Bioeconomia é uma das apostas do Pará para aliar desenvolvimento econômico com metas de preservação
Estado estima que, até 2040, a bioeconomia possa gerar cerca de R$ 30 bilhões em negócios, a partir de setores como a moda, cosméticos e a alimentação
O termo “Bioeconomia” entrou em voga nos últimos anos, quando passamos a nos referir a produtos que, preferencialmente, tenham sido forjados a partir de uma preocupação com a preservação ambiental, a sustentabilidade e a justiça social. Hoje, o Pará tem uma estimativa de que, até 2040, a bioeconomia possa gerar cerca de R$ 30 bilhões em negócios para o Estado, a partir de setores como a moda, cosméticos e a alimentação, entre outros. Segundo o secretário de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Mauro Ó de Almeida, a bioeconomia representa “uma nova fonte de emprego, de renda, além de um reencontro com o nosso passado, com nossa ancestralidade. Precisamos resgatar essa cultura com soluções econômicas para isso”, analisa.
De acordo com Ó de Almeida, o governo hoje atua na implementação do Plano Estadual de Bioeconomia, que prevê, por exemplo, a instalação do Parque de Bioeconomia, um conjunto de espaços voltados para ciência, inovação e tecnologia específicas para alavancar a bioeconomia. “Dentro desse parque, vamos ter um centro tecnológico, startups, a nossa Escola de Saberes da Floresta, o Museu da Bioeconomia, entre outros. Será, enfim, um ecossistema de ações que vão se complementar”, adiantou, acrescentando que a Escola de Saberes da floresta, o primeiro desses instrumentos, deverá ser instalado, ainda este ano, provavelmente em Santarém, no Oeste paraense, um dos pólos prioritários para a bioeconomia, segundo o Governo do Estado. Em seguida, deverá ser construído o Museu da Bioeconomia, ainda sem local definido.
Para o presidente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Eugênio Pantoja, o Pará avança para a criação de um novo pilar de desenvolvimento econômico, para além do agronegócio e da mineração. “O pilar da bioeconomia é uma grande oportunidade de negócios, pois o Brasil ainda exporta muito pouco nesse campo, e o Pará menos ainda. É preciso inserir o Pará e a Amazônia nesse negócio global, que cada vez mais aumenta. Com isso, vai ser possível desenvolver economicamente as populações tradicionais, como os ribeirinhos, os povos indígenas, os extrativistas e os agricultores familiares que estão nas florestas. Esse desenvolvimento econômico se compatibiliza com a floresta e, também, com os desafios climáticos globais que estão em voga”, argumenta.
A economista e professora da Universidade Federal do Pará, Larissa Chermont, que também presta consultoria nessa área, explica que o termo “bioeconomia” surgiu um pouco na onda que também trouxe à tona a valorização do mercado orgânico e das práticas sustentáveis. “Podemos dizer que os produtos da bioeconomia são aqueles que estão mais condizentes com o tomar conta do planeta. É bom que se torne também uma questão política, porque acaba chamando a atenção para o debate, mas o mais importante é saber quem serão os protagonistas desse discurso, porque, de fato, ele é dos tradicionais, dos indígenas, dos amazônidas, dos ribeirinhos. Esse saber e esse patrimônio são nossos, são deles. São essas pessoas que são os guardiões da floresta e, portanto, os potenciais prestadores de serviços ambientais”, analisa.
O negócio desenvolvido pela criativa Kátia Fagundes em parceria com uma família de Cotijuba, nos arredores de Belém, é um exemplo interessante de bioeconomia. A Da Tribo é uma marca de moda sustentável, desenvolvida a partir de fios e tecidos oriundos do látex extraído do seringal pertencente à família Magno, parceira da Kátia no empreendimento. “Essa família, que é dona dessa seringal, produz o látex e nós desenvolvemos juntos os biomateriais, que são os fios e tecidos. A partir deles, são produzidos colares, pulseiras, carteiras e mochilas. Nós respeitamos e apostamos no fazer da comunidade e nesse material tão maravilhoso, que é o látex, a cara da Amazônia. Não acreditamos na floresta em pé sem as pessoas que moram nela”, defende a empreendedora.
Mercado de carbono ainda carece de regulamentação
No campo da bioeconomia, a professora Larissa Chermont ainda chama a atenção para o mercado de carbono, que surgiu no bojo dessa discussão maior sobre bioeconomia. O mercado de carbono é, portanto, um mecanismo de troca, em que prestadores de serviços ambientais, que evitam a emissão de gases poluentes, entre os quais o carbono é o mais danoso ao meio ambiente, vendem os chamados créditos de carbono para empresas, países ou produtores que precisam compensar as suas emissões desses gases.
“Chegou-se à conclusão de que a não emissão de gases de efeito estufa, dos quais o carbono é o principal, poderia ser precificada, quantificada, então, determinou-se que cada tonelada de carbono não emitido viraria um crédito de carbono. Assim, o responsável pela manutenção da floresta em pé, por exemplo, é um provedor desse serviço ambiental para nós, para a sociedade, então, o provedor é o que oferece esse serviço. O comprador é o que está interessado em compensar as suas emissões, pode ser uma empresa que polui, por exemplo. A verdade é que o mercado voluntário de carbono já existe desde o final da década de 90 e é interessante tanto para quem vende, que está fazendo o melhor pela sua área, quanto para quem compra, que estimula e acompanha boas práticas ambientais. Hoje, as empresas, os países não querem mais investir em produtos que venham da destruição, então, para as empresas e países, é muito mais interessante investir em um prática sustentável”, analisa.
O secretário Mauro Ó de Almeida explica que o chamado mercado de carbono ainda não está regulamentado e o Pará trabalha, nesse momento, para fazer a sua própria regulamentação. Ao final desse processo, o Estado contará com uma agência própria, que vai transacionar a venda e o pagamento desses créditos de carbono em todo o nosso território. “O que está acontecendo hoje, no mercado voluntário, é um aumento significativo nos contratos bilaterais, ou seja, entre empresas, que oferecem e compram crédito de carbono, mas isso não conta para a nossa meta de reduções de emissões e de restauração florestal, então, por isso, é importante ter o mercado regulado”, detalha.
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