Queda do dólar barateia produtos importados como alimentos e eletrônicos
Empresários estão confiantes que os preços menores aos consumidores finais façam as vendas subirem
A queda no preço do dólar, acumulada em 8,91% apenas neste ano, até a última segunda-feira (3), tem causado impactos em diversos setores, inclusive no valor de produtos importados pelo Brasil. Para além das grandes indústrias importadoras, os supermercados, shoppings e lojistas independentes também têm sentido as mudanças nas últimas semanas e esperam repassar as retrações aos consumidores finais.
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Economista, Valfredo de Farias explica que, com o dólar mais baixo, é possível que as importações do país cresçam, já que os itens ficam mais baratos. “O real está valorizado, e isso faz com que o poder de compra do brasileiro fique maior. Então, a consequência desse barateamento do dólar é justamente o aumento das importações. Isso a gente vai ver muito se o dólar se estabilizar ou continuar caindo”, afirma. Segundo o especialista, a retração alcança todas as empresas que vendem matéria-prima importada, independente do setor, desde o agronegócio até os eletrônicos.
Supermercados
No caso do segmento de alimentação, por exemplo, as quedas já podem ser notadas, dependendo de quando os produtos foram comprados. Embora a retração não chegue ao percentual de queda do dólar, de acordo com o presidente da Associação Paraense de Supermercados (Aspas), Jorge Portugal, os consumidores finais “com certeza” vão sentir o alívio.
“A queda vai para o preço final. Sempre que tem uma redução no diesel, por exemplo, percebemos no custo do frete, porque tudo é uma composição de preços, e o caso dos produtos importados é o mesmo. Por mais que não seja uma diferença tão grande, o consumidor sente”, afirma. A redução, no entanto, não é imediata. Os itens que são vendidos agora foram comprados tempos atrás, então ainda custaram mais. Devem ficar baratos, diz Portugal, as bebidas alcoólicas como vinhos e uísques, além do azeite e algumas frutas.
O economista Valfredo de Farias concorda. Ele diz que, conforme o dólar for caindo mais, as reduções poderão ser sentidas pelos consumidores. “Muitas indústrias produzem com matéria-prima importada. Então, já que ela ficou mais barata, a indústria também tende a vender o seu produto mais barato”, adianta. Há muitas coisas que são importadas, mas que ainda não estão custando menos por causa da troca de estoques, afirma ele. “Provavelmente, os estoques ainda estão com preço antigo, de quando o dólar estava mais caro”.
Eletrônicos
Também devem ter o preço impactado pela queda do dólar itens como vestuário, cosméticos e eletrônicos, de acordo com Farias. O empresário Luiz Arthur, de 24 anos, já tem percebido um preço mais ameno nos produtos importados. Ele trabalha com caixas de som, fones de ouvido, smartphones, tablets, notebooks e outros tipos de eletrônicos como videogames e câmeras de impressão rápida.
“Apesar de a gente estar falando muito que ele tem caído nessas últimas semanas, acho que de março para cá foi que realmente eu comecei a sentir a diferença no meu bolso, quando os preços começaram a dar uma caidinha, as coisas ficaram mais baratas”, conta. Para o consumidor final também há uma diferença. “Eu repasso sempre essa variação para o consumidor. Se baixou para mim, baixa para todo mundo”.
Alguns exemplos de produtos que ficaram mais baratos na loja de Arthur são as caixas de som, que chegavam a R$ 3 mil e, nos últimos meses, caíram para R$ 2.800 e agora chegam a custar R$ 2.500, dependendo do modelo. Já alguns tablets, que também custavam R$ 3 mil, agora são vendidos por cerca de R$ 2.300.
“Em alguns modelos foram quedas de R$ 800, então acho que, com a queda do dólar, as vendas com certeza vão aumentar. Tem celular que está saindo bastante. Acredito que o dólar possa, sim, ter influenciado na decisão de compra, porque quando está mais barato o povo tende a comprar mais. Acho que as vendas vão continuar subindo. Inclusive, as minhas vendas subiram bastante, mesmo de produtos tidos como caros no mercado”, menciona.
Expectativas
A moeda americana ainda tem espaço no mercado para mais quedas, como adianta o economista Valfredo de Farias. Isso porque as exportações do Brasil estão muito fortes, principalmente no agronegócio e nas commodities de maneira geral. Isso, de acordo com o especialista, é capaz de trazer muitos dólares ao país. Aliado a isso, há uma tendência de redução dos juros no Brasil a partir do segundo semestre.
“Apesar de os juros trazerem um certo capital especulativo, com a tendência de queda, alguns setores ficam fortes aqui dentro do Brasil, principalmente o varejo. Então, muita gente vai trazer seu recurso para investir no mercado financeiro, e isso vai tornar, de certo modo, a economia um pouco mais confiável, o que também tende a trazer mais dólares ao país. A lei da oferta e da demanda vai trabalhar. Com mais dólares disponíveis aqui, o dólar vai ficar mais barato e o real vai ficar mais caro”, exemplifica o economista.
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