Drag, o quê? Conheça a cultura ‘Ballroom’ e como ela chegou em Belém e no Pará

‘Cultura Ballroom’ é a última temática da série de três reportagens da coluna, intitulada ‘Famílias Drags’

Ellen Moon D'arc
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"Cultura Ballroom" é a última temática da série de três reportagens da coluna, intitulada "Famílias Drags". Enquanto movimento sócio-político-cultural surgiu em 1960, a partir da luta da ativista norte-americana e travesti preta Crystal LaBeija, ao criar uma ball (ou baile) para pessoas pretas. No Brasil e, principalmente, na cena paraense, a ballroom também se adaptou à cultura local e é mecanismo de troca de afetos, resistências, reivindicação e denúncia. As Themonias e performers da dança, unem-se à cena contemporânea.

O movimento norte-americano deriva das "Drag Balls" de 1920/30, no Harlem (EUA). Contudo, só privilegiava pessoas brancas. As pessoas pretas não tinham lugar ou precisavam clarear seus rostos para tentar alguma competitividade. Por isso a figura de Crystal é tão emblemática e sua fala é repercutida mundialmente: “I have the right to show my color, darling. I am beautiful and I Know I’m”, que em português pode ser traduzido para “Eu tenho o direito de mostrar a minha cor, querida! Eu sou linda, e eu sei que sou linda!”, dizia contestando a mesa de jurados.

Denunciando o racismo da época, ganhou fôlego na década de 70 e se tornou um movimento que celebra as diversidades dos corpos pretos, periféricos, trans e travestis. Símbolo de luta e resistência, preta, latina e LGBTQIAP+. Na década de 80, com os aumentos de casos de pessoas vivendo com HIV/Aids, essas balls e estruturas de Haus não eram apenas espaços de manifestação artística/política. Tornou-se, de fato, espaço de acolhimento para essas pessoas, que estavam em vulnerabilidade social, fugindo das violências. Assim surgiram as "Casas" ou "famílias" como conhecemos atualmente.

image Arthur Frederico ou Bacu, na Ball da Haus of Carão. (Reprodução / Edson Palheta)

Cena Ballroom e Themônia

A artista Rafaela Magalhães performa a Drag Themônia Coytada e é mãe da Haus of Carão. Compartilha e reforça os pilares da ballroom e no último dia 6 de maio junto com sua família produziu a primeira ball da Haus. "Três pilares principais que são: questões de gênero e sexualidade, houses e os eventos. Nós já aplicávamos a ballroom nas nossas vivências. Entramos no universo e começamos a também produzir bailes, e isso afeta diretamente nossa arte, pois ballroom não se trata apenas de Drag, é sobre vivência, acolhimento, pertencimento e dignidade para corpos pretos e LGBTQ+ (especialmente pessoas trans e Travestis). Conversa com o que já estávamos construindo aqui na Amazônia com a arte Themônia, e essa transculturação só tem a agregar e cria a possibilidades de acessar novos corpos e acolhê-los. Dando voz principalmente para pessoas trans e Travestis, que foram precursoras tanto da arte Themônia quanto da cultura ballroom", completou.

Matheus Carneiro também é Themônia, Dj e produtor da Haus of Carão e DJ residente na Endoida Produções. "Várias filhas já estavam na cena Ballroom da cidade. Vimos a necessidade de inserir toda a Haus, o movimento Ballroom de Belém precisa de uma visibilidade maior. Existem potências de artistas que precisam ser vistos, e encontramos aí uma grande oportunidade de aproximar o movimento Themonia do movimento Ballroom, queríamos que nossas irmãs Themonias estivessem junto, porque quando se fala de 'house' de ballroom e 'haus' de Themonia acaba sendo tudo muito parecido, no final é sobre afeto, sobre acolhimento sobre família", declarou sobre organizara a ball.

image Haus of Bayonetta. (Reprodução / Divulgação)

O Voguing, performances e resistências na Amazônia

A Renato Lopes, 33 anos, é mãe da House of Bayonetta e também se chama Rená Bayonetta. A house surgiu em 2019, junto com o movimento "Belém is Burning"; ensinavam sobre a cultural, balls e faziam treino de dança, em parceria com o espaço do Mirai Centro de Movimento. Em 2019 surgiu a ball e em 2020 a Bayonetta nasceu como house. Existem várias categorias, conta Rená. Runway (desfile), Face (rosto), Sex Siren (sedução), Bizarre (monstruosidade) e Vogue Performance (dança) entre outras.

"A Casa das Bayonettas é isso, uma Casa de pessoas que se amam e se ajudam para além de uma Ball ou competição. O objetivo não é acumular prêmios e sim nos unirmos, nos fortalecermos, celebrarmos essa cultura, além de espalhar e ensinar a Ballroom e a dança pela nossa cidade promovendo eventos e Balls, como a já tradicional da nossa Casa, as Balls de Halloween!", disse.

"A dança já surgiu em meio a esse movimento por causa das revistas Vogue. As pessoas se inspiravam nas poses das modelos e começavam a performar como se fossem elas. Isso foi se desenvolvendo na corporeidade da comunidade e criando forma, hoje conhecemos como o estilo de dança Vogue, que tem várias vertentes e elementos característicos (Oldway, New Way, Femme Soft and Cunt, Femme Dramatics)", contou.

Arthur Frederico, 29 anos, também é a Drag Themônia Bacu Rabazônia da Haus de Carão. Entrou na cena por meio dos treinos abertos da Belém is Burn. A cena é muito atual e ganhou o Pará, desde se tornou “Ballroom Pará”, devido a participação de outras cidades paraenses. "A cena Ballroom em Belém teve formação em 2019 pelo projeto Belém Is Burning, organizados por Rená Bayonetta, Rodrigo Pará e Rafa Prada. Com o passar dos anos, houve encontros que não foram organizados pelo projeto. Com isso, foram criando as Haus (Casas), como a antiga Haus of Maniva, Haus of Bayonetta, Casa das Madres, Haus of Meireles e Haus of Carão. Assim como na cena foram surgindo os '007' (pessoas que não tem Haus e que atuam na cena de maneira independente", explicou.

"Hoje, temos treinos abertos proporcionados pela Casa das Madres, aos sábados, em Ananindeua, na Avenida Dom Vicente Zico. O treino é aberto e é totalmente gratuito ao público, quem quiser participar. E também pode ficar de olho nos perfis das Haus que possam promover encontros, bailes, roda de conversa e afins", concluiu.

Para acompanhar as entevistadas é só seguir no @hausofcarao @bacurabazonia  @coyrada_ @carneiromath @errieli. A iniciativa da coluna "Drag, o quê?", é do Grupo Liberal com Ellen Moon D'arc e tem o apoio do Coletivo NoiteSuja, La Falleg Condessa, Lenny Gusmão (Lenny Laces) e da designer de unhas, Rubi Coelho. Para ficar por dentro de outros conteúdos ou sugerir pautas, é só seguir no Instagram @dragdelua.

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