Fortalecimento da moeda brasileira preocupa economia paraense
A valorização do real frente ao dólar afeta diretamente os números da economia do Pará, um dos estados brasileiros que mais exporta.
A cotação do dólar fechou o primeiro semestre de 2023 com uma desvalorização que não se via há sete anos no mercado brasileiro. Entre o dia 1º de janeiro e o dia 19 de junho, o dólar Ptax para venda, índice de referência para as operações de câmbio no mercado financeiro calculado pelo Banco Central, registrava um recuo de 8,38%. Este é o maior declínio para um primeiro semestre desde 2016, quando a cotação caiu 17,80%. A moeda americana, que iniciou o ano sendo cotada a valores próximos de R$ 5,23, fechou a última quinta-feira (22) a R$ 4,77, menor patamar para o câmbio desde maio de 2022. O fortalecimento da moeda nacional este ano mostra a gangorra da economia brasileira em busca de um equilíbrio. Setores brasileiros que trabalham com importações comemoram o fortalecimento da moeda nacional, enquanto as empresas que exportam tentam encontrar saídas diante de uma possível perda de competitividade.
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O tema afeta diretamente os números da economia do Pará, um dos estados brasileiros que mais exportam, mas que vem de um ano passado com variação negativa. De acordo com dados do Ministério da Economia, analisados pelo Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Pará (CIN/FIEPA), o Estado encerrou 2022 na quarta posição no ranking entre os maiores exportadores do país. Mesmo com um total de US$ 21.471.250.291 bilhões em exportações no período e quase 180 milhões de toneladas de produtos comercializados no mercado internacional, o Pará fechou o ano com uma variação negativa de -27,28% e a tendência de retração pode continuar com o fortalecimento da moeda nacional lá fora.
“O Pará é um dos maiores estados exportadores do país, principalmente com o minério de ferro e os grãos do agronegócio. Toda vez que a moeda nacional se valoriza, as empresas brasileiras deste setor perdem competitividade, porque o produto nacional fica mais caro no mercado estrangeiro, justamente porque o real está ficando forte. Quando o dólar estava se aproximando dos R$ 6, por exemplo, as exportações estavam bombando porque o produto brasileiro estava mais barato para esse mesmo comprador. Então agora as empresas vão enfrentar dificuldades de competir lá fora e uma consequência disso pode ser a queda das exportações, o que vai impactar muito as empresas paraenses”, diz Valfredo de Farias, economista e consultor empresarial.
O que dizem setores da exportação paraense
Carne
Se o mercado iniciou o ano em meio às incertezas macroeconômicas globais e sobre os rumos do novo governo no Brasil, o fortalecimento da moeda no primeiro semestre mostra uma mudança de humor dos investidores em relação ao Brasil. Para Daniel Acatauassú, presidente da Associação. Brasileira dos Exportadores de Gado em Pé – ABEG, e Aldir Schmitt, proprietário da Algimi Florestal e uma das lideranças do setor madeireiro no Estado, o momento pede que os setores que trabalham com exportação no estado encontrem alternativas que mitiguem os possíveis prejuízos causados com o fortalecimento da moeda nacional.
“No caso da carne, além do atual fortalecimento do real, o que mais proejudicou o setor esse ano foi o autoembargo do Brasil à China, onde nós passamos em torno de 40 dias sem poder vender para aquele mercado que é o maior destino da carne brasileira. O dólar caiu esse semestre, mas por outro lado, a arroba do boi caiu bastante também, em torno de 25% esse ano. Então, com isso, a carne brasileira continua competitiva lá fora, porque uma ação neutralizou a outra, digamos assim”, diz Daniel Acatauassú. Apesar de destacar os possíveis prejuízos ao setor de exportação de carne bovina, o presidente da Abeg sente um momento positivo para a economia brasileira.
“Para quem trabalha com exportação, um dólar mais forte é sempre mais lucrativo, mas por outro lado, sendo brasileiro e querendo que a taxa de juros caia, e a tendência é que ela cairá conforme a inflação se mostre controlada, a pressão inflacionária será menor, o que faz com que boa parte dos setores respirem. Então, olhando pelo lado do Brasil, é um bom momento”, disse.
Madeira
Um dos principais itens de exportação da Amazônia, a madeira sofreu uma queda de 46% no volume exportado ao longo dos últimos dez anos e teme persistir na retração com a valorização do real. A visão do presidente da Abeg não é compartilhada integralmente pelo setor madeireiro. É o que garante Aldir Schmitt. O proprietário da Algimi Florestal, empresa especializada na exportação de madeira sediada em Santarém. relata dificuldades anteriores atravessadas pelo setor devidos aos juros altos nos Estados Unidos e na Europa. Com o fortalecimento do real, Aldir teme um efeito pior ainda.
“Nós já estamos com dificuldade de venda no mercado externo em função dos juros que estão muito altos nos EUA e na Europa, além também das dificuldades impostas com a guerra, que acabou aumentando muito o custo de vida do europeu. Hoje, com essa dificuldade de venda, os nossos preços caíram. Muitas vezes fazemos um contrato hoje e só vamos conseguir embarcar e entregar o produto 90 dias depois, devido a todas essas dificuldades. O setor está perdendo valor e agora estamos em busca de saídas. Nas próximas vendas, para não termos esse prejuízo, estamos planejando aumentar o valor em dolar do produto, mas isso também é preocupante. O que já está difícil de vender hoje, vai ficar pior ainda com o dólar caindo a todo momento”, diz Aldir.
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