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Veja os cortes de carne que ficaram mais caros em Belém; somente a picanha ficou abaixo da inflação

Pesquisa obtida de forma exclusiva pelo Grupo Liberal revela cortes de carnes que aumentaram de preço ao longo do ano passado

Jéssica Nascimento
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Conforme pesquisa do Dieese/Pa desta segunda (27/01) divulgada com exclusividade pelo Grupo Liberal, o preço dos principais cortes de carne ficaram mais altos nos supermercados de Belém em 2024 e alguns tiveram reajuste maior que 20%, superando e muito a inflação do ano passado de 4,8%. É o caso do filé com uma variação de 20,87% em 12 meses. Em dezembro de 2023, o preço médio do quilo custava R$ 70,42. Já em dezembro de 2024, custou R$ 85,12. No entanto, a carne com maior encarecimento ano passado foi a paulista (coxão duro), que ficou 20,90% mais cara. Em dezembro do ano retrasado, o preço médio do quilo dela era R$ 33,63; no mesmo mês do ano passado, era R$ 40,66.

O corte de carne que subiu menos nos supermercados da capital paraense foi a picanha. Ela ficou apenas 1,79% mais cara no intervalo de 12 meses, ou seja, teve reajuste 3% menor que a inflação do período. Custava R$ 55,16 em dezembro de 2023 e no mesmo mês do ano passado custava R$ 56,15. A inflação de 2024 ficou em 4,8%

A tendência de aumento dos cortes da carne bovina é semelhante ao cenário nacional. Contudo, há diferenças quanto aos tipos de cortes que ficaram mais caras em Belém e no Brasil. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação, divulgado na última sexta (24/01), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a carne ficou 20,8% mais cara em 2024. 

No entanto, no Brasil, acém, patinho e lagarto comum foram os cortes que mais se encareceram ano passado: 24,25%, 24,13% e 22,8%, respectivamente. Cortes mais nobres, como picanha (8,74%) e filé-mignon (18,53%), tiveram aumentos menores comparado a outros.

Salário mínimo X consumo de carne 

Para Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/Pa, se considerarmos o valor de uma diária de trabalho, com base no salário mínimo de R$ 1.518,00, ano passado, o valor gira em torno de R$ 50,60. “Ou seja: este valor não garante nem mesmo a compra de 02 kg de carne, a depender do tipo de corte”, analisa. 

Segundo ele, a pesquisa do Dieese/Pa mostra que, em dezembro de 2024, o trabalhador paraense teve um gasto estimado de cerca de R$183,00 para adquirir aproximadamente 4,5 kg de carne bovina. 

“Além de ter um tempo de trabalho estimado em cerca de 28 horas e 29 minutos das 220 horas mensais previstas em Lei, impactando e comprometendo cerca de 14,00% do atual salário mínimo na aquisição do produto”, analisou Costa.

Fatores do aumento do preço

Para o supervisor técnico do Dieese/Pa, o cenário atual de carestia no preço da carne bovina para o consumidor final tem relação com alguns fatores, entre eles, a elevação do custo de produção, flutuação cambial, aquisição de insumos e maior demanda externa. 

“Mesmo com a volta das chuvas e a melhora dos pastos, condições para engorda do gado, a oferta de boi para abate ainda não foi normalizada, e, além disso, há alta demanda interna e externa por carne, fatores que também podem contribuir para novos aumentos”, explicou Everson Costa. 

"O preço sobe, a clientela diminui", diz açougueiro 

“O Brasil tá refletindo os aumentos que tiveram na nossa cidade. O aumento ocorreu em todos os cortes de carne. Teve um aumento maior nos cortes nobres - picanha, maminha, alcatra, contrafilé. Isso reflete na redução dos nossos clientes. A quantidade que a gente tá vendendo foi refletida nos aumentos. É aquela questão: aumenta o preço, diminui o consumo", disse Nelson Lobato, açougueiro com 55 anos de experiência no bairro do Marco.

image Nelson Lobato. (Foto/Ivan Duarte)

Com mais de cinco décadas de trabalho, ele destacou que os aumentos de preços em Belém refletem a situação nacional, com cortes nobres como picanha e alcatra sendo os mais impactados. O açougueiro notou uma redução significativa na clientela, pois, segundo ele, quando o preço sobe, o consumo diminui.

“Na minha experiência, a perspectiva não é boa. Depende muito do que vai ser decidido a nível de governo, do olhar dele pra questão da agropecuária. A gente vê um embate entre eles. Isso prejudica a população. O governo não tem a sensibilidade de chegar e conversar com o setor agropecuário, trabalhar a questão do incentivo, do investimento. A gente não consegue enxergar isso", afirmou Lobato.

Segundo o açougueiro, a falta de diálogo do governo com o setor agropecuário e a ausência de incentivos são fatores que impactam negativamente tanto a população quanto os vendedores. Ele acredita que uma abordagem mais colaborativa poderia ajudar a conter a alta nos preços da carne.

Vendedor relata alta de 15% nos preços

“A picanha aumentou bastante em 2024, o filé também, mas parou de subir. Esses cortes aumentaram uns 15% mais ou menos. O filé custava R$55 e agora estamos vendendo por R$60, R$65. A picanha aumentou, mas deu uma paradinha agora. Teve o mesmo aumento do filé", informou José Matos, açougueiro no bairro da Pedreira.

image José Matos. (Foto/Ivan Duarte)

Ele disse que cortes como picanha e filé subiram cerca de 15%, embora os aumentos tenham se estabilizado recentemente. Antes vendidos a R$55, esses cortes agora custam entre R$60 e R$65.

"Mesmo com aumento, a picanha ainda é a preferida"

“Os cortes mais procurados aqui no açougue são a picanha e uma carne de segunda que as pessoas procuram bastante, a agulha. A picanha é pro sábado e domingo pra fazer churrasco. Aumentou, mas mesmo assim o pessoal consome bastante", disse Matos.

Apesar da alta nos preços, José Matos comentou que a picanha e a agulha permanecem como os cortes mais procurados por seus clientes, sendo a primeira uma escolha popular para churrascos de final de semana.

A visão dos restaurantes: Patrick Araújo fala sobre a pressão dos custos

“É bem notável o aumento, mesmo que seja pequeno ou grande, a gente sente. Eu sou proprietário de restaurante, então a gente tem um consumo de carne semanal muito grande. Toda vez que a gente vai fazer a compra da mercadoria a gente não consegue precificar o preço", explicou Patrick Araújo, dono de restaurante.

image Patrick Araújo. (Foto/Ivan Duarte)

O empresário destacou que os aumentos nos preços da carne, mesmo que pequenos, têm impacto significativo, especialmente devido ao consumo semanal em grandes quantidades. A instabilidade dos preços também dificulta a precificação dos pratos.

Selma Brito: o impacto no consumo doméstico

“Senti um aumento do contrafilé e da agulha com osso. A picanha também aumentou. Em 2023, estava barata, mas em 2024 subiu e deixei de comprar. As demais carnes não consumo tanto", afirmou a pensionista Selma Brito.

Dona de casa, ela relatou que os aumentos mais sentidos foram no contrafilé, agulha com osso e picanha, sendo esta última cortada do orçamento em 2024 devido ao preço elevado.

Economista analisa: "O peso da carne na inflação é significativo"

“A carne faz parte do segmento alimentação dentro do planejamento orçamentário familiar. Qualquer variação pra mais ou pra menos no segmento alimentação no índice geral de preços impacta porque o peso é muito maior que outros segmentos", explicou Pablo Damasceno Reis, conselheiro do Corecon-PA/AP.

O economista ressaltou que as variações nos preços da carne têm grande impacto na inflação, dado o peso do setor alimentício no índice geral. Ele também apontou fatores como a desvalorização do real e o aumento das exportações como motivos da alta.

Comparativo dos preços médios do kg da Carne Bovina, segundo alguns tipos de cortes, comercializada em supermercados de Belém nos últimos 12 meses, conforme pesquisa do Dieese/Pa

Cortes

- Carne Bovina (kg) -

Preços médios R$

Variação em 12 meses %

Dez/2024

Jan/2024

Dez/2023

File

 85, 12

 71, 57

 70, 42

20,87%

 

Alcatra

 46, 14

 41, 12

 39, 76

16,05%

 

Cabeça de lombo (patinho)

 43, 04

 36, 52

 36, 88

16,70%

 

Chã (coxão mole)

 43, 36

 36, 20

 36, 84

17,70%

 

Contrafilé

 47, 23

 42, 38

 43, 08

9,63%

 

Paulista (coxão duro)

 40, 66

 33, 38

 33, 63

20,90%

 

Picanha

 56, 15

 53, 17

 55, 16

1,79%

 

2º com osso (pá e agulha)

25,44

 21, 73

 22, 07

15,27%

 

2º sem osso (pá e agulha)

32,45

 28, 21

 29, 80

8,89%

 

 

 

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