Exportações do Pará caem 5,7% até maio, mas saldo fica positivo
Segundo especialista, a pandemia e a guerra na Ucrânia, assim como a troca de governo local, têm reflexo no resultado
A balança comercial do Pará registrou saldo positivo no resultado de janeiro a maio, somando um montante de US$ 7,19 bilhões, puxado pelo alto valor de exportações no período: US$ 8,12 bilhões. Embora o resultado tenha sido positivo, as vendas do Pará a outros países caíram 5,7% na comparação com o mesmo intervalo de 2022. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
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Segundo a coordenadora do Centro Internacional de Negócios (CIN), ligado à Federação da Indústria do Pará (Fiepa), Cassandra Lobato, o resultado ainda tem resquícios da pandemia da covid-19 e da guerra na Ucrânia, dois acontecimentos que afetaram o comércio internacional.
“Além disso, temos um governo novo, o que traz certa insegurança quanto às decisões e o cenário político, então isso tudo acaba refletindo no contexto de compra e venda no nosso país” afirma.
Lobato destaca que o Pará, apesar de ter sofrido queda nas exportações, conseguiu manter a terceira posição no ranking de Estados brasileiros com o melhor saldo na balança comercial. Já na exportação, o Pará caiu para o sétimo lugar, mas, entre esses sete, é o único Estado do Norte e Nordeste, aponta a coordenadora do CIN.
Outro dado que ela citou foi que o interior do território paraense responde por 98% de tudo que é exportado, enquanto a Região Metropolitana de Belém por apenas 2%. Quanto aos compradores, o bloco asiático lidera, com 60,47% de todas as compras, especialmente na China.
Instabilidades
Já o economista Mário Tito Almeida, doutor em relações internacionais, atribui a queda das exportações a problemas logísticos que vêm sendo enfrentados no mundo há alguns anos, principalmente a escassez de contêiners. Para o especialista, esta é uma demanda que vem se tornando cada vez mais urgente.
"A maior parte do comércio internacional é feita por via marítima, por navios. E esses navios trazem consigo grandes containers para colocar exatamente esses produtos. E existe uma escassez cada vez maior de contêineres no mercado internacional, o que tem gerado aumento de custo de exportação e de importação porque, quanto mais a escassez de containers, mais caro ele fica", aponta.
Os conflitos armados, no caso da guerra na Ucrânia, também é um fator que atrapalha o comércio internacional do Brasil, diz Mário Tito, porque ambos são fornecedores não apenas de commodities, mas também, especialmente para o Brasil, de insumos como fertilizantes. Isso sem falar das reverberações causadas por outras situações de conflitos pelo mundo.
Há ainda questões econômicas envolvendo instabilidades. "Eu diria que nós temos um esfriamento do comércio internacional, em especial pelo questionamento hoje do dólar como a moeda definidora dessas relações. Esse questionamento passa também pela crise nos Estados Unidos e pelo avanço da China e de países relacionados como o BRICS, e também o PIB Mundial está em queda. Sem contar que há uma instabilidade econômica na União Europeia, que é uma grande parceira econômica do Brasil", ressalta.
Resultado
A maior fatia das exportações fica com o minério de ferro (55% da pauta), seguido da soja (9,9%), minério de cobre (9,3%) e alumina (8,2%). Dentre os segmentos mais importantes da pauta, os itens que mais cresceram em exportações foram as sementes de girassol, gergelim, canola, algodão e outras (alta de 964%). Atrás, aparecem os animais vivos (não incluindo pescados e crustáceos), com 86,3%; alumínio, alta de 36,1%; filés, que cresceram 20,1%; minério de cobre, com alta de 17,6%; e a soja, que teve crescimento de 12,3%.
É normal que o agronegócio tenha destaque, segundo Cassandra, porque está cada vez mais crescente e faz parte do processo de inserção internacional. Quanto ao desempenho de minérios, que teve alguns resultados positivos, ela diz que “para a gente é algo que faz a diferença dentro do Estado, que tem perfil minerador. A mineração responde por 83% do valor exportado”.
Por outro lado, alguns produtos tiveram um baixo desempenho, como é o caso das especiarias (-46%), carne bovina (-43%), madeira (-37%), ouro (-25%), alumina (-15%) e minério de ferro (-9,96%). “O caso do minério de ferro é reflexo do comprador. O principal comprador é a China, mas, desde a pandemia, com o fechamento dos portos para o mundo, caiu muito. Então tem muito mais a ver com o comprador do que com a indústria, eles estão se readequando”. Já a madeira, Cassandra explica que o movimento de vendas mais intenso ocorre no segundo semestre.
Mário Tito avalia que, por mais que as exportações tenham caído, ainda há um certo estímulo para isso, o que "mostra a pujança desse setor na economia no Estado do Pará. E isso pode se manter", diz.
Quanto ao desempenho dos minérios na pauta exportadora, o economista doutor em relações internacionais afirma que a queda tem relação com as crises econômicas mundiais já citadas anteriormente,
"A Organização Mundial do Comércio (OMC) vem alertando para a diminuição da produção de riqueza, bens e serviços. O minério está relacionado com essa produtividade, com o crescimento dos países. Você adquire minério, muitas vezes, para sustentar o parque industrial de um país, então, quando você diminui a compra de minérios, estou me referindo especialmente à China, isso indica um crescimento de investimento em infraestrutura do parque industrial".
Importações
As importações também tiveram retração, na casa dos 8,9%, somando o montante de US$ 934,6 milhões. Os itens mais comprados pelo Pará entre janeiro e maio foram adubos e fertilizantes químicos (26% do total), elementos químicos inorgânicos, óxidos e sais halogênios (20%), produtos residuais de petróleo (8,3%), carvão (7,7%) e óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (7,2%).
Tiveram os maiores destaques em termos de crescimento nas importações as vidrarias, com alta de 7.700%, seguidas de barras de ferro e aço (391%) e materiais de construção de argila e refratários (248%). Ainda aparecem as partes e acessórios dos veículos automotivos (99,3%), jutas e outras fibras (66%), preparações de cereais, de farinhas, ou amidos de frutas e vegetais (62,7%), trigo e centeio (49,5%), ferramentas para uso manual ou em máquinas (33,9%) e elementos químicos inorgânicos, óxidos e sais halogênios (24,4%), entre outros.
Já os resultados negativos ficam com com equipamentos mecânicos para manuseio, elevação e guincho (-87%), óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (-71%), obras de ferro ou aço e outros artigos de metais comuns (-65%), máquinas e equipamentos especializados (-50%) e instrumentos e aparelhos de medição, verificação, análise e controle (-41%).
Balança comercial do Pará em 2023
*De janeiro a maio
Exportações
- Valor total: US$ 8,12 bilhões
- Variação: -5,7%
- Participação: 6,15%
- Posição no ranking: 7ª
Importações
- Valor total: US$ 934,6 milhões
- Variação: -8,9%
- Participação: 0,9%
- Posição no ranking: 17ª
Saldo
- Valor total: US$ 7,19 bilhões
- Posição: 3ª
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços
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