Espetáculo ‘Cobra Norato’ abre 24º Festival de Ópera do Theatro da Paz
Montagem reúne talentos paraenses e destaca sons e símbolos da floresta em produção com linguagem modernista

Neste sábado (26), o palco do Theatro da Paz será tomado por uma experiência sonora, cênica e inédita em Belém, por meio de uma obra que expressa sentimentos experimentados apenas na Amazônia. Trata-se do espetáculo "Cobra Norato - Terras do Sem Fim", baseado no poema homônimo de Raul Bopp, que acaba de ganhar sua primeira adaptação para ópera.
A estreia mundial de Cobra Norato acontece às 20h, na abertura do XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, um evento anual que celebra obras desse gênero teatral, o qual mistura canto, interpretação de personagens e orquestra.
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O enredo da ópera acompanha a jornada de um caboclo amazônida, que se aventura na floresta e enfrenta desafios para poder se casar com a filha da Rainha Luzia.
A cineasta e atriz Carla Camurati é a responsável pela direção do espetáculo, que começou a ser idealizado há alguns anos. Ela conta que o processo de adaptação do poema passou pelas mentes de grandes artistas até ser concebido como uma ópera.
“Quem mexeu no poema e estruturou foi Bernardo Vilhena, e André Abujamra a música. Ela é uma música belíssima, e o trabalho é delicado porque você precisar passar da linguagem de um poema para a ópera. Então o trabalho foi encontrar um caminho dramático que tem dentro do poema e depois achar qual era a dramaturgia de música que a gente precisava para contar essa história”, explica a diretora.
Identidade paraense na ópera
De acordo com Carla, a ópera tem uma linguagem modernista, pois é inspirada nesse movimento artístico que teve forte impacto na cultura brasileira na década de 1920. Ela também destaca a força dos artistas paraenses, já que 80% dos solistas que integram a ópera são paraenses — os quais dão um toque especial à obra.
“Nós trabalhamos com corpos artísticos de Belém, os quais foram muito importantes para a construção de Cobra Norato. Porque quando você está fazendo uma ópera inédita, você não tem referência. Então, já que o nosso conteúdo é 100% amazônico, foi muito importante que as suas raízes também estivessem na ópera”, ressalta Carla.
Ainda sobre o trabalho dos artistas paraenses, a diretora destaca que instrumentos regionais foram inseridos no corpo musical do espetáculo, o que garante um toque amazônico ainda mais forte à apresentação.
“Musicalmente, o fato de a gente ter criado a ópera aqui fez com que uma série de instrumentos locais entrassem dentro da partitura do espetáculo. Então nós temos o grupo de percussão que está conosco na orquestra, e é maravilhoso, porque são sons que você nunca imaginou ver junto com uma orquestra”, esclarece Camurati.
A produtora de Cobra Norato, Bianca De Felippes, afirma que o desenvolvimento da ópera em Belém também representou uma imersão na cultura e no folclore da cidade, o que acrescenta ainda mais riqueza artística ao espetáculo.
“A gente foi descobrindo coisas, quando fomos à igreja de Nossa Senhora de Nazaré, e aí entendemos que a cabeça do Cobra Grande está enterrada lá, e que o corpo da cobra grande é onde passava a procissão do Círio de Nazaré. São tantas coisas que a gente não conhecia e fomos conhecendo durante esse processo, que foi muito rico, e a gente quer que essa ópera vá para muitos lugares — e a estreia mundial vai ser aqui”, pontua.
A proximidade da chegada da COP 30, em Belém, traz à tona debates sobre o meio ambiente — tema que também está presente no espetáculo. De acordo com a diretora Carla Camurati, o enredo possui uma mensagem importante sobre o futuro da Amazônia.
“A gente criou um prólogo, e ele é um pouco do nosso sentimento com relação à Amazônia e ao que está acontecendo nela. Ele não faz parte do libreto Cobra Norato terras do sem fim, faz parte das nossas vidas, faz parte do que nós estamos sentindo. Como a Amazônia, apesar de todos os esforços que a gente vem empreendendo, ainda vive momentos muito duros de devastação, a gente quis marcar isso antes de entrar nesse lado maravilhoso, encantado e onírico que a gente tem dentro da ópera”, conta.
Camurati conclui exaltando Belém e afirmando que se sente honrada em estrear a peça em um festival de ópera tão importante
“Foi importante erguer pela primeira vez essa ópera, porque quando se faz um clássico, você tem muitas versões para se basear, para os cantores se inspirarem, mas essa ópera é ‘virgem’, nós somos a primeira montagem dela, e foi muito importante que essa estreia acontecesse justo aqui em Belém, no Theatro da Paz, e abrindo o 24º Festival de Ópera”, enfatiza.
"Cobra Norato - Terras do Sem Fim" estará em cartaz no Theatro da Paz nos dias 26, 27, 29 e 30 de abril, sempre às 20h. A ópera tem direção artística de Carla Camurati; trilha sonora de André Abujamra; regência do maestro Silvio Viegas; direção de arte de Batman Zavareze; figurinos assinados por Ronaldo Fraga; iluminação de Wagner Pinto; e produção de Bianca De Felippes.
Sobre a origem de Cobra Norato
Cobra Norato é uma lenda folclórica amazônica que conta a história de uma serpente encantada que vive no rio e tem o poder de se transformar em humano. Esse conto inspirou o poema de Raul Bopp (1931), considerado um dos mais importantes artistas do movimento modernista brasileiro.
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