Batedores de açaí e barqueiros discutem medição dos paneiros de açaí após prejuízos
Paneiros com pesos adulterados causaram perdas financeiras a batedores que ameaçaram interromper funcionamento de Feiras

Barqueiros e batedores de açaí estiveram reunidos na noite da última sexta-feira (14), para encontrarem um consenso sobre as acusações de adulteração no peso dos paneiros de açaí. Os batedores denunciam um processo de capamento dos paneiros, como nomeiam a retirada proposital de parte do fruto dos recipientes a fim de vender mais paneiros com menos produto. Barqueiros ouvidos pelo Grupo Liberal confirmam que essa prática é real, mas não generalizam, segundo eles o que falta é fiscalização para todos e em todas as feiras ou pontos de coleta, o que inclui as ilhas de Belém.
Após a conversa entre as categorias, os barqueiros presentes aceitarão por maioria realizar a medição nas negociações com os batedores artesanais. Foram definidas duas equipes, responsáveis pela fiscalização dessa medição neste primeiro dia após o acordo, uma no início da noite e a outra madrugada adentro. No entanto, a fiscalização nos próximos dias ainda é incerta. O valor do paneiro que estava em R$ 110 também subiu para R$ 140 nesta noite.
As duas categorias esclarecem que a responsabilidade da fiscalização é da Secretaria Municipal de Economia (Secon), que deslocou alguns agentes para a reunião de hoje. A reportagem de O Liberal solicitou o posicionamento da Secretaria, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta. O espaço permanece aberto para manifestações sobre o tema.
A categoria dos batedores explica que o capeamento dos paneiros ocorre principalmente na entressafra, quando o fruto está mais caro, porque assim o lucro com a prática é maior. Nesse cenário, o prejuízo dos que comercializam o fruto em lojas da capital paraense também aumenta. Para o vendedor de açaí em Belém e liderança da classe Jhoy Rochinha Júnior a perda foi de R$ 600 em pelo menos uma das vezes, mas esse valor flutua conforme o preço do fruto que varia diariamente.
“Perdi 45 quilos numa compra de açaí, o meu açaí estava a R$ 35 reais, mas eu poderia ter vendido ele por R$ 24 reais, no período mais chuvoso, com a lata saindo por R$ 150. Nesse período eu comprei 24 latas e só veio 20, eu perdi 4 latas a R$ 150 reais, um prejuízo muito grande que eu tenho que passar para o consumidor no preço final”, explica Rochinha.
O efeito dominó que começa no paneiro com peso adulterado, passa pela perda de lucro dos batedores e termina em um açaí mais caro vendido aos consumidores locais é a principal crítica do movimento. Segundo o presidente da Associação dos Vendedores Artesanais de Açaí de Belém e Região Metropolitana (Avabel), Carlos Alberto, que também vende açaí na cidade, a intenção da reunião desta sexta à noite era a de chegar a um consenso. Mas, afirma que estavam dispostos a paralisar o funcionamento da Feira do Açaí, caso os barqueiros resistissem, o que não aconteceu.
Alberto detalha que o peso do paneiro é de em média 14 quilos e, segundo ele, já é o padrão utilizado na comercialização do fruto para grandes empresas. “Para o batedor artesanal não acontece a medição, só para a indústria, porque a indústria só compra se for pesado”, explica.
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Fiscalização para todos
Em entrevista ao Grupo Liberal, o barqueiro Maurício Tavares contou que a medição dos paneiros não é algo que a sua categoria se opõem, mas enfatiza que esse processo precisa ser assegurado para todos. Ele acrescenta também a necessidade da fiscalização em todas as feiras da cidade e nos pontos de coleta, a exemplo das ilhas de Belém. “Vai ter que medir aqui, vai ter que medir lá na beira (ilhas), porque não adianta medir o de um barco em uma semana e na outra semana não medir, porque volta a virar bagunça”, afirma.
Os barqueiros também reclamam da dificuldade com o lucro no atravessamento devido à falta de pesagem desde as ilhas. Tavares calcula as despesas para buscar o açaí entre R$ 16 mil a até R$ 20 mil por viagem. Os custos são com combustíveis, funcionários, equipamentos, entre outros, todos afetados pela logística complexa de acesso às ilhas. Nesse sentido, com o produto coletado sem fiscalização desde a sua origem, fica ainda mais desigual a arrecadação.
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