Boi Faceiro faz a festa dos foliões no tradicional carnaval de rua de São Caetano de Odivelas
O grupo se apresenta no Carnaval do município desde 2006, com a missão de fomentar e consolidar a participação dos bois de máscaras da região na festa de Momo.
Uma das mais animadas e populares manifestações culturais do Pará, o arrastão do Boi Faceiro ganhou as ruas do município de São Caetano de Odivelas, distante 100 quilômetros de Belém, na tarde desta terça-feira (25). Esse é o mais tradicional arrastão de boi de máscaras do Carnaval do município, localizado no nordeste paraense.
O Boi Faceiro se apresenta no Carnaval do município desde 2006, com a missão de fomentar e consolidar a participação dos bois de máscaras da região na festa de Momo e, desse modo, dar uma singularidade à folia em São Caetano de Odivelas. Tem elementos de festa junina e de Carnaval, o que torna o arrastão ainda mais bonito e contagiante. E com as marchinhas tocadas pela banda de músicos que acompanha o cordão pelas ruas, a animação é garantida.
Este ano, os integrantes do Boi levaram para as ruas a mensagem da diversidade. Coordenador do Faceiro, Rondi Palha disse que o arrastão se propõe a misturar elementos e personagens da cultura popular dos bois de máscaras, como os ‘pierrôs’ mascarados (também chamados de palhaços) e os cabeçudos, com a irreverência e a democracia do movimento do Carnaval.
"Mais uma vez, estamos levando cultura, tradição, folclore e entretenimento pelas ruas de São Caetano, numa proposta de fazer um Carnaval singular, com elemento próprio, que são os bois de máscaras, algo muito particular de São Caetano, porém mesclado a toda essa democracia momesca, toda essa irreverência do carnaval", disse. "Mas sem esquecer que a essência da manifestação é a quadra junina, que é o grande mote dos bois de máscaras", acrescentou.
Segundo Rondi, o arrastão do Boi Faceiro traz o carnaval pra rua e convida o folião para brincar com o pé no chão, a família reunida, se sentindo bem à vontade. E o mais importante: respeitando o espaço de cada um, a diversidade e a opinião do outro. Que, aliás, é a mensagem desse ano. Diversidade. Respeito ao outro", afirmou Rondi.
Durante o arrastão, as figuras dos bois interagem com foliões fantasiados das mais variadas maneiras e a trilha sonora fica por conta de uma bandinha carnavalesca composta por músicos locais que tocam frevo, marchinhas de carnaval, além de sambas e marchas de boi, que são músicas compostas especificamente para a manifestação.
A manifestação
O Boi de Máscaras de São Caetano é o único do Brasil conduzido por duas pessoas, explica Rondi. É que o boi (armação feita em ferro e papelão, de interior oco onde ficam os 'tripas', como são chamados os condutores) pesa 80 quilos. Nesse caso é preciso que duas pessoas conduzam a estrutura para dar a ideia de ser um animal de verdade, com quatro patas. No total, seis pessoas (três duplas) se revezam no trabalho de levar o 'Faceiro' pelas ruas.
O boi é o centro da brincadeira. A figura do boi não tem adornos e tenta reproduzir o animal de verdade. O único adereço é uma fita vermelha e amarela no pescoço, que são as cores do município. Em torno dele orbitam outros personagens como os bonecos cabeçudos, uma das figuras mais engraçadas da folia odivelense; e o pierrô de roupa multicolorida, capacete de tala ornado com flores e fitilhos e sua máscara de nariz pontiagudo, que remete ao carnaval veneziano.
Há, ainda, os “buchudos”. Esses não têm um padrão. Basta seguir a irreverência e a criatividade - pode ser quem o folião queira: um político, um personagem fictício, um ser inventado ali, na hora. A única regra é que esteja mascarado.
Há quatro anos Ruan Madson, 12, sai fantasiado de cabeçudo. "É bonito, eu acho bem legal", diz. E para quem tem curiosidade, ele conta que não costuma fica tonto por ter que ficar girando o tempo todo, de um lado para o outro. "Fico apenas suado", afirma.
Pedro Lucas Nazaré tem 13 anos e é uma das "pernas" do boi. Durante alguns anos, ele saiu fantasiado de palhaço mascarado. "Mas sair no boi é melhor. Tem mais emoção", descreve.
Como está embaixo do boi, ele não enxerga nada. Fica olhando para o chão. É guiado pelo "tripa", que fica na parte da frente do boi e olha por um buraco na fantasia. "O da frente é que me guia. Eu só sigo ele"', explica.
O arrastão
A concentração para o arrastão do Boi Faceiro começou depois das 16 horas. Como sempre ocorre, a saída foi na travessa Antônio Baltazar Monteiro, no centro da cidade, em frente à casa de Mestre Bené, já falecido e de quem Rondi é neto. A casa é um ponto de visitação e onde são guardados os materiais do Boi Faceiro.
Este ano, o bloco fez uma alusão aos 20 anos da morte de Mestre Bené, grande incentivador do resgate do Boi Faceiro. E durante os próximos meses serão desenvolvidas uma série de atividades relacionadas à memória dele.
A estimativa inicial é de que três mil pessoas tenham participado do arrastão, que começou por volta das 18 horas e percorreu cerca de 3,5 quilômetros, percurso feito em pouco mais de uma hora e meia. Ao final do desfile, ainda houve um concurso de fantasias, que acontece sempre na orla da cidade.
Sonoridade própria
O Boi de Máscaras é conduzido pelas ruas da cidade ao som de dois ritmos musicais: o samba de boi, mais cadenciado, que lembra um pouquinho o carimbó, e a marcha de boi, que lembra o frevo. E a orquestra que conduz o boi é formada por instrumentos de sopro e corda.
Em 2006, o Boi Faceiro foi o grupo pioneiro na participação no Carnaval de São Caetano de Odivelas com o propósito de alavancar o carnaval local através da introdução dos elementos da manifestação dos bois de máscaras na folia de Momo. Iniciativa essa que tornou o Carnaval odivelense um dos mais peculiares do Estado do Pará.O Faceiro encerra os arrastões na terça-feira.
A história
Fundado em 1937 pelos senhores Epaminondas de Sousa Chagas (Seu Palmira), naquele momento forte comerciante na cidade, e confeccionado por Candido Zeferino (Seu Dido), o Boi Faceiro foi uma das principais atrações culturais de São Caetano de Odivelas, no período entre 1937 e 1947. Quando o grupo desapareceu, em virtude da mudança de endereço de Seu Palmira para Belém. Isso ocorreu por causa das muitas brigas entre os brincantes do Boi Tinga e do Boi Faceiro, na época.
No imaginário popular da cultura de São Caetano de Odivelas, o “Boi Faceiro” fora criado na fictícia Fazenda “São João”, localizada nos campos encantados de Odivelas, às margens do rio Mojuim, e habitadas por “buchudos”, “pierrôs”, “cabeçudos”, vigiada por valentes vaqueiros e admirada por lindas donzelas. A fazenda São João é a própria cidade de São Caetano de Odivelas.
Rondi Palha diz que o bom desempenho do “Faceiro” o tornou uma das maiores expressões culturais do município. Estimulados por preferências esportivas, pescadores ligados ao Marítimo Esporte Clube Odivelense fundaram o boi Tinga, haja vista que o “Faceiro” havia sido criado por “Seu Palmira”, então presidente do Progresso Esporte Clube e naturalmente teve sua imagem ligada ao Progresso Esporte Clube. Os clubes Marítimo e Progresso eram terminantemente rivais nos campos de futebol.
O resgate do “Boi Faceiro” ocorreu em 5 de junho de 1998, por meio do Grupo Art da Terra, liderados por Rondi palha, Eudis Aquino e Pedro Edson dos Santos, e incentivados por Benedito Cardoso de Aquino (Mestre Bené). Após um ano de articulação e preparativos, realizou-se o sonho de Mestre Bené de reviver o “Boi Faceiro”. O “boi” foi confeccionado pelo Sr. Antonio dos Reis Viégas (Mestre Dorrêis), o maior artífice na confecção dos bichos em São Caetano.
Autor das músicas que embalaram o retorno do “Boi Faceiro” ao cenário cultural, o saudoso pescador e compositor Benedito Cardoso de Aquino, mais conhecido como “Mestre Bené”, foi o maior incentivador e responsável pelo resgate do “Boi Faceiro” e tornou-se, também, exemplo de vida e luta em favor dos “bois de máscaras”.
Em sua retomada aos imaginários campos da cultura odivelense, o grupo já participou de vários eventos e festivais na capital e no interior do Estado, além de reportagens e documentários para a imprensa local e nacional. O grupo participou, ainda, das filmagens, em 2006, do filme de longa-metragem “Sol do Meio Dia”, da diretora Lili Caffé.
Foliões elogiam folia
A dona de casa Karly Pinheiro, 27 anos, participou do arrastão do Boi Faceiro. "É um carnaval bem família. Pode levar seus filhos, até os bebês. É bem animado. E não foge à tradição: passa de pai para filho" disse. Ela levou duas filhas Eva (2 anos) e Flávia (8) para a folia. Karly também participou do concurso de fantasias e saiu vestida de mágica.
O professor Ricardo Cardoso Paiva, 42 anos, mora em Ananindeua, na região metropolitana de Belém. Participou do carnaval em São Caetano pelo oitavo ano. Como sempre, veio acompanhado de um grupo de amigos - 12 no total. "Gosto porque é uma carnaval tradicional, com marchinhas antigas. Não tem trio eletrico", argumentou.
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