Esse buchudo pode ser um fantasma, pode ser um demônio, pode ser uma bruxa, pode ser um personagem da cultura pop. Ele depende muito da irreverência e da criatividade de quem se propõe a brincar como buchudo.
Fonte: Rondi Palha
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