Inflação provoca aumento de dívidas e ajustes no orçamento

Estudo aponta que quatro em cada dez brasileiros deixou de pagar alguma fatura no último trimestre

Fabrício Queiroz
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Cerca de 78% das famílias brasileiras teme não conseguir pagar integralmente as contas e empréstimos que possui, segundo aponta a TransUnion na pesquisa trimestral Consumer Pulse. O indicador é um digito maior ao detectado no primeiro trimestre deste ano, quando o levantamento mostrou que 77% dos entrevistados estava preocupado com o orçamento.

De acordo com o estudo, o desemprego e a redução dos salários são os principais fatores que afetaram negativamente a renda familiar. Entre o público ouvido, 24% relatou ter perdido o emprego e 21% disseram que tem rendimentos menores atualmente. A situação é agravada diante do cenário de crise econômica e inflação elevada, já que, apesar da queda nos preços de 0,68% detectada em julho, a expectativa é que o país feche o ano com alta de 6,82%, de acordo com as projeções do mercado financeiro.

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Com isso, um dos efeitos é notado no comportamento do consumidor, que tem adotado estratégias para conter os gastos. A pesquisa mostra que 57% cortou gastos com alimentação fora de casa, viagens e entretenimento, 24% cancelou ou reduziu o número de serviços digitais contratados e 19% cancelaram assinaturas.

Outra evidência preocupante é que, nesse contexto, 41% dos entrevistados afirmou que efetivamente não conseguiu honrar com o pagamento de alguma conta ou empréstimo entre os meses de abril e junho. Entre as pendências, 48% são de dívidas com cartão de crédito, 27% de empréstimos pessoais, 14% são de serviços de água, luz e gás; e 10% de serviços de telecomunicações.

O conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (Corecon PA/AP), Luis Carlos Silva, considera esse quadro de pessoas endividadas e inadimplentes está relacionado à falta de ganho real dos salários e à inflação, que tem elevado, por exemplo, o uso do crédito parcelado para compra de itens de alimentação. “Isso se torna uma bola de neve, pois o acúmulo de parcelas compromete grande parte da renda, levando a necessidade de se optar pelo pagamento daquelas contas imprescindíveis à sobrevivência”, analisa o economista.

Para dar conta das dívidas pendentes, 28% das pessoas disse que buscou refinanciar e 25% pagou somente um valor parcial. Para Luis Carlos Silva, essa atitude representa um grande risco para o orçamento a longo prazo. “Fazer o pagamento mínimo da fatura do cartão não é uma estratégia recomendável, pois os juros do crédito rotativo estão superiores a 300%. O melhor a se fazer é negociar com a operadora do cartão com parcelas que não comprometam mais de 30% da renda líquida”, orienta.

“A dica para as pessoas que se encontram endividadas ou inadimplentes é negociar com seus credores, em condições de pagamento dentro de suas realidades financeiras e a partir disso controlar suas finanças. Existem vários instrumentos para isso como planilhas de receitas e despesas ou mesmo aplicativos que ajudam no controle de gastos”, recomenda o economista.

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