Quanto vale a sua íris? Entenda o que está por trás da ‘venda de olhos’

Tecnologia almeja verificar a humanidade das pessoas, mas acende alerta sobre compartilhamento de dados sensíveis

Maycon Marte

A “venda de íris” tomou conta da internet após vídeos de filas de pessoas em São Paulo reunidas para trocar o escaneamento da sua íris por uma quantia em dinheiro. Mas, longe de ser apenas um novo mercado, a ação faz parte de um projeto maior e futurístico que ascendeu a curiosidade das pessoas e um alerta entre especialistas e órgãos de segurança. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), responsável por proteger os dados pessoais dos brasileiros, afirma por meio de nota que está fiscalizando a movimentação da empresa que encabeça o projeto.

“Em 11 de novembro de 2024, a Coordenação-Geral de Fiscalização da Autoridade Nacional de Proteção de Dados instaurou o processo de fiscalização nº 00261.006742/2024-53 em face da empresa para investigar o tratamento de dados biométricos de usuários no contexto do projeto World ID da equipe da Coordenação de Fiscalização. Não há um prazo definido para conclusão da análise”, destaca a entidade.

O escaneamento é parte do projeto World, da empresa Tools for Humanity (TFH), encabeçada por Alex Blania e Sam Altman, criador da Open AI. Em resumo, a ideia central é organizar um banco de dados com as íris escaneadas, para que no futuro o registro sirva como uma “prova de humanidade”, diferenciando humanos e Inteligências Artificiais. Um exemplo prático seria nas redes sociais, com o reconhecimento de contas operadas por humanos e IA’s, mecanismo que auxiliaria entidades governamentais e usuários. Os participantes são pagos com worldcoins, a criptomoeda nativa do projeto, através do aplicativo World App. Uma unidade da moeda é o equivalente a US$ 2.

Para a ANPD, a íris dos olhos, assim como as digitais, palmas das mãos e outros, são dados pessoais sensíveis, por isso, o tratamento dessas informações assume riscos elevados. Como parte da fiscalização da entidade, foi solicitado esclarecimentos à empresa sobre o uso desses dados. A TFH já enviou os documentos e as informações requeridas, agora o processo está em fase de análise do material recolhido.

Quais os riscos?

A partir do monitoramento realizado pela ANPD, a entidade aponta os principais riscos de fornecer dados biométricos tão sensíveis. Entre eles: o uso desses dados para finalidades não informadas previamente, coleta de dados sem consentimento ou com consentimento inadequado, ações discriminatórias, além de tecnologias falhas ou sistemas mal protegidos, que podem expor os usuários a situações constrangedoras e inseguras.

O professor e especialista em inteligência artificial e cibersegurança, de Belém, Allan Costa vai além e pontua também a incapacidade de resetar as informações biométricas após fornecidas, o que torna as informações vulneráveis, já que as empresas que a possuem estão sujeitas a ataques cibernéticos, por exemplo. Além disso, ele também reflete sobre a vigilância exagerada e o compartilhamento de dados pessoais entre empresas.

“Há o risco de essas empresas venderem ou compartilharem essas informações sem o devido consentimento, comprometendo a privacidade do indivíduo”, explica.

Como se proteger?

É possível tomar cuidados antes de fornecer informações pessoais. Nesse caso, ficar atento aos termos estabelecidos ajuda a evitar que os dados sejam utilizados indevidamente. Além disso, conhecer a empresa que receberá o seu registro e avaliar possibilidades menos invasivas, caso existam, também surgem nas recomendações da nota da ANPD. “Dados biométricos são identificações únicas e permanentes. Por isso, ao contrário de outros mecanismos de identificação, como senhas e cartões de acesso, não podem ser facilmente trocados ou apagados em casos de uso indevido, vazamento ou fraude”, apontam.

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A ideia pode ajudar?

O especialista defende que há efeitos positivos da iniciativa, que derivam de uma “segurança reforçada”, já que, segundo ele, “a íris é praticamente impossível de ser falsificada”. Costa acrescenta que a praticidade desse tipo de tecnologia, quando aplicada em operações do cotidiano, eliminaria a necessidade de memorizar senhas, por exemplo.

“Em setores como saúde e finanças, o uso de biometria pode agilizar processos e reduzir fraudes. Para plataformas de apostas e jogos online, a identificação biométrica pode ser uma ferramenta essencial para garantir que as operações sejam justas e seguras, evitando manipulações e múltiplas contas fraudulentas”, observa sobre outras possibilidades de uso.

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