Drag, o quê? Pesquisadoras levam discussões de gênero, sexualidade e performance para Universidades

Em Belém do Pará a Themônia Rubi da Bike e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul a Drag Luná Maldita, são alguns exemplos de pesquisadoras que estão produzindo academicamente sobre este universo artístico, político e social

Ellen Moon D'arc
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A arte da performance, onde está contida a arte Drag, também é utilizada para as pesquisas científicas, como objeto de pesquisa na acadêmica e artifício nos corpos dos pesquisadores. Em Belém do Pará, a Themônia Rubi da Bike e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Drag Luná Maldita, são alguns exemplos de pesquisadoras que estão produzindo academicamente sobre este universo artístico, político e social.

Rubi da Bike é uma Themônia performada por Ana Paula Gomes, formada em História pela Universidade do Estado Pará (UEPa). Entre as áreas de conhecimento desta ciência uniu os temas que ela tinha interesse na pesquisa do TCC e estudou o movimento sociopolítico-cultural das Themônias. "Nesse trabalho falei muito sobre trajetórias e 'pra' isso precisei entrevistar e participar de vários eventos, com isso fui me inserindo dentro do movimento e da Haus of Carão, o contato com elas e esse acolhimento me fez descobrir enquanto uma themonia também", relembrou a sua própria descoberta.

"A Rubi da bike surge dentro desse processo de escrita e 'pra' mim ultrapassou os muros da academia e da produção científica e me ajudou a definir o caminho que eu queria seguir profissionalmente. Afinal, se queria continuar na carreira acadêmica e agora estava em um momento da minha vida com algo que me atravessava muito, como eu poderia contribuir de alguma forma para o movimento? Fazendo o que eu mais sei fazer, estudar e produzir sobre", completou.

image Rubi da Bike é performada por Ana Paula Gomes. (Reprodução / Matheus Carneiro)

Sobre as produções acadêmicas, Ana Paula acredita que até 2023 as produções se atualizaram e se abriram para as perspectivas, no entanto, ainda há resistências dentro das universidades e encontrar um orientador/a/e para embarcar nessas pesquisas, também é desafiador. "Temas sobre gênero, sexualidade e afins ainda encontram uma certa resistência dentro da universidade. Para quem quer pesquisar esses temas é uma batalha encontrar um orientador/orientadora, porque ainda são poucos pesquisadores nessas linhas de pesquisa e ainda há também uma resistência de validar esses temas enquanto produção científica", afirmou.

“"É extremamente importante demarcar o meu lugar ali enquanto pesquisadora e themonia. Mostrar que aquilo que estou produzindo junto de outras Themonias também é produção de conhecimento. [...] Atualmente estou concluindo mestrado em Educação e Cultura na UFPa, e minha linha de pesquisa dentro do Programa é Cultura e linguagens, foi onde pude agora alinhar junto da minha vivência enquanto artista-themonia a minha vivência enquanto professora", concluiu.

Estar pesquisando o movimento que faz parte, também a fez se questionar, disse Ana. Destacou também outres pesquisadores que usa como referência e se inspira. "Outres pesquisadores Themônias que indico sem dúvida nenhuma é o Juliano Bentes, meu pai da Carão Skyyssime. Produzimos conhecimento juntos e ele é uma grande referência pra mim dentro do fazer científico na academia. Gabriela Luz também tem um trabalho importantíssimo e agora está na área da educação. Em outras áreas de conhecimento falando especificamente sobre Themonias tem Emanuele Corrêa, Leonardo Botelho, Allyster Fagundes são trabalhos que com certeza vale a pena conferir e são minhas referências para a minha dissertação", finalizou.

 

Drags que pesquisam e escrevem sobre Drags

A pesquisadora Luná Maldita é performada por Douglas Ostruca, que é uma pessoa não binária. Formade em Cinema, mora em Porto Alegre desde 2017, onde faz doutorado em comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e sua pesquisa se situa nos estudos do corpo em perspectiva semiótica. "Estou investigando as montações transformistas de artistas com mais experiência em Porto Alegre, ou seja, aquelas com cerca de 30 anos de carreira", esclareceu.

Assim como Ana Paula com a Rubi da Bike, Luná vem dos atravessamentos da pesquisa de Dougas. "Meu processo de montação também é atravessado pela pesquisa e faz parte da pesquisa ao mesmo tempo que tem desdobramentos na minha vivência pessoal. Para mim as montações são territórios e forças que atravessam o corpo. Atualmente venho me compondo em relação com as montações de Luná Maldita, LaLola Nebulosa e Leander Magrão, as quais embora se expressem também como personas, fazem parte do processo de produção da subjetividade que atravessa este corpo", detalhou.

"O interesse pela pesquisa começou na graduação com o TCC. Em paralelo aconteceu a ocupação do centro de artes lá da UFPEL e foi aí que Luná Maldita nasceu com esse nome, sendo batizada por Degenerik Maldita. Essas duas coisas, um encontro com a teoria e a vivência da montação mexeram muito comigo e eu decidi propor um projeto de pesquisa sobre audiovisuais de 'Drag Queens publicados no YouTube' o que virou a minha pesquisa de dissertação chamada 'Tutoriais em desmontação: uma cartografia de corpos eletrônicos drag na plataforma do YouTube', contou incluindo que após conclui o mestrado, decidi propor o projeto de pesquisa de doutorado com enfoque para o movimento transformista. Elu escreve para o "Grafia Drag", na UFRGS.

Para acompanhar Ana Paula Gomes/Rubi da Bike e Luná Madita é só segui-la no Instagram @gomespaula_ @rubidabike e @profa_maldita. A iniciativa da coluna "Drag, o quê?", é do Grupo Liberal com Ellen Moon D'arc e tem o apoio do Coletivo NoiteSuja, La Falleg Condessa, Lenny Gusmão (Lenny Laces) e da designer de unhas, Rubi Coelho. Para ficar por dentro de outros conteúdos ou sugerir pautas, é só seguir no Instagram @dragdelua.

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